Um Ciclone elevou o nível de alerta para todo o Rio Grande do Sul

Apesar do temor de novas enchentes, especialistas preveem um longo período de estiagem após o fenômeno. Em Canoas, Base Aérea recebe voos comerciais

Porto Alegre e Capão da Canoa (RS) — Um ciclone extratropical se formou sobre o Rio Grande do Sul, nesta semana. O fenômeno deve provocar chuvas, hoje, em boa parte do estado, porém, é tido como uma notícia boa pelos especialistas, já que será seguido por um longo período de tempo firme. Ao Correio, o climatólogo Dakir da Silva apontou que ventos fortes, de até 50 km/h, serão registrados em todo estado, mas na Campanha Gaúcha e no Litoral Sul, as rajadas podem chegar a 100 km/h.

“O ciclone extratropical é comum na nossa costa, geralmente ocorre após a passagem de uma frente fria como a que tivemos na semana passada. Ele é um sistema que acontece no mar e traz ar úmido para o continente, o que gera precipitação e vento. Mas, depois, vamos ter um período de trégua na chuva no estado”, explica.

A Defesa Civil do RS emitiu um novo alerta de elevação dos níveis da Lagoa dos Patos até o fim desta tarde. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), por sua vez, emitiu uma nota alertando para ventos fortes na faixa Leste do estado, onde está a costa litorânea gaúcha. Há possibilidade de queda de árvores, de energia e outros transtornos relacionados ao vento.

“O represamento do canal São Gonçalo (que liga a Lagoa dos Patos à Lagoa Mirim) pode dificultar o escoamento da água das áreas que já estão alagadas. Pode dificultar e até aumentar a água no (bairro) Laranjal, em Pelotas. Em Rio Grande, também pode aumentar um pouco (o volume da água), mas não a ponto de gerar inundações como as das últimas semanas”, acrescenta Silva.

Na noite de ontem, o Canal São Gonçalo bateu mais uma vez o recorde de profundidade, de 3,12m. Desde sábado, o nível vem subindo e superando o que tinha sido considerado a marca histórica — 3,02m, em 16 de maio. Antes das enchentes deste ano, a última vez que o afluente esteve tão elevado foi na enchente de 1941, quando chegou a 2,88m.

Guaíba estável

De acordo com o climatólogo, entre amanhã e quinta-feira, Porto Alegre e Região Metropolitana serão acometidos pelo vento sul, que irá represar a saída de água do Lago Guaíba para a Lagoa dos Patos. Essa mudança no tempo deve prejudicar o trabalho de escoamento dos bairros que estão alagados há quase um mês.

O Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), porém, acredita que o Guaíba esteja em processo de recessão da cheia, embora permaneça com quase 1m acima da cota de inundação. Na medição mais atualizada da Secretaria de Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul (Sema/RS), de 20h de ontem, o Guaíba marcava 3,85m. Desde a última sexta-feira, o lago estava acima dos 4 metros de profundidade, após passar quase a semana toda abaixo da marca.

Rotas aéreas

Com o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, inundado, a Base Aérea de Canoas — distante cerca de 8km do terminal da capital — recebeu, ontem, o primeiro voo comercial remanejado para a pista militar. O primeiro Airbus A320, operado pela Latam, pousou em Canoas pela manhã, vindo de São Paulo, com 173 passageiros a bordo.

Como a instalação militar não está preparada para abrigar operações de passageiros das empresas comerciais, o terminal em embarque doméstico foi instalado provisoriamente em um shop- ping center da cidade — Park Shopping —, distante cerca de 3km da Base Aérea. Depois de fazer o check in e despachar as bagagens no próprio shopping, os passageiros seguem em ônibus especial até a base. Por isso, a concessionária do terminal de Porto Alegre, a Fraport, responsável pela operação emergencial em Canoas, orienta as pessoas que vão deixar o Rio Grande do Sul que compareçam ao shopping com uma antecedência de, no mínimo, uma hora e meia. O trajeto de ônibus até a base demora cerca de 20 minutos.

O voo de ontem foi o primeiro de caráter comercial da história da Base Aérea. A estrutura ficará montada até que o terminal da capital gaúcha seja reformado e volte a operar. A estimativa é que o aeroporto militar opere com cinco chegadas (todas de voos originários de aeroportos de São Paulo) e cinco decolagens por dia das três principais companhias aéreas do país, Latam, Azul e Gol. Ontem, apenas a Latam operou na pista.

O Aeroporto Salgado Filho está fechado desde 3 de maio, sem data para voltar a operar. Especialistas estimam que, com o dano das águas ao aeródromo, as atividades no terminal civil não devem ser retomadas antes de setembro.

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