A Lenda de Ochi: Emocionante e cadenciado

Crítica por: REGNALDO NETO

A A24 retorna às telas com A Lenda de Ochi, uma fantasia visualmente deslumbrante, mas que infelizmente não consegue sustentar uma narrativa tão envolvente quanto sua estética sugere.

A história se passa em uma vila isolada na ilha de Carpathia, onde uma jovem tímida cresce com medo de uma criatura conhecida como ochi. Quando ela descobre que um filhote ferido dessa criatura foi deixado para trás, ela embarca numa jornada para devolvê-lo ao seu habitat, enfrentando perigos e descobertas ao longo do caminho.

Filmes com elementos fantásticos sempre despertam minha atenção, e A Lenda de Ochi mergulha de cabeça nesse universo mágico. Com uma direção que aposta na beleza das imagens, o filme funciona como uma verdadeira fábula sobre família, perda e conexão. As reflexões que surgem a partir dos relacionamentos entre Yuri (Helena Zengel), Maxim (Willem Dafoe) e o próprio Ochi — que sempre rouba a cena quando aparece — acrescentam camadas de profundidade à narrativa.

A produção tem um clima de cinema indie bem trabalhado, e a direção de Isaiah Saxon, em sua estreia em longas, consegue criar momentos de impacto visual impressionantes. A fotografia, aliada a uma ambientação que mistura elementos do passado e do presente de forma criativa, transforma cada cena em uma experiência estética marcante. Cada detalhe na tela parece cuidadosamente pensado, reforçando a atmosfera única do filme.

Por outro lado, o roteiro deixa a desejar em alguns aspectos. A narrativa é bastante lenta em certos trechos, especialmente entre o primeiro e o início do segundo ato, devido à escassez de diálogos. A escolha por uma comunicação mais silenciosa, com muitas expressões e olhares, reforça o clima de introspecção, mas acaba tornando a história um pouco previsível e, por vezes, excessivamente explícita na mensagem sobre família. Essa abordagem mais contida, embora interessante, faz com que o filme perca um pouco de ritmo e dinamismo.

Helena Zengel se destaca como protagonista, entregando uma atuação sutil, porém carregada de emoção. Sua personagem, com uma impulsividade juvenil bem construída, consegue transmitir a complexidade de uma jovem que busca seu lugar no mundo. Willem Dafoe também brilha na sua interpretação, consolidando seu personagem com a experiência que já é marca registrada de sua carreira. Emily Watson, mesmo com pouco tempo de tela, entrega uma atuação convincente na cena de confronto com Dafoe, reforçando a força do elenco de apoio.

A Lenda de Ochi é, acima de tudo, um filme conceitual sobre os laços familiares. Uma comparação inusitada, mas válida, seria chamá-lo de um “Lilo & Stitch” da A24 — só que com uma pegada mais reflexiva e artística. É uma produção que, dependendo do seu estado emocional, pode até emocionar em certos momentos, especialmente na relação entre Yuri e o filhote de Ochi, que vale a pena ser vista na tela grande.

O filme estreou nos cinemas há cerca de 30 dias e, apesar de suas limitações narrativas, consegue conquistar pelo seu visual encantador e pelas boas atuações. Uma experiência que vale a pena para quem aprecia uma fantasia mais contemplativa e cheia de simbolismos.

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