SERIA VERDADE QUE O HIV NÃO É CONTAGIOSO?

Por LOWRY LANDI

Mesmo o tema do momento seja o COVID-19 e, em especial, a Variante Delta, temas como o HIV continuam em voga. E, com isso, um grupo de cientistas de todo o mundo começam a defender uma hipótese que está literalmente dividindo a Medicina mundial, a de que a AIDS não seja contagiosa. E então? Quem está com a razão?

Em abril de 2000, o biólogo molecular Peter Duesberg, da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, teve um surto de animação assim que recebeu uma carta assinada pelo presidente da África do Sul. Era um convite para participar, naquele país, de um debate sobre a relação entre o HIV e AIDS. Duesberg, o mais destacado defensor da tese de que a síndrome não é causada pelo vírus, aceitou a proposta e foi até Pretória discutir com mais de 30 especialistas escolhidos pelo governo local – metade deles partilhando da sua opinião. Após acompanhar as explanações, Mbeki manteve a posição de seu país em não fornecer drogas anti-HIV para mulheres grávidas. Afinal, se o vírus não causa  AIDS, não faria sentido tentar evitar a sua transmissão de mãe para filho. Ainda mais considerando o alto preço dos medicamentos para um país em desenvolvimento (cada uma das pacientes consumiria cerca de 10.000 dólares por ano com a terapia padrão).

E como ficou a comunidade científica após esta bombástica notícia? A reação foi imediata. Pouca antes da 13ª Conferência Internacional sobre AIDS, realizada em Durban, na África do Sul, cerca de 5.000 cientistas de 80 países assinaram uma declaração reafirmando a tese de que o HIV causa a AIDS.

A crescente pressão política e a revolta interna (que incluiu desde membros do Ministério da Saúde até Nelson Mandela, o padrinho político do presidente Mbeki) fizeram com que o governo sul-africano se retirasse do debate, permitindo que alguns hospitais do país passassem a oferecer drogas antiaids para gestantes.

Mas a polêmica trouxe os chamados REBELDES DA AIDS de volta à mídia. Duesberg, espécie de porta-voz do grupo, que vinha tendo seus artigos e ideias sistematicamente boicotados no meio científico, encontrou novo espaço. “Graças a Mbeki”, disse ele na época, “a coisa está esquentando como nos velhos tempos”.

Ao falar dos VELHOS TEMPOS, o cientista alemão radicado nos Estados Unidos se referia à segunda metade dos anos 80. Naquela época, ele era considerado por seus pares um dos maiores virologistas do mundo, pioneiro na descrição da estrutura dos retrovírus (categoria a que pertence o HIV). Eleito para uma cadeira na seleta Academia Nacional de Ciências americanas em 1986 – e agraciado com uma dotação de verba de pesquisador emérito, da ordem de 500.000 dólares anuais – Duesberg chocou seus colegas no ano seguinte, quando tornou pública a sua tese de que a AIDS não seria causada pelo HIV. Ao fazer isso, ele colocou em risco sua reputação e sua carreira: perdeu o respeito da maioria dos colegas e o financiamento para suas pesquisas. O cientista afirma que o boicote contra ele é sustentado pelos produtores de medicamentos contra o HIV (mercado que chega a movimentar mais de 2,5 bilhões de dólares por ano só nos Estados Unidos). Duesberg permanece à margem da pesquisa de ponta sobre o vírus e concentra seus esforços em atacar os pontos falhos que enxerga na teoria dominante.

Os REBELDES DA AIDS surgiram em 1991. Seu nome oficial é Grupo para a Reavaliação Científica da Hipótese HIV/AIDS, que conta com mais de 600 cientistas em diversos países, não esquecendo que Duesberg só se juntou a eles em 1993). Todos eles acreditam que não existem evidências suficientes para atribuir a síndrome ao vírus. E com isso, Duesberg cita 4.000 casos de AIDS no mundo cujos pacientes não tinham HIV. Mas o assunto foi tão polêmico que mesmo entre os cientistas do Grupo há várias interpretações.

A biomédica australiana Eleni Papadopulos-Eleopulos, fundadora do Grupo, é da facção mais radical: ela sustenta desde 1988 que o HIV simplesmente não existe, por mais que já tenha sido fotografado com microscópios e geneticamente sequenciado –Duesberg a critica veementemente por isso. Mas o membro mais ilustre do Grupo talvez seja Kary Mullis, que ganhou o Prêmio Nobel de Química em 1993por ter inventado o PCR (sigla em inglês para Reação em Cadeia da Polimerase), um método de identificação genética fundamental para a pesquisa contemporânea, incluindo o Projeto Genoma – e a forma mais eficaz para identificar a presença do HIV no corpo. Conhecido por seu perfil polêmico – discorda que a camada de ozônio esteja diminuindo, por exemplo – ele abandonou as pesquisas há algum tempo.

Duesberg mantém basicamente as mesmas posições desde o final dos anos 80. Ele aceita a definição corrente da AIDS: um conjunto de doenças que ataca as vítimas devido à destruição de seu sistema imunológico. A sua divergência com a tese dominante está nas causas da síndrome. Em vez de ser contagiosa, a AIDS seria um problema comportamental, ou uma EPIDEMIA QUÍMICA. Em um artigo publicado em parceria com o colega David Rasnick, em 1997, na revista Continuum, publicação ligada ao Grupo para a Reavaliação Científica da Hipótese HIV/AIDS, Duesberg formulou os pontos principais da sua hipótese. Segundo esta hipótese, todas as doenças relacionadas à AIDS que excedem  o seu nível normal nos Estados Unidos são causadas pelo consumo de drogas recreacionais ou medicamentos anti-HIV. Afirma ainda que esta hipótese é baseada no único risco novo à saúde que emergiu durante os últimos 25 anos na América e na Europa: a epidemia das drogas, deixou claro os autores.

Segundo o Centro de Controle e prevenção de Doenças dos Estados Unidos  (CDC), até 1999 cerca de 85% dos casos de AIDS naquele país ocorriam em homens – em sua esmagadora maioria homossexuais  e usuários de drogas. E conclui dizendo que, “cerca de 80% dos usuários de drogas intravenosas são homens e porque homossexuais masculinos usam drogas afrodisíacas, anfetaminas e cocaínas”, afirma Duesberg. E continua: “O comportamento promíscuo, que seria mais comum entre os indivíduos, que seriam mais comuns entre os indivíduos desse grupo, implicaria em uma série de doenças que debilitariam o sistema imunológico”. Para Duesberg, se a AIDS fosse realmente contagiosa deveria ter se espalhado uniforme pela população norte-americana.

Mas e a África? Lá a síndrome ataca igualmente homens e mulheres. Duesberg rebate: “a causa de imunodeficiência naquele continente não são as drogas, mas a fome”. Na realidade africana, portanto, faria muito sentido o fato de a síndrome atingir igualmente os dois sexos – já que ambos são da mesma forma vulneráveis à falta de comida e aos estragos que a subnutrição faz no sistema imunológico.

O epidemiologista norte-americano Jay Levy, da Universidade da Califórnia, em San Francisco, tem uma visão oposta à de Duesberg, quando atribui ao EFEITO FUNDADOR a predominância de casos masculinos de AIDS nos países desenvolvidos. “A infecção pelo vírus começou essencialmente na comunidade  homossexual”, diz Levy. E continua: “O vírus se espalha mais rapidamente pelo contato anal-genital”. “Como esse tipo de transmissão é mais comum entre homossexuais, isso explicaria uma taxa inicial mais alta entre os homens”, afirma. Dessa forma, Levy acredita que o número de mulheres norte-americanas com AIDS tende a aumentar nos próximosanos.

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