“Tudo Sobre Todos”: conheça o serviço ilegal que assustou o Brasil

 

A privacidade de nossas informações pessoais é uma expectativa básica das gerações que cresceram fora do mundo digital: um vizinho abrindo e lendo suas cartas, a leitura de um diário roubado, ou um pedido por documentos importantes como RG e CPF sem justificativa, seriam todas práticas vistas com maus olhos e, crucialmente, geram o sentimento de violação de um direito fundamental de privacidade. No mundo digital, no entanto, a história é um pouco diferente.

 

Plataformas como o Facebook, Google e TikTok coletam quantidades enormes de dados pessoais dos usuários – como localização, nome completo, idade, gostos pessoais, conversas privadas, fotografias armazenadas em nuvem e muito mais – e utilizam esses perfis para treinar seus algoritmos, vender anúncios, e até mesmo manipular resultados de eleições ou hábitos de consumo. Ainda assim, é possível argumentar que os usuários consentem com a troca de informações pessoais pelo serviço providenciado gratuitamente por estas plataformas – mas e quando dados extremamente sensíveis são vazados e comercializados na internet? O “Tudo Sobre Todos” foi o exemplo mais popular da prática de venda de dados pessoais de brasileiros – e apesar de não ser mais uma ameaça, sua história ainda é relevante: especialistas de segurança digital da ExpressVPN mostram que, em 2023, os criminosos ainda vendem os dados de qualquer brasileiro – mas na dark web, região oculta da internet onde o crime é pouco monitorado. Confira.

“Tudo Sobre Todos” consulta informações vazadas de brasileiros

 

Criado em 2011, o “Tudo Sobre Todos” era um site comum que podia ser facilmente encontrado através de uma busca no Google, se tornando rapidamente viral no país. Seu objetivo original era fornecer informações públicas sobre empresas e pessoas, mas com o tempo passou a agregar dados pessoais coletados de fontes variadas, incluindo bancos de dados públicos e privados. A equipe do “Tudo Sobre Todos” afirmava que os dados eram adquiridos legalmente, mas essa afirmação não é verdadeira e servia apenas para postergar possíveis ramificações legais, uma vez que muitos dos dados eram provenientes de vazamentos de outras empresas ou órgãos governamentais, e portanto, não podiam ser utilizados ou disponibilizados de forma pública.

Em agosto de 2017, a Polícia Federal prendeu dois indivíduos responsáveis pelo “Tudo Sobre Todos” e removeu o site da internet. Apesar de ajudar a aliviar o problema, dificultando o acesso ao serviço, os bancos de dados utilizados ainda são amplamente divulgados e vendidos na Dark Web, onde criminosos podem buscar informações pessoais de uma vítima com grau absurdo de precisão – é possível encontrar o endereço residencial, CPF e RG, foto, nomes e endereços de parentes imediatos, local de trabalho, entre outros dados vazados.

Os dados pessoais são vendidos a preços relativamente baixos e podem ser usados ​​para cometer diversos tipos de crimes, como extorsão, roubo de identidade e fraude, além de facilitar crimes violentos como a perseguição, assalto, sequestro e semelhantes. As informações podem ser usadas por hackers para invadir contas de e-mail e de mídias sociais e, a partir daí, também obter acesso a backups em nuvem de fotos íntimas, dados confidenciais de empresas e ambientes de trabalho, lista de contatos, cartões digitais e bancos.

Vazamento de dados pessoais é crime no Brasil

 

No Brasil, existem leis que protegem os direitos dos usuários em relação à privacidade e à segurança de dados. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), por exemplo, estabelece regras sobre a coleta, armazenamento, tratamento e compartilhamento de dados pessoais por parte de empresas privadas e agências públicas – assim, se um aplicativo de delivery de comida, farmácia, provedor de serviços como internet ou imobiliárias, pedirem qualquer tipo de dado pessoal para cadastro – será de responsabilidade da empresa ou prestador garantir que os dados coletados foram expressos de forma clara e consentida pelo usuário, serão armazenados de forma segura, as vítimas serão informadas em caso de vazamento ou comprometimento dos sistemas de segurança, e que nenhuma informação será vendida para terceiros sem autorização.

 

Ao descobrir que teve seus dados pessoais vazados, ou observar indícios que levantem essa suspeita como a criação de dívidas desconhecidas em plataformas como o Serasa, é importante seguir os seguintes passos para minimizar os danos e buscar amparo legal:

 

  • Entrar em contato com a empresa responsável pelo vazamento, caso seja possível identificá-la.

 

  • Registrar uma queixa na Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), órgão responsável por fiscalizar o cumprimento da LGPD.

 

  • Notificar as instituições financeiras e operadoras de cartão de crédito que você utiliza, e bloquear cartões digitais.

 

  • Alterar todas as senhas de contas em sites como Gmail e YouTube, redes sociais, plataformas empresariais, e qualquer outro serviço relevante.

 

  • Monitorar atividades suspeitas em suas contas e manter-se atento a possíveis fraudes.
  • Contatar um advogado especializado em proteção de dados pessoais para orientação e defesa de seus direitos legais.

 

A privacidade no mundo online ainda representa um problema grave que, de forma alarmante, não preocupa a maioria dos internautas brasileiros – especialmente aqueles mais novos que cresceram acostumados ao universo da internet. No entanto, suas consequências são cada vez mais desastrosas para a saúde mental, vida financeira e integridade, por isso, é importante conhecer e combater as fontes de vazamento de dados e as atividades criminosas que se beneficiam das vítimas.

 

 

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