Pesquisa identificou 1.770 anúncios que divulgavam conteúdos sobre programas do governo com falsas promessas de dinheiro
A divulgação de conteúdos falsos sobre as novas regras do Pix, revogada em janeiro pelo governo federal, teria sido favorecida pela Meta (dona de Facebook, Instagram e WhatsApp), mostra um estudo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). A pesquisa, que analisou 1.770 anúncios com conteúdo fraudulento durante 12 dias, aponta um possível lucro por parte da big tech a partir do impulsionamento de anúncios sobre uma falsa taxação do Pix.
“Após a revogação da norma sobre o envio de informações sobre transferências via Pix à Receita Federal pelo governo, o volume de anúncios fraudulentos encontrados aumentou e houve uma mudança também no teor dos conteúdos, que passaram a incentivar e explorar ainda mais a desconfiança contra ações do governo”, diz o estudo.
Em nota, a Meta afirmou que “atividades que tenham como objetivo enganar, fraudar ou explorar terceiros não são permitidas nas plataformas”. A empresa afirmou, ainda, que está “sempre aprimorando a tecnologia para combater atividades suspeitas”. Por fim, recomendou que as pessoas denunciem conteúdos que acreditem ir contra os padrões da comunidade do Facebook, do Instagram e os padrões de publicidade da Meta.
A circulação de conteúdos enganosos ganhou destaque após uma regra da Receita Federal estabelecer que instituições financeiras teriam de informar o Fisco sobre movimentações com Pix que passassem de R$ 5.000 por mês, no caso de pessoas físicas, e R$ 15 mil, para pessoas jurídicas.
O ato, revogado em 15 de janeiro, foi alvo de uma onda de notícias falsas e de desinformação. A norma da Receita não tratava de tributos, mas sim, da ampliação do monitoramento de transações financeiras.
No estudo, os pesquisadores apontam como anunciantes exploraram indevidamente políticas públicas voltadas à inclusão financeira para aplicar golpes em brasileiros por meio do impulsionamento de anúncios nas plataformas da Meta. Os conteúdos, divulgados nas plataformas da empresa, divulgavam programas governamentais reais e falsos, se passavam por páginas de instituições públicas e privadas e manipulavam a imagem de políticos com Inteligência Artificial.
“No Brasil, plataformas digitais seguem permitindo que anúncios com fraudes e irregularidades diversas circulem livremente, aumentando seus lucros, mas impactando milhões de pessoas”, diz o texto da pesquisa.
Crescimento de conteúdos fraudulentos
Com o movimento, opositores do governo também iniciaram uma campanha contra a medida em suas redes sociais. De acordo com a pesquisa, parlamentares investiram R$ 18 mil no direcionamento de anúncios nas plataformas da Meta com mensagens contra a medida do governo.
Em meio à crise, o número de golpes e fraudes em anúncios da Meta cresceu 35,4% após a revogação das novas regras pelo governo. Na época, a divulgação de informações falsas gerou repercussões negativas ao governo Lula, que tentou contornar a situação, mas sem sucesso. Das publicidades analisadas, 95,5% divulgavam supostos direitos a saques, prometendo a liberação de dinheiro mediante pagamento prévio de uma taxa de serviço ao governo.
Além da falsa taxação do Pix, os anúncios também abordavam o serviço Valores a Receber, oferecido pelo Banco Central para auxiliar pessoas físicas e jurídicas a resgatarem quantias de dinheiro esquecidas em instituições financeiras.