Seria possível um acordo de paz entre Irã e Israel?

A questão hegemônica no Oriente Médio está presente desde a própria fundação do Estado de Israel

 

De um lado, o Irã adota uma política explícita de hostilidade a Israel, levantando como bandeira a questão dos direitos humanos dos palestinos em Gaza e na Cisjordânia. Israel, por sua vez, afirma que respeita esses direitos, mas, em casos de conflitos, busca apenas se proteger, sem a intenção de atacar civis.

Por outro lado, o regime iraniano tem sido considerado, por várias entidades internacionais, como a Anistia Internacional, um dos que mais desrespeitam os direitos humanos no mundo. Ao longo dos anos, tem levado à morte vários prisioneiros que foram considerados culpados por crimes que já são vistos como direitos de cidadania em vários outros países.

O Irã já executou prisioneiros acusados de homossexualismo e dissidência política, entre outros. Em 2019, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, que continua no cargo, justificou a execução de homossexuais e afirmou à revista Bild que tal prática punitiva iria ter prosseguimento.

A Anistia Internacional relata que, no total, foram 289 condenados à pena de morte no Irã em 2014; 977, em 2015; 567, em 2016; 507, em 2017; 253, em 2018; 251, em 2019 e 246, em 2020.

O Irã se defende, argumentando que os números são exagerados e que toda a condenação à morte só ocorre após longo e completo processo judicial. A maioria delas, segundo as autoridades iranianas, é em função de uma intensa luta contra o tráfico de drogas no país.

Paradoxalmente, Israel se tornou uma democracia na região e, indepententemente de questões territoriais, que precisam ser resolvidas, deu espaço para os árabes disputarem as eleições e terem cidadania israelense.

Há interesses dentro do conflito, portanto, que se sobrepõem à retórica e à lógica apresentadas em discursos do Irã.

Sejam elas ligada ao discurso de defesa dos direitos humanos e da causa palestina, pelo Irã, sejam na tese dos conflitos entre sunitas e xiitas, que buscam a hegemonia da região, envolvendo um conflito de interesses entre Irã e Arábia Saudita.

“A Arabia Saudita está em um processo de aproximação velada com Israel, lembre-se dos tratados de paz e estabelecimentos de linhas de transporte, comerciais com países do Golfo, por trás disso tem o interesse saudita. Tanto que, contrariamente à Turquia, a Arábia Saudita ficou silente em relação ao acontecido entre Hamas e Israel ou até foi solidária a Israel, é uma questão de interesse geopolítico, de composição, contra um inimigo comum, o Irã. Dentro dessa perspectiva o Irã tem interesse em desestabilizar Israel, são inimigos, historicamente apoia sim o Hamas, independente do seu fundamento sunita, aqui é um inimigo comum, é a causa anti-israelita, é basicamente isso”, afirma Danilo Porfírio Castro Viera, professor .

A questão hegemônica no Oriente Médio, portanto, está presente desde a própria fundação do Estado de Israel, em 1948.

Até então sob controle de britânicos e russos, e depois de britânicos e soviéticos, durante a Segunda Guerra Mundial, o Irã buscava sua liberdade, naqueles anos 30 e 40. Em 1935, deixou de se chamar Pérsia e adotou seu atual nome.

O nacionalismo iraniano se incomodava com o surgimento de um país judaico na região, temeroso, entre outros fatores, que influências do Ocidente se perpetuassem por lá, em busca do controle do petróleo.

Tal nacionalismo surgiu com mais força quando Mohammad Mussadeq assumiu o cargo de primeiro-ministro, entre 1951 e 1953, até ser deposto pelo Xá Reza Pahlevi, que teve o apoio britânico e americano.

Antes, porém, já havia resistência à ideia de um Estado Judaico, aliando essa sensação de se sentir ameaçado a uma rivalidade milenar. O Irã foi um dos que votaram contra a Partilha da Palestina, não aceita pelos países árabes, em 1947.

O Irã só viveu um período de maior aproximação com Israel, com laços comerciais, entre 1953 e 1979, também por interesses políticos de setores ligados ao ditador Pahlevi.

Mas as hostilidades com Israel voltaram à tona a partir de 1979, com a Revolução Islâmica que dura até hoje.

Tal postura iraniana acaba sendo um fator preponderante no atual conflito entre Israel e grupos palestinos, fornecendo suporte para o Hamas desenvolver seu arsenal, já não tão precário.

Um entendimento com o Irã é peça-chave para superar esse conflito que parece não ter fim.

A compreensão dos temores e traumas que movem os dois lados tem um poder imenso de cura de hostilidades.

Na relação de Israel com vários países sunitas, como Emirados Árabes, Bahrein e Sudão, onde inclusive eram fabricados armamentos para o Hamas, isso já está em andamento. Eles já não veem mais Israel como ameaça. Algo que, há algum tempo, também parecia impossível.

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