Vizinhos relatam que, apesar do jeito da idosa viver ser excêntrico, ela segue com a mesma rotina, mas com maior reclusão
Margarida Bonetti, que ficou conhecida como “a mulher da mansão abandonada” há cerca de um ano, continua reclusa e sem aceitar visitas em sua casa localizada na rua Piauí, em Higienópolis, bairro nobre da capital paulista. Segundo a advogada responsável pela defesa da idosa na época da repercussão, Helena Monaco, a idosa não tem mantido contato, ao menos, com ela.
A mulher, de 68 anos, ganhou fama nacional após um podcast produzido pela Folha de S.Paulo revelar que ela era investigada pelo FBI por manter uma empregada em condições análogas à escravidão nos Estados Unidos. Ela deixou o país e passou a morar na mansão na capital paulista antes de ser julgada.
No fatídico dia em que um mandado de busca e apreensão foi cumprido pela Polícia Civil, muitas equipes, curiosos e veículos de comunicação se reuniram em frente à casa de Margarida para acompanhar a operação. Helena, que é vizinha e síndica há anos do edifício localizado ao lado da mansão, viu a movimentação na rua, que costuma ser calma, e desceu para ajudá-la.
“Teve toda aquela confusão, mas eu não tinha ideia da dimensão do caso, parecia ser uma coisa simples. Depois que tudo abafou, a Margarida não entrou mais em contato comigo”, afirmou a advogada.
No dia da operação da polícia, Helena foi até a delegacia para iniciar os procedimentos de defesa da família de Margarida que, inicialmente, foi denunciada por abandono de incapaz por um vizinho. Para ela, o jeito de viver da idosa é diferente, mas não há nada de errado.
Na época em que o caso viralizou, o então delegado-geral de São Paulo, Osvaldo Nico Gonçalves, afirmou que o mandado de busca e apreensão tinha como objetivo ajudar a mulher. Uma equipe médica chegou a ir no local fazer uma avaliação da saúde de Margarida.
De acordo com a SSP (Secretaria de Segurança Pública), o inquérito policial de abandono de incapaz instaurado pela 1ª Central Especial de Repressão ao Crime Organizado foi arquivado pela Justiça. Os familiares da idosa foram ouvidos e a perícia constatou que não há risco nas estruturas da mansão.
Além da denúncia de abandono de incapaz, a Delegacia do Meio Ambiente do Departamento de Proteção à Cidadania investiga uma denúncia de maus tratos aos animais. “Foi constatado que três cães foram realmente maltratados. A polícia trabalha para relatar o caso”, informou a SSP por nota.
A advogada ainda conta que continua recebendo as atualizações dos inquéritos policiais, mas, como Margarida e a família não entraram mais em contato, não se considera mais a representante legal da idosa. “Ela [Margarida] deveria ter ido até a delegacia, mas não quis ir (…). Está tudo meio parado, os processos estão meio esquecidos”, diz.
Mansão continua em más condições
EDU GARCIA/R7 – 06.06.2023
A mansão continua em más condições e sem grandes alterações visuais entre 2022 e este ano. Três casinhas de cachorro continuam na varanda da casa e, de acordo com porteiros e pessoas que frequentam a rua, a vida de Margarida Bonetti segue quase a mesma. Ela está mais reclusa do que era, porque agora é conhecida por boa parte das pessoas.
Quando a operação policial foi deflagrada, os policiais encontraram na mansão, avaliada em R$ 15 milhões, entulho, móveis sujos, lixo e restos de comida. “A casa cheira a lixo, cheira muito forte. A casa é muito insalubre. Existe a possibilidade de ter mais animais”, afirmou a delegada Vanessa Guimarães, responsável pela operação na época.
Na época, o grande choque para o público foi a sujeira, a quantidade de lixo e objetos acumulados, além do mau cheiro.
De acordo com Francisco de Assis Paiva, zelador e porteiro do prédio ao lado da mansão abandonada, a idosa continua com a mesma rotina. “O pessoal ainda passa curioso, mas diminuiu bastante”, conta.
“As pessoas a fantasiam, mas a Margarida é normal e inteligente. Ela é muito esperta. Tem televisão e celular. É antenada e conversa sobre tudo”, afirma Francisco. Entretanto, à reportagem, o zelador não deixou de condená-la pela denúncia sobre trabalho análogo à escravidão nos Estados Unidos.
Segundo relatos de vizinhos, Francisco é a pessoa que mais tem contato com Margarida, fazendo pequenos favores a ela e conversando, por conta da proximidade dos terrenos. Além do zelador, uma das irmãs vai periodicamente levar mantimentos para a idosa.
Para Francisco César, porteiro do prédio que fica em frente a mansão, quando o caso repercutiu foi complicado e estressante para os moradores e frequentadores da rua Piauí. Porém, além do modo excêntrico que Margarida vive, ela não passa de uma vizinha da rua.
Um segurança desse mesmo edifício contou que a idosa é vista poucas vezes. Recentemente, ele a viu conversando com um grupo de pessoas. Na ocasião, a idosa alegou que todos os acontecimentos de 2022 foram uma calúnia e que daria uma declaração apenas quando tudo fosse esclarecido.
A reportagem tentou entrar em contato com Margarida Bonetti, mas não foi atendida.