Análise: Ignorância é um prato cheio para aproveitadores

Falta de interesse do brasileiro por assuntos importantes promove a ação de maus políticos, golpistas e todo tipo de manipulação

 

Não é preciso nenhuma pesquisa oficial para afirmar que fofocas chamam muito mais a atenção do brasileiro do que informações importantes sobre política, finanças, educação e até mesmo saúde. Mas, para quem ainda tem dúvida, é só verificar quais são os assuntos mais lidos de qualquer portal de notícias.

O mesmo comportamento se repete em relação aos programas de televisão, rádio, vídeos do YouTube e em todos os veículos de comunicação, desde os analógicos até os digitais. Em suma: qualquer que seja o meio, o brasileiro prefere muito mais estar por dentro do que acontece na vida de pessoas que nem sequer conhece do que se informar sobre assuntos que interferem em sua própria vida. E isso não é de hoje.

Em 27 a.C., na Roma Antiga, o imperador Otávio Augusto instituiu uma política que é utilizada até os dias de hoje e que, infelizmente, ainda é muito bem-sucedida: “panem et circenses”, o famoso pão e circo. Naquela altura, a distribuição de pão para os pobres que viviam nas ruas e o oferecimento de um trabalho nos espetáculos bastou para manter a população sob controle.

Mais tarde, quando o pão já não era suficiente para manter o povo na linha, o império romano passou a distribuir também trigo e a permitir que eles assistissem os espetáculos no coliseu, onde gladiadores lutavam, muitas vezes, até a morte. Essa política foi e ainda é muito eficiente, mas, assim como todas as coisas que atravessam séculos, de tempos em tempos é necessário fazer alguns ajustes.

Hoje em dia, não são mais apenas os políticos que se beneficiam dela, mas também todos aqueles que têm interesse em distrair as pessoas enquanto implantam seus próprios projetos. Assim tem sido na mídia em geral, na literatura – que no Brasil está mais desprestigiada do que nunca – e até mesmo dentro das escolas, onde o que menos importam são as disciplinas educacionais. Desde pequenas as crianças têm sido incentivadas a fazer apenas o que querem, o que lhes diverte e o que lhes distrai, em detrimento de coisas que proporcionam um desenvolvimento saudável e um melhor preparo para o futuro.

Essa falta de interesse do brasileiro em relação ao que realmente interessa não surgiu do nada, mas foi muito bem trabalhada ao longo dos anos e, atualmente, está dando os frutos podres que temos visto. É preciso sair desse ciclo vicioso, dessa roda dos ratos que suga todas as energias e que não nos leva a lugar algum. É preciso entender que esse pão é feito com ingredientes que nós mesmos pagamos e que, nesse circo, os palhaços somos nós.

Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

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