Mulheres representam apenas 28% das pesquisadoras no mundo

Nas ciências exatas esse número é ainda mais alarmante: cerca de 5% dos acadêmicos com doutorado são mulheres. A astrofísica Larissa Santos é doutora em Cosmologia e professora na Universidade de Yangzhou, na China.

 

De acordo com os dados divulgados no último relatório da Unesco, agência da Organização das Nações Unidas (ONU), as mulheres representam apenas 28% dos pesquisadores no mundo e a diferença aumenta ainda mais em função de gestão. Nas ciências exatas, a disparidade aumenta: menos de 20% na graduação e 5% em doutorado, segundo o relatório da Elsevier intitulado “A jornada do pesquisador através da lente de gênero”.

 

Larissa Santos faz parte dos 5% de doutoras estudiosas das ciências exatas. Formada em Física pela Universidade de Brasília (UnB) e doutora pela Universidade de Roma “Tor Vergata”, a astrofísica é professora no Centro de Gravitação e Cosmologia da Universidade de Yangzhou, na China, há 10 anos, onde estuda com profundidade a radiação cósmica, elemento do universo primitivo que estamos imersos.

 

“Seu estudo nos traz informações sobre momentos muito antigos, antes da formação dos primeiros objetos, quando o universo ainda era uma espécie de plasma quente e denso. Nesse contexto, participo de um radiotelescópio chinês que está sendo construído em Ali no Tibet com intuito de estudar essa radiação primitiva e os primeiros instantes de universo”, explica a cientista.

 

Além do trabalho como pesquisadora científica, a professora também compartilha experiências e conteúdos sobre astrofísica nas redes sociais (@bariogenese). No instagram, Larissa já possui mais de 27 mil seguidores, curiosos sobre astrofísica e o campo da Cosmologia, além de somar cerca de XXX interações nas publicações. Mesmo com os avanços da participação feminina na ciência, a cosmóloga avalia que mulheres continuam sub-representadas na comunidade científica no mundo todo, como no Brasil e na China.

 

“Na Academia Chinesa de Ciências, as mulheres representam apenas 6%. No Brasil não é tão diferente: as cientistas são apenas 11%. Esta desproporcionalidade não só destaca a disparidade de gênero em curso nas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), mas também mostra a perda de inovação e soluções que as mulheres podem oferecer. Abordar este desequilíbrio na ciência não é apenas uma questão de justiça, trata-se de enriquecer a comunidade científica com diversos ‘insights’ que podem levar a descobertas inovadoras. Minha experiência de trabalho na China, cercado por mentes brilhantes de todo o mundo, ressalta a importância da diversidade na busca pelo conhecimento”, conta Santos.

 

Segundo a brasiliense, colaborações internacionais, como Brasil e China, não apenas promovem uma melhor compreensão do universo, mas também criam oportunidades para mulheres desempenharem papéis de liderança na ciência: “Eu tive muitas oportunidades na China. Tenho total apoio do meu Instituto, sendo membro-chave de uma parte da análise de dados do AliCPT”, completa – a acadêmica também foi contemplada com um prêmio da Academia Chinesa de Ciências e três bolsas da Fundação Nacional de Ciências da Natureza da China – “Ainda somos poucas. No meu instituto, somos apenas 3 professoras entre 16 homens”, conclui.

 

Livros

 

O trabalho de Larissa na ciência segue também no campo literário. A astrofísica já publicou dois livros de divulgação científica que visam desmistificar a cosmologia e o empreendimento científico para o público não especializado. O mais recente, lançado este ano, chama-se “De onde surgem as grandes ideais?”, onde explora alguns fatores importantes para que as pessoas possam ter boas ideias, além do tão sonhado e idealizado momento “eureca”, utilizando o que se aprende ao longo da história – principalmente, ao longo da história da ciência. A autora também integra um projeto da Universidade de Brasília, que leva ciência a meninas de regiões vulneráveis da cidade, chamado Eureka: meninas na física.

 

Mais Sobre Larissa Santos

 

A autora de “De onde surgem as grandes ideias?” mora na China há 10 anos.

 

Inicialmente, Larissa mudou-se para o país oriental, com o objetivo de fazer seu pós-doutorado, no departamento de astronomia na Universidade de Ciência e Tecnologia da China (USTC) – uma das mais bem conceituadas do país. “Trabalhar na China tem sido uma grata surpresa. Para além da pesquisa, as trocas culturais e de experiências têm sido transformadoras, me proporcionando aprendizados diversos que refletem até mesmo na minha paixão pela divulgação científica”, enfatiza.

 

Larissa se destaca no campo da Cosmologia, o ramo da ciência dedicado ao estudo e observação da evolução do universo como um todo. A astrofísica se concentra especificamente no estudo da radiação cósmica de fundo, um vestígio do universo primitivo que permeia todo o universo. As informações extraídas dessa radiação são de fundamental importância para a cosmologia, pois é através delas que se desenvolve os modelos de evolução do universo.

 

A radiação cósmica de fundo foi descoberta em 1965 e é essencial para se entender o universo. Larissa utiliza telescópios avançados para medir essa radiação, permitindo insights sobre a formação inicial e a expansão subsequente do cosmos.

 

Apesar de seu trabalho pioneiro, Larissa faz parte de um grupo ainda pequeno de mulheres na ciência brasileira, visto que a Academia Brasileira de Ciência conta com apenas 11% de mulheres em seus quadros, refletindo a necessidade de maior inclusão feminina nesta área tão fundamental.

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