Como o grande medo do novo governo de Donald Trump nos EUA pode impactar a economia brasileira

Segundo analistas, políticas propostas pelo republicano podem provocar efeito na valorização do dólar, na pressão inflacionária e na alta dos juros

 

A vitória de Donald Trump, que conquistou o segundo mandato de presidente dos Estados Unidos nesta terça-feira (6), deve trazer mais desafios para a economia brasileira. Segundo analistas, as políticas propostas pelo republicano podem provocar um efeito na valorização do dólar, na pressão inflacionária e na alta dos juros.

“A vitória contundente de Donald Trump, acompanhada pelo fortalecimento significativo dos republicanos, reforça a percepção de um cenário marcado por políticas mais protecionistas e uma tendência de aumento da pressão inflacionária, o que pode resultar na elevação das taxas de juros nos Estados Unidos”, afirma Gesner Oliveira, sócio da GO Associados e professor da FGV.

Segundo ele, a expectativa é de que isso leve a um fortalecimento do dólar e, por consequência, a uma desvalorização das moedas de países emergentes, incluindo o real.

No Brasil, explica, essa conjuntura externa projeta uma pressão sobre a moeda local, elevando as expectativas de desvalorização do real e, por tabela, aumentando a pressão inflacionária. “Esse contexto reforça a necessidade de uma política fiscal mais rigorosa e cuidadosa com o equilíbrio das contas públicas, para controlar a inflação e evitar aumentos significativos nas taxas de juros”, acrescenta.

A moeda norte-americana registrou recuo de 1,82% em novembro, mas, no ano, acumula ganhos de 16,95%. Nesta semana, a expectativa do mercado é que o governo federal anuncie pacote de corte de gastos, para manter as contas públicas dentro do arcabouço fiscal.

No mesmo dia da vitória de Trump, o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, anunciou aumento de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros, a Selic, que passou de 10,75% para 11,25%. Os juros altos combatem a alta dos preços, mas dificultam o crédito, afetando a atividade econômica.

Investimentos

Para o professor Diogo Carneiro, da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), o desfecho da eleição norte-americana pode trazer diversas consequências para o Brasil, sendo algumas delas mais diretas e imediatas e outras mais indiretas e com desdobramentos de longo prazo.

O possível aumento na taxa de juros norte-americana também seria ruim para o Brasil, enquanto atrairia divisas internacionais para títulos do governo americano, contribuindo para minguar investimentos em outras partes do mundo, sobretudo mercados emergentes como o Brasil.

“Ou seja: do ponto de vista do investidor, é melhor deixar o dinheiro ‘emprestado’ para o governo norte-americano a uma taxa de juros alta do que investir no Brasil, que é considerado muito mais arriscado. Isso deve prejudicar investimentos no Brasil e tornar o dólar mais caro”, explica Carneiro.

Ele destaca ainda que a imposição de tarifas “lineares” de importação afetará as vendas do Brasil para os EUA, e isso deve ser particularmente ruim para as commodities (e os EUA são um importante mercado para o Brasil).

“Ainda que não haja expectativa de que um governo Trump adote medidas diretas contra o Brasil, as possíveis medidas adotadas devem prejudicar o país indiretamente. Isso deve ocorrer por meio de restrições nas importações norte-americanas, de efeitos na taxa de câmbio e também pelo arrefecimento do mercado internacional global, além do enfraquecimento de relações multilaterais”, acrescenta.

Pressão inflacionária

O entendimento de que vitória de Trump tende a fortalecer o dólar no longo prazo também é defendido por Fernando Moulin, partner da Sponsorb, professor e especialista em negócios e transformação digital.

“O câmbio deve aumentar, o que traz mais pressão inflacionária e também, por outro lado, faz com que o governo, economicamente, tenha que trabalhar mais forte seus fundamentos para poder evitar que o dinheiro, que vai para os mercados emergentes, fuja dos capitais, isso é importante para fechar as contas públicas”, afirma Moulin.

Ele diz que é possível imaginar, em termos de balanço de comércio exterior, não haver tanta mudança, uma vez que os Estados Unidos, historicamente, a despeito de republicanos ou democratas, tendem a ter uma agenda econômica ou comercial muito pragmática. Nesse sentido, o Brasil é um grande parceiro comercial de alguns produtos, sobretudo do agronegócio, avalia o analista.

“Vemos uma valorização do dólar contra moedas dos países emergentes, a valorização do bitcoin e das criptomoedas porque foram defendidas publicamente por Trump. Portanto, é um cenário com muito espaço para desdobramentos”, acrescenta.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Times.

anúncios patrocinados
Anunciando...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.