“Mickey 17”: Uma Comédia de Ficção Científica que Promete, Mas Não Entrega

Dirigido por Bong Joon-ho, “Mickey 17” é uma comédia de ficção científica que se apresenta como uma reflexão sobre a clonagem e suas implicações éticas, mas que, ao longo de sua narrativa, acaba se perdendo em piadas superficiais e personagens unidimensionais. Baseado no romance “Mickey 7” de Edward Ashton, o filme traz Robert Pattinson no papel de Mickey Barnes, um jovem endividado que se torna um “Dispensável” — um clone enviado em missões espaciais com a única função de morrer para que a humanidade possa aprender com suas experiências.

A premissa inicial é intrigante: a tecnologia avançada permite a clonagem de seres humanos, transferindo emoções e memórias para novos corpos. No entanto, o que poderia ser uma exploração profunda das questões morais e éticas da clonagem rapidamente se transforma em uma comédia que evita qualquer discussão significativa. O diretor Bong Joon-ho, conhecido por sua habilidade em abordar temas complexos com sutileza, parece optar por um caminho mais leve, mas acaba entregando uma crítica social que se revela superficial e previsível.

O humor do filme, muitas vezes escatológico e infantil, se baseia em situações que beiram o absurdo, como a coleta de “informações” de maneira grotesca. Essa abordagem pode gerar risadas, mas também levanta a questão: até que ponto o humor é eficaz quando se trata de temas tão sérios? A caracterização dos cientistas como figuras atrapalhadas e o governo como uma caquistocracia (um governo dos piores) são tentativas de crítica social que, embora reconhecíveis, carecem de profundidade e nuance.

As metáforas presentes no filme, como as referências ao fascismo e ao colonialismo, são tão óbvias que o espectador pode se sentir subestimado. A falta de sutileza nas mensagens transmitidas resulta em uma narrativa que não acredita na capacidade do público de interpretar as nuances da sociedade contemporânea. O filme se torna uma caricatura do estado atual das coisas, sem oferecer novas perspectivas ou insights.

Além disso, a dinâmica entre os clones Mickey 17 e Mickey 18, que poderia ter explorado as complexidades da identidade e da individualidade, é rapidamente descartada em favor de tramas paralelas que não se desenvolvem de forma satisfatória. Personagens coadjuvantes, interpretados por atores talentosos como Toni Collette e Steve Yeun, são subutilizados, deixando a impressão de que o filme não soube aproveitar todo o potencial de seu elenco.

Em suma, “Mickey 17” é uma obra que, apesar de seu conceito promissor e de um elenco talentoso, falha em entregar uma narrativa coesa e impactante. A tentativa de crítica social se perde em um mar de piadas e situações superficiais, resultando em uma comédia que não explora adequadamente as complexidades de sua premissa. Para um filme que poderia ter sido uma reflexão profunda sobre a condição humana e a ética da tecnologia, o resultado é decepcionante e deixa a desejar.

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