O falso dilema da violência nas escolas

 

 

Fabio Arruda Mortara*

 

Fabio Mortara

O Brasil tem assistido repetidamente a ações violentas em escolas, como a que ocorreu mais recentemente em Poços de Caldas-MG. Este é apenas um exemplo porque a incidência e agravamento dos tipos de violência contra estudantes e professores em instituições escolares não são uma sensação. É fato.

 

Independentemente da gravidade do crime em si e das perdas irreparáveis, é importante refletirmos sobre o contexto que tem dado abertura a tais atos de barbárie.

 

De um lado temos um sistema educacional ainda muito precário, profissionais da educação mal capacitados e com formação e remuneração precárias e muitas das escolas também inadequadas a um bom desempenho escolar. Ainda que tenhamos profissionais de excelência, como a educadora Izolda Cela e o sensacional trabalho em Sobral e depois em todo o Ceará, a quem o PNBE acaba de conceder seu Prêmio de Cidadania, esses são casos isolados, e não prevalescentes no conjunto.

 

O cenário da violência em ambiente escolar é tema do relatório “O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para ação governamental”, de 2022, assinado por pesquisadores e ativistas da área de educação.

 

Ainda é tempo de prevenir, mas, segundo o citado relatório, os eventos de violência em escolas iniciaram na primeira década dos anos 2000 e contabilizando, até o fechamento do documento em dezembro de 2022, 16 ataques com 35 vítimas fatais e 72 feridos, sendo que quatro desses eventos ocorreram no segundo semestre do ano passado. Os números nos Estados Unidos são piores, o que aponta para um problema ampliado.

 

Neste cenário, a questão é multidisciplinar, pois não basta o reforço das rondas e policiamento no entorno das unidades escolares em horários de aulas. Há que se preparar crianças e educadores para lidar com o medo e com possíveis eventos, é preciso envolver a comunidade, capacitar professores para conversarem com pais e alunos, é preciso uma política de segurança pública especializada para este problema, é preciso entender que vítima é toda a sociedade para, finalmente, termos uma atmosfera de paz nas escolas e comunidade.

 

O Brasil fica patinando nas incertezas ideológicas, como se fosse impossível desenvolver uma política educacional consistente, abrangente e articulada, desde a alfabetização de crianças até a formação de doutores e pesquisadores. Sem uma política de enfrentamento, o problema tende a piorar.

 

É desejável e possível democratizar oportunidades com ensino público de qualidade para crianças e adolescentes e, ao mesmo tempo, criar condições para que a academia cumpra de forma ampla e irrestrita o seu papel na formação de recursos humanos e na área da ciência e da inovação. Enquanto se perdem preciosos anos na análise de um falso dilema, mantêm-se os gargalos na estrutura da educação.

 

A desigualdade é outro fator que contribui para que tenhamos ainda iletrados e semialfabetizados saindo de nossas escolas, muito em razão das condições domésticas e familiares muito deficientes, que impossibilitam uma aprendizagem eficaz.

 

O Brasil, assim como várias outras nações emergentes, ainda se mostra indeciso em termos de políticas públicas no campo da educação e do conhecimento. Urge mudar essa realidade.

 

*Fabio Arruda Mortara, M.A., MSc., empresário, é primeiro Coordenador Geral do PNBE-Pensamento Nacional das Bases Empresariais

Sobre o PNBE
Fundado em junho de 1987, o PNBE é uma entidade empresarial não corporativa, apartidária e plural, de âmbito nacional, formada por empresários e empreendedores de todos os portes e ramos da atividade econômica, que lutam pelo fortalecimento da cidadania e aprofundamento da democracia nas diversas instâncias da nação (governos da União, estados, municípios), pela ética na política e amplo exercício dos direitos da cidadania no Brasil e pelo desenvolvimento econômico com justiça social e preservação ambiental. O PNBE busca mobilizar a sociedade para construir um ambiente socialmente justo, economicamente forte e inclusivo, ambientalmente sustentável, democraticamente estável e eticamente respeitável, agindo dentro de um espaço democrático, apartidário, que apoia políticas públicas e projetos identificados com seus ideais, ao mesmo tempo em que combate os clientelistas, antiéticos, corporativos e ineficientes.

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