O criador do Prêmio Atabaque de Ouro, Marcelo Fritz, em conversa exclusiva com nosso portal

Times Brasília – Batemos um papo com Marcelo Fritz, criador executor do Prêmio Atabaque de Ouro
 
O Prêmio Atabaque de Ouro chega à sua 19ª edição consolidado como o maior encontro de curimbeiros do Brasil, verdadeiro “Oscar” da tradição afro-brasileira. No domingo, 7 de setembro, a Quadra da Portela recebe o evento que celebra a ancestralidade, a liberdade religiosa e a força das comunidades tradicionais, reunindo representantes de diversos estados do país. Este ano, os grandes homenageados e padrinhos desta edição são Bira Presidente e o lendário Cacique de Ramos, símbolos de resistência e guardiões da memória cultural que pulsa ao som dos atabaques.  
 
 
1. O Prêmio Atabaque de Ouro chega à sua 19ª edição. Qual é o significado dessa trajetória de quase duas décadas para a cultura afro-brasileira?

O movimento dos festivais surgiu no início da década de 70, se fortaleceu, e compositores de ponto chegaram a inspirar Tom Jobim, que compôs “Águas de Março”. Uma obra que marcou sua trajetória e foi inspirada em um ponto de JB de Carvalho e em um verso de Camões. É muito mais profundo do que imaginamos, e fazer este movimento renascer é mágico e libertador, especialmente em um momento de perseguição e atos de extermínio de nosso povo.

2. Este ano, os homenageados são Bira Presidente e o Cacique de Ramos. O que essa escolha representa dentro da história e da missão do prêmio?

Já tivemos Alcione, Dona Ivone Lara, Leci Brandão e o grande mestre Casa Grande, que é um maestro de ritmistas, ou o grande Noca, que fez show para nós sem cobrar cachê, pedindo apenas seu conhaque. Temos muitos que, além de discursar e cobrar sobre liberdade, assumem responsabilidade social.

3. Além deles, o Grupo Afro Tafaraogi e a Mãe Selma de Omolú também recebem homenagens. Como essas figuras traduzem a essência do evento?

Mãe Selma é uma senhora que representa a continuidade de uma casa que existe há mais de 50 anos. No ano que vem, ela completa meio século de sacerdócio, de dedicação e de abdicação da vida civil para minimizar problemas de nossa sociedade. Já a banda Tafaraogi ajudou o ICAPRA a nascer em 1998, nossa instituição que realiza o prêmio. Hoje, nós temos 26 anos de trajetória e eles, 35, sempre resistindo.

4. Você costuma dizer que “diversidade vende, mas a conta não é paga”. Como esse paradoxo afeta iniciativas culturais como o Prêmio Atabaque de Ouro?

Uma vez, conversando com uma secretária de cultura, ela me falou sobre editais, concursos etc. Os gestores precisam entender que há ações importantes de nossa sociedade que existem — e vão continuar existindo — com ou sem apoio público. Claro que isso embaralha nossa existência, diante do que vivemos. É vergonhoso, por exemplo, assistir a eventos nossos sem a mínima atenção e ouvir que “a política é para todos” ou “no meu governo”. Precisamos acordar e deixar de trocar voto por dentadura.

5. O que você espera que o público leve consigo após participar desta edição do prêmio?

Enxergar quem somos: nossa beleza, riqueza, alegria e união. Tudo isso estará presente lá, mesmo que por alguns momentos — momentos que, não tenho dúvidas, nos levarão a uma importante reflexão.

 

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