Em apresentações ao vivo, influenciadores imitam personagens bizarros de videogame e chegam a ganhar R$ 35 mil
Demorou bem pouco tempo até os vídeos estranhos em que pessoas fantasiadas se movimentam de forma robotizada, falam com vozes de personagens de desenho animado e reagem a interações do público deixar de ser um nicho extremamente específico do TikTok e Instagram e chegar ao público em geral.
Essas são as chamadas lives de NPC, assustadoras para uns e fonte de renda para outros. Mas o que elas são e como surgiram? Chegou a hora de você ler um guia definitivo (por enquanto) sobre o assunto.
Influenciadores imitam NPCs, interagem com o público e ganham dinheiro durante as transmissões
REPRODUÇÃO/TIKTOK
O que são? Os NPCs são “personagens não jogáveis” dos videogames, especialmente de RPGs. Como esse tipo de jogo possui histórias aprofundadas e ambientes grandes e povoados, existem vários NPCs por lá.
Alguns deles possuem linhas de diálogo, enquanto outros não interagem de forma alguma, e apenas andam no cenário — e às vezes ficam presos nele, como parte de bugs de programação.
Então, alguns streamers e influenciadores começaram a imitar esse tipo de personagem e tentar agir com toda a estranheza deles, geralmente com resultados esquisitos — e, por isso, virais instantâneos.
E como funcionam as lives? Ao vivo, os streamers imitam personagens de videogame enquanto recebem presentes e interações financeiras. Na maior parte das transmissões, eles ficam parados e só se mexem ou falam quando recebem incentivos do tipo. Os movimentos tendem a ser estranhos, obviamente como nos videogames, que dependem de programação para funcionar.
Como o TikTok possui menos regras em suas transmissões ao vivo em comparação com o YouTube e a Twitch, as transmissões tendem a ser mais estranhas e iniciadas por perfis com poucos seguidores.
Em um flagrante recente, três pessoas foram vistas em lives do tipo em uma esquina de Nova York.
Como surgiu a tendência? Como todas as esquisitices de redes sociais, é difícil apontar uma origem única. Nas transmissões ao vivo já existiam tendências de influenciadores que interagem de acordo com doações e presentes dados ao vivo.
Na mais famosa delas, o streamer Ludwig ficou 31 dias ao vivo direto. A cada inscrição paga no canal dele da Twitch, ele ficaria mais 10 segundos ao vivo.
Live de 31 dias arrecadou milhões e deu fama a streamer do Twitch
REPRODUÇÃO/TWITCH/@LUDWIG
O que deveria durar alguns dias e conseguir algumas centenas de milhares de seguidores, se tornou uma maratona de um mês, que o transformou no perfil com mais inscritos no site.
Outro caso famoso são os chamados “influenciadores do sono”, que permitem que o público controle o volume de equipamentos e despertadores da casa dele, enquanto tenta dormir. Para acordá-lo, é preciso gastar dinheiro.
O mais famoso deles, Asian Andy, chegou a ganhar US$ 16 mil em uma única noite de sono (maldormido), em 2021.
Recentemente, uma tendência pré-NPC se tornou conhecida no Brasil, principalmente com a influenciadora e cantora Kine Chan, que recebe dinheiro para falar certas expressões japonesas para quem doou mais. No caso mais famoso, surgiu o meme “Jefferson Caminhões”, no final de 2022.
O sucesso é devido à cultura japonesa das “waifu”, ou jovens mulheres que imitam personagens fofas de anime e recebem para interagir com o público — quase totalmente masculino.
Influenciadora Kine-chan ficou famosa com lives onde interage com o público e vira meme
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM/@KINECHAN2.0
Dessas derivações e culturas online de nicho, provavelmente surgiu o tipo de conteúdo atual que ficou conhecido como “lives de NPCs”.
Todo NPC faz live? Na verdade, não. A mais conhecida das NPCs, @loczniki, ganhou pelos vídeos elaborados no TikTok. Seus clipes ganharam fama justamente por mostrarem os bugs de personagens do tipo, que ficam presos em paredes e em rotas repetitivas.
Os vídeos geralmente lembram games como GTA, Fallout e Starfield, famosos por áreas grandes e lotadas de NPCs estranhos. Um tutorial dela, de como ser um personagem do tipo, chegou a ser visto mais de 16 milhões de vezes.
Provavelmente foi a canadense Fedha Sinon, de 27 anos, que transformou esse tipo de conteúdo em um sucesso explosivo em lives.
Conhecida como Pinkydoll, ela agora se intitula “Rainha dos NPC”, com lives e vídeos sobre o assunto.
A canadense Pinkydoll é uma das pioneiras nas lives de NPC
REPRODUÇÃO/TIKTOK/@PINKYDOLLREAL
“Estou recebendo muita atenção agora. Pode-se dizer que nem sempre é a melhor atenção, mas seja como for, é bom para o meu bolso”, afirmou Fedha, em entrevista a uma rádio canadense.
Como outros NPCs, Pinkydoll responde a “comandos” e faz alguma ação de acordo com os presentes que recebe — representados por stickers de flores, frutas e outros objetos. Quanto mais exclusiva e personalizada é a ação, mais cara ela é. O resultado é estranho e imprevisível para quem está de fora.
Em entrevistas, ela afirma que ganha cerca de US$ 3.000 R$ 14,6 mil) por live, mas chega a US$ 7.000 (R$ 34 mil, no câmbio atual) de ganhos em uma única apresentação, que pode chegar a 90 minutos e só se encerrar quando ela está completamente cansada ou rouca.
Influenciadora ganha até R$ 10 mil por mês vendendo arrotos, unhas do pé e outros itens bizarros