Pesquisadores descobriram diminuição na dor e no estresse de pacientes em UTI
Seja para entreter ou fazê-las dormir, a prática de contar histórias para crianças é familiar a pais e cuidadores variados. Ela pode ser considerada como elemento da cultura universal, e, quando as crianças em questão são pacientes de instalações médicas, a contação de histórias se torna uma atividade terapêutica.
Baseadas em uma dedução empática dos seus efeitos benéficos, muitas instituições, como a Associação Viva e Deixe Viver, realizam a atividade como forma de aliviar a jornada de crianças internadas em diferentes instalações. Os efeitos sempre foram aparentes, mas recentemente um estudo conduzido pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), em parceria com a Universidade Federal do ABC (UFABC) e a Viva, apontou evidências concretas de impactos físicos e emocionais.
Publicado pelo Proceedings of the National Academy of Sciences, periódico da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, e realizado pelo pesquisador Guilherme Brockington, o estudo analisou 81 crianças de 2 a 7 anos, pacientes sob cuidados intensivos em decorrência de problemas respiratórios como asma, bronquite ou pneumonia.
As crianças foram divididas em dois grupos. A Viva realizou para o primeiro sessões de contação de histórias, e para o segundo, o grupo controle, atividades envolvendo perguntas e respostas, charadas e enigmas.
Ao fim de cada sessão, as condições físicas e psicológicas das crianças foram medidas através de amostras de saliva e comparadas pelos pesquisadores. Os resultados mostraram que ambos os grupos apresentaram aumento nos seus níveis de ocitocina, hormônio relacionado à empatia e felicidade, e diminuição nos níveis de cortisol, relacionado ao estresse.
No entanto, as crianças que participaram das sessões de contação de histórias apresentaram números próximos ao dobro dos registrados pelo grupo de controle, tendo aumentado em até seis vezes o grau original de ocitocina.
Esses resultados trazem à tona evidências sólidas e cientificamente comprovadas que podem ajudar na popularização da prática e de pesquisas relacionadas. A contação de histórias, se utilizada por mais esferas da saúde, pode trazer inúmeros benefícios para o tratamento de infantes.
Assim, uma das frentes poderia ser com o Sistema Único de Saúde (SUS), que conseguiria oferecer essa contribuição, trazendo uma experiência mais agradável a crianças de famílias em situação de vulnerabilidade. A prática poderia até mesmo ganhar mais destaque no âmbito acadêmico. De farmácia EAD até biomedicina, todo curso da área da saúde poderia se beneficiar com esse conhecimento, preparando seus estudantes para os desafios da profissão.
“Durante a contação de histórias, acontece algo que chamamos de ‘transporte da narrativa’, ou seja, a criança, por meio da fantasia, pode experimentar sensações e pensamentos que a transportam, momentaneamente, para outro mundo, outro lugar, diferente do quarto do hospital e, portanto, longe das condições aversivas de uma internação”, afirmou o Dr. Guilherme Brockington ao Proceedings of the National Academy of Sciences.
Já são conhecidos há muito tempo os efeitos da ficção sobre a psique e o comportamento humano, e esse “transporte da narrativa” vivenciado pelas crianças pode ser comparado a um forte sentimento de catarse, capaz de confortá-las.
Não é à toa que, em uma parte do estudo, constituída de testes de associação de palavras, as crianças do grupo das histórias apresentaram visões significativamente mais positivas do hospital e seus elementos. O estudo revela mais uma evidência da importância das histórias para a sociedade e é esperado que esforços como esse se tornem cada vez mais populares.