Os sucessos e os dilemas por trás da plataforma do TikTok

Dancinhas, moda, música e vídeos curtos. Se os componentes são esses, é inevitável não pensar no TikTok. De usuários a criadores de conteúdo, blindar-se contra as armadilhas da plataforma é fundamental para absorver as partes boas do aplicativo

 

Dedilhar a tela, prender-se em um vídeo e ficar obcecado por um assunto nunca visto antes. Tem sido essa a rotina de muitos daqueles que estão presentes no TikTok. O formato curto, mas bastante atrativo, é capaz de fazer com que inúmeras pessoas sejam convidadas a conhecer diferentes camadas da plataforma. Seja sobre músicas, seja sobre dicas de moda e beleza, não é exagero dizer que o aplicativo tem impulsionado a forma como os jovens enxergam o mundo. Entretanto, dos criadores de conteúdo à nova geração de usuários, é necessário discernimento para não se perder nesse universo.

As populares trends e dancinhas, os áudios que viralizam e furam a bolha, vários são os nichos que inauguram tendências no TikTok. Mais do que isso, a rede também revive clássicos da literatura brasileira, como no caso das obras de Machado de Assis. De acordo com Leandro Freitas Oliveira, doutor e pós-doutor em neurologia e neurociências, os laços afetivos, embora carreguem a necessidade de serem presenciais, podem encontrar novas alternativas em aplicativos de mídias sociais.

“Eles (jovens) encontram ali grupos de interesse específico — gostos musicais, literários, artísticos — e, por meio de comentários e interações, acabam desenvolvendo conexões que seriam, para alguns, mais difíceis no mundo off-line. Lembrem-se: nossos problemas estão nos excessos. Portanto, não é que não possamos utilizar essas ferramentas, mas não podemos nos tornar reféns delas”, explica o profissional.

Tais esferas inseridas e apresentadas na plataforma surgem a partir de um algoritmo de recomendação, conhecido como “For You”, que personaliza o conteúdo de cada usuário com base em suas preferências. Embora isso possa trazer benefícios, como a exposição a novos temas e interesses — incluindo livros, ciência, história, filosofia e outros conteúdos com uma linguagem adaptada para os jovens —, há também um lado preocupante. A lógica do algoritmo pode “padronizar” comportamentos e impulsionar o desejo por aquilo que está em alta, fazendo com que muitos usuários passem a se assemelhar com os mesmos gostos e atitudes.

Vale lembrar que o caráter rápido e criativo dos vídeos atrai a atenção de adolescentes que, de outra forma, talvez não tivessem contato com determinados assuntos. “A linguagem dinâmica da plataforma, especialmente quando utilizada de forma responsável, pode despertar curiosidade e interesse por tópicos diversos. No entanto, é fundamental destacar que, em áreas sensíveis, como saúde, surgem perfis que publicam informações sem nenhum rigor científico, gerando uma falsa sensação de conhecimento e potencial risco para quem consome esses conteúdos”, descreve Leandro.

Vídeos em família

E, de fato, essa nova era das redes sociais, pavimentada principalmente pelo TikTok, tem mudado não somente a vida daqueles que consomem a plataforma, como de muitos que viram sua história ser transformada por ela. O carioca Matheus Costa (@matheuscosta), 29 anos, era publicitário antes de gravar o primeiro vídeo, em meados de 2020. Trabalhando especificamente com eventos, sentia que não saía do lugar e precisava de algo a mais. Com a pandemia, a situação em casa ficou delicada, sobretudo quando o pai foi diagnosticado com câncer.

Dessa forma, era necessário buscar uma alternativa em meio ao caos que enfrentava. “O período pandêmico foi horrível pra gente. Estava desempregado, tinha a doença do meu pai, a realidade desafiadora que todo o mundo vivia. 2020 foi, de longe, o pior ano que já tive”, relembra. Personagem principal desse enredo, José Costa, o Seu Zé, pai de Matheus, virou quase que uma celebridade nas redes graças às pegadinhas registradas pelo filho.

As primeiras publicações no TikTok já deram um alvoroço daqueles. Nos vídeos, o filho cometia vários erros ortográficos ao ler textos enquanto gravava para a plataforma. A reação sempre natural de Seu Zé fez a internet se apaixonar pela família em poucos meses. “Quando eu era criança, meu pai me levava à escola e apontava os letreiros para mim, as bandeiras dos estados e países, para que eu pudesse adquirir conhecimento. Ele é muito culto e inteligente, isso me ajudou a ter conhecimento sobre inúmeros temas”, finaliza o influencer.

Imediatamente, tudo mudou. Matheus acumula, hoje, 6,2 milhões de seguidores no TikTok, e os vídeos, de acordo com ele, passaram a ser instrumentos educativos em salas de aula, usados pelos professores para ensinar aos alunos a forma correta das palavras — do mesmo jeito que Seu Zé brigava com o filho durante as gravações. Assim, de desempregado a desesperançoso, tornou-se um dos influenciadores digitais mais conhecidos da internet. O pai, posteriormente curado do câncer, permanece com a vida normal, já que não tem o costume de sair tanto de casa.

“Para ele, é como se nada tivesse mudado. Eles (familiares) não têm tanta dimensão. Minha mãe, que gravou comigo também, não tem essa percepção. Só de vez em quando, quando ambos saem na rua e pedem foto, que percebem o quanto são queridos. Meu pai fala com todo mundo, trata os fãs bem. Acredito que se ele soubesse quão longe chegamos, teria ainda mais orgulho do que construímos”, acrescenta.

Além das pegadinhas, conteúdo que fez a família ganhar visibilidade nacional, outro grande amor entre pai e filho é o futebol, mais precisamente o Botafogo. Já consolidados no mundo da internet, ambos, juntos, passaram a demonstrar cada vez mais esse afeto pelo time nos vídeos. Tanto sucesso fez até com que o presidente do glorioso visitasse a família em casa. “O John Textor veio aqui nos conhecer, tirou a sandália antes de entrar. É um cara muito humilde. Quando tudo de ruim estava acontecendo, o Botafogo ainda estava na série. Sinto que, depois de campeão, eu e meu clube crescemos juntos. Isso também é muito especial.”

Matheus, Seu Zé e o irmão José no restaurante da família no Rio de Janeiro
Matheus, Seu Zé e o irmão José no restaurante da família, no Rio de Janeiro(foto: Divulgação)

 

Para se manter são

Não há nada, pelo menos agora, que Matheus mudaria na própria jornada. Tem ajudado a família, é sócio do Mazé, empreendimento gastronômico com o irmão, e ganhou estabilidade financeira. Entretanto, na internet, nem tudo são flores. Obviamente, para todo bem, existe sempre um mal. E um deles, especialmente para quem vive das redes sociais, são as críticas e os comentários negativos, que vez ou outra aparecem e acabam abalando a saúde mental de qualquer um.

“A minha sorte é que eu viralizei tarde, com 25 anos. Já tinha passado da adolescência, vivendo na fase adulta. Eu valorizo muito o que aconteceu comigo, ganhava R$ 800 como estagiário e pegava quatro ônibus por dia. É impossível falar que nada valeu a pena. Lidar com a pressão é muito difícil, com alguns comentários que lemos e não gostamos. Não é fácil ser uma pessoa pública”, ressalta. Afinal, dentro desse universo, as responsabilidades crescem na mesma proporção que os poderes — ou melhor, que os seguidores.

Por isso, especialmente para 2025, a ideia é se manter são e priorizar sua saúde mental, para que não perca de vista a essência que o ajudou a tirar os familiares do sufoco. Contudo, ele aconselha aos mais jovens sobre a importância de saber quem está seguindo. “É necessário ter esse discernimento, porque nunca sabemos quem são as pessoas de verdade, quem estamos acompanhados. Saber o que vamos consumir também é fundamental quando estamos na internet. Cuidado com quem você entrega seu tempo, que é tão valioso”, finaliza.

Matheus Costa possui mais de 6,2 milhões de seguidores no TikTok
Matheus Costa possui mais de 6,2 milhões de seguidores no TikTok(foto: Divulgação)

 

Universo musical

O TikTok, para além de tudo que tem causado, revolucionou o consumo de música e entretenimento ao transformar músicas e vídeos curtos em ferramentas de viralização instantânea. De acordo com Paulo Almeida, doutor em comunicação pela UnB, com mestrado e pós-graduação em mídias digitais, a plataforma se conecta diretamente ao estilo de vida de seus usuários, principalmente da geração Z, que busca conteúdos rápidos e impactantes.

“Por exemplo, músicas que acompanham tendências de dança, como Flowers, de Miley Cyrus, tornam-se fenômenos em questão de horas, motivando milhões de recriações. Esse impacto é ainda maior porque o TikTok não só promove, mas também integra música e entretenimento, criando uma experiência imersiva. Vale lembrar que tudo pode ser editado diretamente na plataforma, incentivando a criação de produções transmídia e promovendo a convergência cultural”, afirma.

Mas, um ponto é primordial nesse debate: a minutagem dos áudios é muito curta. Em comparação aos singles tradicionais disponibilizados em um passado não tão distante, tais músicas carregam esta prerrogativa: é necessário ser pouco para se tornar muito. Na avaliação de Paulo, as faixas que vêm do TikTok refletem o comportamento multitarefa e a busca por gratificação instantânea do público, especialmente a geração Z.

Do TikTok para o Spotify

Esses jovens, como descreve o especialista, preferem conteúdos rápidos que possam ser consumidos sem comprometer longos períodos de atenção. “Além disso, músicas com refrões cativantes e de fácil memorização são ideais para vídeos de 15 a 60 segundos, o formato predominante do TikTok. Eles usam trechos pequenos, com muitas repetições e ajudam a fixar na memória do público. Essa conexão emocional e instantânea com as músicas faz com que elas se tornem trilhas sonoras de momentos cotidianos, reforçando seu apelo”, explica.

Muito além do sucesso no app vizinho, as músicas, muitas delas, furam a bolha. Acredite, elas podem chegar até mesmo ao Top 50 das mais ouvidas no Spotify. Com a ajuda de grandes influenciadores das redes sociais, criando conteúdo e danças para vídeos, os áudios ganham proporções nacionais. Um desses tantos casos é o da influenciadora Virginia Fonseca. Com mais de 50 milhões de seguidores no Instagram, ela sempre ajuda a emplacar os singles do marido, Zé Felipe.

A última e mais famosa, que tem bombado Brasil afora, é a faixa Oh garota, eu quero você só pra mim, que conta com quase 49 milhões de streams no Spotify. “O TikTok impulsiona músicas ao oferecer um ciclo de visibilidade integrado: primeiro, uma música se torna trilha sonora de um desafio ou coreografia na plataforma. A partir daí, o algoritmo expõe esse conteúdo a milhões de usuários, que replicam o padrão. Esse engajamento no TikTok gera curiosidade e promove buscas em plataformas, como Spotify ou YouTube.

Recentemente, a música DTMF, do cantor Bad Bunny, tornou-se a mais ouvida do mundo no Spotify após ser viral no TikTok. Segundo Paulo, a influência da rede é tão significativa que muitas gravadoras agora priorizam o TikTok em suas estratégias de lançamento. A plataforma  não apenas segue tendências musicais, mas também as cria. O algoritmo identifica padrões de engajamento e impulsiona músicas que refletem o espírito do momento. Artistas emergentes, como Olivia Rodrigo, viram suas carreiras serem catapultadas graças à viralização de suas músicas na plataforma”, finaliza.

Rap e TikTok

O artista e rapper Emicida, em uma de suas grandes canções, ressaltou a importância de se acreditar no próprio sonho, já que se é o único no mundo que pode realizá-lo. Diretamente do Sol Nascente, em Ceilândia, uma das maiores favelas do Brasil, três garotos resolveram persistir em direção a essa crença. Se o assunto é música no TikTok, nenhuma família é tão boa e especialista nisso quanto os Irmãos Natu (@rap_natu). Dave, 32, é o mais velho do grupo. Em seguida vem Oli, 30, e Jooj, 26.

Juntos, tiveram a ideia de tentar alavancar a vida da família a partir do rap. No entanto, o começo era difícil e os clipes, muitas vezes, não ganhavam visualizações. Em 2020, na pandemia, eles decidiram mudar um pouco a rota que os levariam até o sucesso. Somente um contratempo no percurso para um propósito muito maior. “Passamos a criar esquetes de humor no TikTok, com objetivo de viralizar esses vídeos, para depois impulsionarmos nossa música”, conta Oli.

Os frutos foram colhidos rapidamente. De imediato, ganharam destaque em nível nacional. O trio passou a gravar cada vez mais e a se dedicar à plataforma e, sem perder os olhos no rap, intercalavam os clipes com as esquetes de humor. Uma dessas faixas que foram impulsionadas por tais conteúdos paralelos foi a Bih Bih Bih, que chegou a ser apagada e postada várias vezes. “Lembro que, toda vez que compartilhávamos, nunca dava em nada. Até que, na terceira vez, já com raiva, decidi publicar de novo. No outro dia, acordei com o celular quente. Milhões de visualizações”, destaca Jooj.

Neste meio-tempo, a engrenagem do universo passou a girar a favor dos garotos, e o público começou a aparecer. Enfim, conseguiram viralizar. Mais do que isso, viver da internet e retribuir para a mãe, principal referência, os esforços e sacrifícios feitos desde a infância. “Crescemos em Ceilândia, tudo o que aprendemos estava ali. Fiz curso de dança, ajudamos a contribuir com o rap na cidade. Toda a cultura do DF, para muitos dos que não sabem, fica neste espaço. Ceilândia construiu meu ideal cultural”, completa Oli, que gosta de ser enfático sobre o quanto o lugar de onde veio lhe ajudou a chegar onde está hoje.

Dave, Jooj, Oli e Raquel, respectivamente, vivem, hoje, de seus trabalhos no TikTok
Dave, Jooj, Oli e Raquel, respectivamente, vivem, hoje, de seus trabalhos no TikTok(foto: Divulgação)

 

Melhores do que nunca

E além dos três, aparentemente, esse trabalho com o TikTok virou mesmo um negócio de família. A única mulher entre os irmãos, Raquel Natu, 19, também exerce um afetuoso e bonito trabalho na internet, compartilhando dicas de moda, beleza e rotinas de treino. “Eles começaram e eu vim depois, é fato que são minha inspiração e referência. Hoje, faço conteúdos voltados para autocuidado. Sou mais de conversar, enquanto eles fazem outras coisas”, brinca a jovem.

Apesar de ter começado mais tarde, diz ter seguido bem as pegadas deixadas pelos irmãos. Sozinha, assim como eles, aprendeu sobre edição, transição e tudo o que o mundo do audiovisual pode proporcionar. Além disso, Raquel é mais presente nas redes sociais, no dia a dia, interagindo de maneira próxima com aqueles que lhe acompanham. Todavia, os desafios de estar na internet moram exatamente neste dilema: o de estar presente quase sempre.

“Sem dúvidas, a constância é a parte mais difícil. A criatividade, também, é um fator que prejudica muito. Porque, por várias vezes, só quero me desligar do celular e ficar distante desse mundo”, revela Raquel. Manter-se positivo diante de tanta informação, claro, não é uma tarefa muito fácil.

Para Oli e Jooj, são as ideias para os novos vídeos. Ainda assim, acreditam que nada do que existe na internet seja tão difícil quanto as dificuldades que tinham antes. “Trabalhei em supermercado, como repositor. Comparado ao que eu fazia, não tenho nem do que reclamar. Já valeu muito a pena”, comenta Oli.

Raquel faz conteúdos de moda e autocuidado no TikTok
Raquel faz conteúdos de moda e autocuidado no TikTok(foto: Divulgação)

 

Contexto nacional

No Brasil, Anitta se destaca ao saber utilizar a ferramenta a favor da sua carreira. Além disso, a rede social democratizou o acesso ao mercado musical, permitindo que artistas independentes alcancem sucesso global. A criação de tendências vai além da música: o TikTok molda comportamentos culturais, desde danças e até gírias e formas de expressão.

Gratificação instantânea

O sucesso do TikTok entre os jovens não é apenas uma questão de tendência cultural. Ele tem raízes profundas em mecanismos neurobiológicos, especialmente na relação entre o núcleo accumbens, a dopamina e o sistema de recompensas do cérebro. De acordo com Vanessa Bulcão, psicóloga e especialista em neuropsicologia, entender essa dinâmica ajuda a compreender como a plataforma impacta o comportamento da nova geração e as dificuldades que surgem em áreas como controle da impulsividade e adiamento de recompensas.

“O núcleo accumbens, localizado no cérebro, desempenha um papel crucial no sistema de recompensa, sendo responsável por processar sensações de prazer e motivação. Quando experimentamos algo que nos traz satisfação — como uma comida saborosa, uma música agradável ou um vídeo engraçado no TikTok —, esse sistema é ativado, liberando dopamina, o neurotransmissor associado ao prazer”, descreve.

No TikTok, essa experiência é projetada para maximizar essa liberação de dopamina. A combinação de vídeos curtos, músicas cativantes e um fluxo constante de conteúdo novo cria um ciclo de recompensa imediato. Na avaliação da especialista, cada deslizar para o próximo vídeo é uma nova oportunidade de receber um estímulo prazeroso, mantendo o usuário engajado por longos períodos.

A exposição frequente ao formato rápido e estimulante do TikTok pode reprogramar o cérebro, tornando-o menos tolerante a atividades que demandam paciência e esforço. A dificuldade em postergar recompensas está ligada à menor ativação de áreas do cérebro responsáveis pelo autocontrole, como o córtex pré-frontal. Jovens acostumados à gratificação imediata tendem a evitar tarefas que não oferecem resultados instantâneos, comprometendo seu desempenho em estudos, trabalho e até relações interpessoais.

O que se pode fazer?

É possível reequilibrar essa relação com a dopamina e o núcleo accumbens. Incentivar os jovens a praticar atividades que estimulem a paciência, como meditação, leitura ou esportes, pode ajudar a fortalecer o córtex pré-frontal e aumentar a tolerância ao esforço prolongado. Além disso, é fundamental promover um uso consciente do TikTok, com limites de tempo e pausas programadas, para evitar a sobrecarga do sistema de recompensa. A chave está no equilíbrio. Reconhecer como o TikTok explora os mecanismos cerebrais é o primeiro passo para ajudar os jovens a utilizar a tecnologia de forma saudável.

Fonte: Vanessa Bulcão, psicóloga e especialista em neuropsicologia

Atenção aos impactos

De acordo com o neurocientista Leandro Freitas, a ciência começou, recentemente, os estudos sobre os efeitos de diversos dispositivos de mídia social, portanto dados mais sólidos estão sendo publicados agora. “O TikTok, por sua dinâmica baseada em vídeos curtos, imediatos e ‘espertamente’ customizados, estimula respostas rápidas no cérebro. Em termos de processamento cognitivo, esse efeito acelerado pode oferecer recompensas imediatas — os chamados “picos de dopamina (aumento de um mensageiro químico presente no nosso cérebro associado ao prazer)” — cada vez que há novos estímulos visuais, sonoros e sociais”, esclarece

Isso, segundo o especialista, gera um mecanismo de reforço para esse órgão, no qual o adolescente procura assistir a mais vídeos, em parte pela sensação de gratificação imediata e pelo pertencimento. Esse sistema de recompensas rápidas também pode contribuir para a redução da capacidade de concentração em tarefas que exigem maior esforço cognitivo e até mesmo para o aparecimento de ansiedade. Crianças e adolescentes estão em fase de intenso desenvolvimento cerebral, especialmente no córtex pré-frontal, região associada a planejamento, autocontrole e atenção.

“O excesso de estímulos fragmentados (como os propostos pelo TikTok) pode inibir o desenvolvimento dessas habilidades autorregulatórias, tornando-os mais impulsivos, agressivos e com baixa tolerância à frustração. Importante descartar os aspectos socioemocionais. A busca por likes e aprovação digital por “desconhecidos” pode reforçar comportamentos de comparação social, baixa autoestima e sintomas depressivos e ansiosos.

Um novo fenômeno!

Em um passado recente, a grande plataforma para jovens consumirem vídeos era o YouTube. Whindersson Nunes, Felipe Castanhari, Júlio Cocielo foram alguns dos nomes responsáveis por levar entretenimento, leveza e risada aos usuários. Hoje, com o momento do TikTok, existe uma personalidade que é quase unanimidade entre os perfis ativos na rede. A adolescente Liz Macedo (@lizx.macedo), 15 anos, tem conquistado o público infantojuvenil com os populares “daily vlogs”, mostrando sua rotina.

Desde os 11 anos, a familiaridade com a câmera veio de forma natural. Mas o sucesso nasceu, de verdade, em 2022, ao participar da trend Get ready with me, em que o criador de conteúdo aparece se arrumando para algum evento ou ocasião especial. No caso de Liz, era o aniversário do pai, Fernando Macedo. “Depois disso, continuei postando, mas não teve um crescimento imediato, era bem normal, de pouco em pouco”, relembra. Em 2024, veio o grande boom na vida de Liz. Hoje, ela já acumula 8 milhões de seguidores e mais de 1 bilhão de curtidas no TikTok.

E não se engane, apesar das inúmeras interações, os vídeos gravados por Liz são, em sua maioria, bem simples. “Sei que o meu conteúdo é bem simplificado, não tem muita edição. Eu, basicamente, ligo a câmera e começo a falar. Sempre foi assim até viralizar. Falo da minha rotina de uma maneira mais habitual”, descreve a influencer. Na companhia dos pais, de amigos, sozinha ou com o namorado, ela mostra o dia a dia e aproxima os fãs que lhe acompanham da sua realidade, como se fizessem, também, parte das atividades diárias de Liz.

A grande reviravolta veio quando ela completou 15 anos e fez uma festa que, sem hipérbole, parou a internet. No X (antigo Twitter), ela entrou nos trending topics e virou um dos assuntos mais falados da rede. Neste mesmo dia, o streamer e jornalista Camiseiro Miguel, mais conhecido como Cazé, estava nas suas habituais lives na Twitch e decidiu reagir aos conteúdos de Liz no TikTok. “Logo após os vídeos do Cazé, furou a bolha total. Veio muita gente me conhecer através dele”, complementa.

Liz grava vídeos de rotina e mostra seu dia a dia para os seguidores
Liz grava vídeos de rotina e mostra seu dia a dia para os seguidores(foto: Reprodução/ Instagram)

 

Consciência e equilíbrio

A pouca idade, talvez, não denuncie o quanto Liz já possui consciência da posição que ocupa atualmente. Ela, na verdade, sabe que se tornou, em pouco tempo, um grande fenômeno no TikTok. Contudo, diz permanecer a mesma de sempre, e que o equilíbrio entre as responsabilidades é a chave para permanecer bem consigo mesma. “Não mudou muita coisa, mas, ao mesmo tempo, me tornei uma pessoa mais compromissada, com mais responsabilidades, sobretudo quando necessito conciliar a escola com os vídeos e outras tarefas.”

E ainda que virtude com as câmeras seja nítida, é com a cara nos livros a versão de si que Liz mais gosta. Entre estudar e gravar? Estudar mil vezes, especialmente se for história, sua matéria preferida. Além disso, a estante é cheia de livros e prefere os suspenses, uma forma de fugir um pouco dessa rotina acelerada e da quantidade de informações que absorve com tanta tecnologia. Para o pai, Fernando, é imprescindível achar o meio termo em meio a esses universos.

“A gente sabe o quanto a internet influencia a vida das pessoas. Uma virtude que precisamos transmitir aos nossos filhos, enquanto pais, é o uso consciente e responsável dessa ferramenta. Como eles estão recebendo o produto e consumindo. É importante que usemos esse mundo digital a nosso favor. Hoje, já temos a sincronização parental, limite de tempo e podemos cuidar melhor do que estão vendo”, destaca Fernando.

Segundo Liz, desligar-se também é importante, viver a vida fora das telas e preservar os momentos ao lado dos amigos e familiares. “Eu preciso ficar off de vez em quando. Isso, justamente, porque também sou muito ansiosa. É muita coisa o tempo inteiro, informação toda hora. À noite, eu preciso ler meu livro, pelo menos umas 10 páginas, antes de dormir”, conta. Mais que isso, gosta de estar sempre bem inteirada nos assuntos escolares e diz se cobrar muito para ser uma boa aluna.

Enfim, sobre o futuro, Liz deixa o barco levar, e afirma não estar preocupada com o que virá. Ser atriz? É uma possibilidade, talvez. Ser cantora? Nem tanto, já que a voz não é a das melhores, como brinca a jovem. No mais, uma linha de roupas, cosméticos, ainda há muito o que pensar. Por ora, aproveitar a boa fase e a juventude, o que também é uma mensagem que ela transmite para aqueles que a seguem.

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