Mercado financeiro vê risco em relação à política fiscal do governo, o que levou a moeda americana ao maior valor em 18 meses
O dólar voltou a disparar no mercado à vista na manhã desta quarta-feira (12), cotado aos R$ 5,43, em alta de 1,29%. Trata-se do maior valor em 18 meses, quando a moeda americana atingiu os R$ 5,47, no dia 4 de janeiro de 2023. Às 13h40, a divisa americana estava cotada a R$ 5,38, em alta de 0,41%.
O Ibovespa, abriu o dia em alta, passou a cair e chegou a mínima do ano, abaixo de 120 mil pontos.
A alta do câmbio e a queda da Bolsa ocorre em meio ao discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que destacou que o governo está “colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal”, mas que “não consegue discutir economia sem colocar a questão social na ordem do dia”.
O governo federal está pressionado para reduzir gastos em um momento de dificuldade para aumentar a arrecadação. Na noite da terça-feira (11), o Senado Federal devolveu a Medida Provisória (MP) que restringia a compensação de créditos do PIS/Cofins em contrapartida à perda de arrecadação com a desoneração da folha de pagamentos. A medida poderia aumentar a receita federal em R$ 29,2 bilhões.
Para uma plateia de investidores durante o evento do Future Investment Initiative (FII) Institute, organização sem fins lucrativos apoiada pelo FIP (fundo soberano da Arábia Saudita) e 30 empresas globais, o petista disse ainda que o Brasil detém as melhores condições climáticas e energéticas para a atração de investimentos e disse que o mercado “não é uma entidade abstrata apartada da política e sociedade. Não se sustenta sem estabilidade política e social.”
Movimento da Bolsa
Já o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, passou a cair, cedendo para o mesmo nível visto em 13 de novembro do ano passado (mínima aos 119.878,23 pontos). Por volta das 12h30, o IBOV registrava queda de 1,37%, aos 119.973,08 pontos, refletindo o crescimento das preocupações fiscais.
O diretor de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, avalia que, além da incerteza sobre a sinalização do Federal Reserve (Fed) e os juros nos EUA, o ruído político envolvendo governo e o Senado reforça a cautela local com o quadro fiscal em meio à indefinição sobre as fontes de compensação para a manutenção da desoneração da folha de pagamentos de empresas de 17 setores e de municípios menores.
Além disso, segundo ele, o Senado ficou responsável pela definição das fontes de compensação à desoneração, à medida que a equipe econômica não tem plano B, o que apoia desgaste de Haddad. “O diálogo entre governo e o Congresso não é bom e gera cautela política, a pauta fiscal está parada no Congresso. Isso traz desconforto”, diz.
Cotação em disparada
O dólar vem em uma trajetória de alta há algum tempo, um movimento que se acentuou nos últimos pregões. Segundo dados levantados por Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, o real tem a terceira maior desvalorização frente à moeda americana no ano. O dólar acumula uma alta de 11,38% no ano em relação à divisa brasileira. Apenas o peso da Argentina e o iene do Japão têm desvalorizações maiores em 2024.
O movimento de valorização no ano reflete o comportamento dos investidores em busca de proteção em meio às dúvidas sobre o início do corte de juros nos Estados Unidos, mas nas últimas semanas o risco fiscal no ambiente doméstico ajudou a impulsionar ainda mais a alta.
Aos poucos, o mercado deixa de acreditar que o câmbio encerre o ano na casa dos R$ 5, como previa inicialmente o Boletim Focus na virada de 2023 para 2024. A edição mais recente, publicada nesta segunda-feira (10), traz uma projeção de R$ 5,05 para o fim do ano, mas há quem esteja ainda mais pessimista.