Sobre o excesso de velocidade, ele reforçou que a capital federal conta com amplo sistema de monitoramento eletrônico. “Entretanto, a importância de tudo isso é a preservação da vida. O registrador de velocidade, por exemplo, é para fazer com que os condutores reduzam a quilometragem e não coloquem a própria vida e a de terceiros em risco”, destaca. “Temos um serviço de inteligência que identifica onde está o problema e, assim, são montadas ações específicas”, diz.
Para os condutores, Saraiva ressalta que é necessário que saibam respeitar, principalmente, o direito dos outros. “Quando se comete uma infração, não se está transgredindo apenas o Código de Trânsito, mas colocando vidas em risco e ainda coibindo o direito de ir e vir de terceiros”, frisa.
O motorista do sistema de transporte por aplicativo Eduardo Moraes, 30 anos, levou multa por excesso de velocidade. “Os valores, entretanto, não condizem com algumas infrações. Precisei pagar mais de R$ 100 por estar a 5km/h acima do permitido. Achei muito, porque é um dia de trabalho”, lamentou. Contudo, o condutor destaca que quem descumprir regras precisa estar disposto a arcar com os preços cobrados.
Redução
Apesar do aumento de algumas infrações, o brasiliense também teve resultados positivos no trânsito. As multas por estacionar em local proibido caíram de 175.985, em 2018, para 162.723, em 2019, uma redução de 8%. No mesmo período, as ultrapassagens no sinal vermelho reduziram 28%, passando de 150.523 para 108.063. As autuações por tráfego no acostamento também diminuíram.
Adriana Modesto, doutora em transportes e especialista em segurança viária e mobilidade urbana da Universidade de Brasília (UnB), afirma que autuações como uso de celular ao volante, excesso de velocidade e alcoolemia estão relacionadas ao comportamento do condutor. “Quando se utiliza substância etílica e usa o telefone enquanto atravessa o pedestre, isso também coloca a pessoa em risco”, alerta. “O Estado pode intervir na segurança veicular no ambiente da via, na infraestrutura viária e também no comportamento humano. O trabalho precisa ser feito no sentido de se colocar barreiras protetivas. Campanhas de segurança e ações educativas são abordagens que podem ser feitas”, explica.
Segundo Adriana, a fiscalização deve ocorrer de forma efetiva e ostensiva, mas os órgãos de trânsito precisam agir no comportamento. “Não acredito que a distribuição de panfletos terá garantia de que aquela ação seja efetiva. O ideal é que se faça avaliação das campanhas feitas atualmente. Elas seguem os princípios da educação?”, questiona. A especialista acredita que o processo de formação do trânsito deve ser iniciado na infância, dentro da escola. “Você, talvez, não mude o condutor de hoje, mas está preparando o de amanhã”, destaca.
Acidente por culpa do telefone
Com o uso do telefone celular cada vez mais incorporado aos hábitos das pessoas, também aumentam os riscos de acidentes no trânsito ocasionados em função da utilização do aparelho. De acordo com o Departamento de Trânsito (Detran), 77.084 condutores foram notificados por manusear o celular enquanto dirigiam, em 2019 — uma média de 207 flagrantes por dia. Em 2018, a autarquia distribuiu 72.600 infrações do tipo, 6% a menos do que no ano passado.
Em novembro de 2016, a penalidade passou a ser considerada gravíssima, mas os números de infratores continuaram a subir. À época, a multa prevista aumentou de R$ 85,13 para R$ 293,47, além dos sete pontos na CNH. No entanto, a punição não impediu os acidentes. O Detran não tem levantamento sobre o número de mortes no trânsito causadas pelo uso do aparelho. Segundo o órgão, há dificuldade para flagrar o desrespeito antes de eventuais batidas. “Às vezes, a gente tem a informação do agente, mas não confirma, porque o agente chega, e o acidente já aconteceu”, explica o diretor de Policiamento e Fiscalização do Detran, Francisco Saraiva.
Segundo Saraiva, colisões menores provocadas pelo celular ao volante são mais frequentes. “No horário de rush, o maior número de acidentes são pequenas batidas causadas por de cidadão falando ao celular. Normalmente, ele não vê e bate. Isso provoca de três a quatro horas de congestionamento”, comenta. De acordo com o diretor, avanço de semáforo também é infração comum para quem está distraído em uma ligação.
Após passar por um trauma, a secretária Iasmin de Lima Rocha, 27 anos, evita utilizar o celular no trânsito. “Tenho medo de pegar no celular e dirigir. Não pelo fato de levar multa, mas pela possibilidade de ferir ou de matar alguém. Bateram em mim por usarem o aparelho e me machucaram. Eu estava parada na Esplanada dos Ministérios, e o rapaz foi mexer no celular e acertou meu carro por trás. Fui encaixotada entre dois veículos. Fiquei toda dolorida e assustada. Tenho mais consciência em função disso”, conta.
Bons exemplos
Pesquisador na área de transportes pela Universidade de Brasília (UnB), o professor Pastor Willy González Taco avalia que a fiscalização e as campanhas são fundamentais. No entanto, o especialista ressalva que precisa haver uma renovação no conceito do trabalho educativo. “A fiscalização precisa trabalhar pontualmente, em camadas específicas da população”, reforça.
Para o Pastor Willy, o celular ao volante não é um privilégio do brasileiro, mas é preciso incorporar bons exemplos para melhorar os índices. “Alguns países têm trabalhado em educação onde há muitas pessoas, como no cinema. Antes de iniciar o filme, apresenta-se um vídeo curtíssimo sobre os riscos do uso do celular”, destaca.