Mostra artística transforma o olhar sobre a cidade. Festival Marco Zero, de 23 a 30 de agosto

Com fomento do FAC – Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, três Regiões Administrativas recebem atuações artísticas em nova edição do

Marco Zero – Festival de Dança em Paisagem Urbana

Mostra de performances contemporâneas em espaços públicos de grande circulação

Centros e espaços urbanos da cidade monumento, Brasília, além de Taguatinga e Ceilândia, servirão de cenários e palcos para a atuação de artistas cujos trabalhos alteram o olhar cotidiano das pessoas sobre estas localidades. A programação, que pode ser conferida aqui – www.marcozerobrasilia.com, inclui ainda uma oficina e rodas de conversa, após duas apresentações.

Mais que deslocar o sentido de edificações, praças, ruas e quadras residenciais como meros espaços de circulação, o Marco Zero, que chega à sua 5ª Edição entre os dias 23 e 30 de agosto, tem por objetivo atrair a atenção para o fazer artísticos e a apropriação cultural da cidade.

Após um intervalo de sete anos, com sua edição anterior realizada em abril de 2017, “reelaboramos alguns conceitos do festival e, mais do que realizar coreografias em lugares específicos e manter esse recorte conceitual, o objetivo desta 5ª Edição tem como foco questões mais sensíveis ao social”, discute a idealizadora Marcelle Lago. Um breve histórico do Festival e extenso registro fotográfico estão disponíveis em uma revista, disponível em www.marcozerobrasilia.com/revista.

Neste sentido, a linha curatorial desta edição do Marco Zero – Festival de Dança em Paisagem Urbana buscou abordar questões relacionadas à contemporaneidade. A fim de apresentar temas, que na atual conjuntura política, cultural e social estão mais presentes, como meio ambiente, temática feminina, as culturas LGBTQIAPN+, negra e indígena, a infância e, claro, arquitetura.

Ao todo, serão apresentadas 12 intervenções distintas, dentre elas Rio, novo tempo e minhas mães, sobre a dissidência de um corpo transgênero e cultura de teatro de terreiro; Garota Crossfit, uma provocação, por meio da arte Drag, que cria diálogos com espaços masculinizados e que ainda passam por lógicas de assédio e machismo; e Valia +, obra que questiona sensações, alívios e tensões sobre um universo competitivo, estressante, com poucas opções de crescimento, que é o mercado de trabalho dos motoboys.

Somam-se ainda Lourença, que versa acerca da solidão e conflitos existenciais de uma mulher de meia idade; Muralha Antifa, um ato político orquestrado por canções da MPB; e Ané das Pedras, que fala de ancestralidade.

A cidade assistirá também Negrito, uma ênfase ao quanto os corpos pretos precisam se reafirmar e, ao mesmo tempo, a singularidade que carregam; Salubá, hoje é meu dia de nascer de novo, a qual leva o público a refletir sobre a vida, a superação da binariedade e a imersão no corpo como templo de divindades; e Pendurada, um protesto pelos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Philips.

Por fim, Show Case, que evidencia as poéticas nos corpos pretos e LGBTQIAPN+; Ruínas, que constrói um contraponto entre o corpo que se molda no espaço e desafia a rigidez da estrutura, que ora oprime ora acolhe; e Matrizes, onde a filosofia da capoeira de angola vai de encontro com a dança breaking.

Ao alcançar mais uma edição, o Marco Zero “induz a corporificar Brasília, Patrimônio Cultural da Humanidade, pela UNESCO, e tombada pelo Governo Federal”, aponta Marcelle.

O Festival é pioneiro em trazer uma programação totalmente direcionada para o transeunte e com a proposta de projetar a presença das artes, em especial a dança, para além dos limites postos por teatros, galerias e salas de espetáculos. Espera-se, assim, “encorajar o público a redescobrir espaços cotidianos, a partir de acontecimentos insólitos e extraordinários”, provoca a idealizadora.

Programação:

 

Rodas de conversa:

 

Pessoas pretas e indígenas na cidade planejada

Encontro com bailarines e coreógrafes para debater: Que cidades existem no meio do concreto e para além do que visivelmente temos contato? Quais habitações sustentam uma vivência afro-indígena no planalto central? O que encantarias, rezas e ritualizações imprimem no corpo da cidade?

Muralha Antifa

Encontro com bailarines e coreógrafes para debater: Experiências do corpo na rua e na festa como tecnologia de resistência, esta roda de conversa nos provoca a pensar como fomentar enfrentamentos festivos e quais são seus efeitos na cidade de Brasília. Quais formas de expressão são possíveis que desviam dos destinos calculados do poder?

 

 

Performances:

 

Rio, novo tempo e minhas mães

Um corpo trans, com trajetória artística de mais de dez anos, cria obras a partir de sua dissidência de gênero e cultura de teatro de terreiro. Em “rio novo, tempo e minhas mães”, esse corpo cria uma performance com a árvore Iamí, que serve como ponto de culto e local de oferenda. Como um rito, apresenta seu corpo múltiplo, trans, à mamãe e avó, vítimas da Covid e do descaso com a dignidade pelo governo atual. Nesse encontro, apresenta seus processos que em vida não puderam testemunhar. Como criador, Francisco Rio experimenta práticas da comunidade LGBTQIAP+ e do maracatu rural à cena ballroom, a fim de ampliar suas relações com a cidade enquanto território-terreiro.

Garota Crossfit

Performance por Gustavo Letruta e sua Drag Larissa Hollywood em ambientes equipamentos públicos de ginástica para levantar questões de gênero em diálogo com a exposição feminina e de pessoas LGBTQIAPN+. A provocação é, por meio da arte Drag, criar diálogos com esses espaços masculinizados e que ainda passam por lógicas de assédio e machismo.

Lourença

Intervenção poética sobre a solidão e os conflitos existenciais de uma mulher de meia idade. Sem verbalizar e acompanhada pelo som da rabeca tocada ao vivo, Lourença, interpretada por Maisa Carvalho, vagueia pelos espaços até o momento em que forma um círculo com o longo cabelo, local em que sente segurança, e declama suas poesias.

Valia +

Lucas Emanu e Romulo Santos apresentam, por meio da figura do motoboy, formas de exploração do trabalho. O trabalho apresenta o esforço físico e mental do cotidiano do profissional. Com trilha autoral de Thiago Nau, a obra questiona sensações, alívios e tensões sobre este universo competitivo, estressante, com poucas opções de crescimento, que é o mercado de trabalho.

 

Muralha Antifa

Ao longo de 15 minutos, música e performance convidam o público e transeuntes ao escape dos seus fluxos rotineiros e vivenciarem a arte no espaço cotidiano. No repertório, as canções Construção, Deus lhe Pague e Divino Maravilhoso criam roteiros performáticos distintos. As músicas orquestram atos, em formato de flash mob político com o elenco do coletivo Muralha Antifa.

Ané das Pedras

Na performance, Barbara Matias ritualiza a pedra e a escuta como ente ancestral e dela, mais experiente que seu corpo, pede para vir a esta vida com saúde. Na encenação, a pedra, por acolher todo o corpo da terra, assimilou a história da mãe, da avó.

Negrito

Negrito é uma performance afro contemporânea que contextualiza respeito, prazer, essência e ancestralidade criada pela Corpus Entre Mundos. Através de movimentos que nos levam a potencializar a fala do corpo, sua identidade e o poder que ele tem de transformação. Enfatizando o quanto os corpos pretos precisam a todo momento se reafirmar perante a sociedade e ao mesmo tempo o quanto esses carregam singularidade.

Salubá, hoje é meu dia de nascer de novo

Instalação realizada a partir de uma saudação a Nanã, orixá que cuida das transformações, mas também reverencia a todos os orixás. Na obra, Lara Likidah trabalha com barro e cabaça, instrumento de Exú, orixá da comunicação e onde o barro é misturado com água que banha seu corpo da performer, e corda, como representação circular do tempo. A instalação leva o público a refletir sobre a vida, a superação da binariedade e a imersão em nossos corpos, templos de divindades.

Pendurada

Performance de protesto pelos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Philips. Poema Muhlenberg  expõe sua capacidade de permanecer pendurada, como símbolo de resistência, enquanto é atravessada pelo turbilhão do noticiário cotidiano. Como artista, Poema se coloca a serviço da sensibilização das pessoas aos ataques que o país sofre, sob tantas perspectivas. Faz em contraponto aos anos de retrocessos, no lugar de trabalhadora da cultura, de cidadã, percebe as perdas sofridas enquanto nação democrática.

Ruínas

Baseada no poema Carne e Osso, de sua autoria, Vanderlei Costa dança com a arquitetura brutalista. A obra é sobre a dureza do concreto em contraponto ao corpo que se molda no espaço e desafia a rigidez da estrutura, que ora oprime ora acolhe. A dança na área externa do Teatro Nacional percorrerá seus cubos, interagindo com um tecido preto em luto e pesar, pelo teatro em ruínas. Pelo corpo do artista, cubos brancos e nos braços e pernas a palavra ruínas. A ação percorrerá todo o perímetro do teatro, suas entradas, rampas, jardins, e fachada de cubos brancos.

Matrizes

Performance que une capoeira e dança breaking, protagonizado pela multiartista Fabiana Balduína (FaB*Girl). A narrativa do solo perpassa pelas dimensões simbólica-espiritual e traz consigo o processo de (re)significação da jornada artística da artista no breaking, por meio do resgate ancestral proporcionado pelos movimentos e filosofia da capoeira angola.

Show Case

Ocupar espaços marginalizados com corpos periféricos, como foco em evidenciar corpos dissidentes, evidenciando as potencialidades poéticas presentes nos corpos pretos e LGBTQIAPN+. Nesta performance, idealizada pela Cia. Mutum, a presença cênica de corpos pretos, de trans e periféricos, com elenco de 13 pessoas com trajetórias distintas dentro dos estudos do corpo e dança.

Serviço:

Marco Zero – Festival de Dança em Paisagem Urbana

De 23 a 30 de agosto de 2022

Entrada franca para todas as atividades

Classificação indicativa: livre para todos os públicos

Programação completa e mais informações: www.marcozerobrasilia.com

O Festival conta com fomento do FAC – Fundo de Apoio à Cultura do DF

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