Crise nos hospitais de Minas Gerais leva a transferência de pacientes

Com leitos dedicados a pessoas contaminadas pelo vírus sem vagas ou em nível de ocupação superior a 90%, grandes municípios de 6 regiões buscam saídas

O drama em Minas Gerais da falta de leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) e enfermarias, devido ao aumento do número de pacientes contaminados pelo novo coronavírus, não é diferente daquele observado em outros estados. O Estado de Minas levantou informações ontem em nove grandes municípios de sete regiões do estado que já enfrentam o colapso no atendimento hospitalar: Triângulo, Alto Paranaíba, Noroeste, Sul, Vale do Aço, Norte e Região Central. Em todas estas cidades – Uberaba, Uberlândia, Patrocínio, Patos de Minas, Montes Claros, Itajubá, Pouso Alegre, Ipatinga e Mariana –, a maioria delas demandada por vizinhos sobre os quais exercem influência na geração de emprego, saúde e educação, passa de 90%, e alcança a saturação, em alguns casos, a taxa de uso de leitos hospitalares. A Prefeitura de Uberaba, no Triângulo, não viu alternativa a não ser transferir pacientes em tratamento contra a COVID-19 na rede privada para hospitais de Franca e de Ribeirão Preto, em São Paulo. Itajubá, no Sul do estado, pediu ajuda ao governador Romeu Zema (Novo) para abrir mais equipamentos, após chegar à lotação completa de leitos destinados a pacientes com a doença respiratória.

Superlotação afeta Norte e Sul do estado

Em extremos geográficos de Minas, Montes Claros, no Norte, e Itajubá, no Sul, enfrentam lotação máxima de leitos hospitalares destinados a pacientes infectados com o novo coronavírus e endureceram as medidas sanitárias para deter o avanço da COVID-19. A secretária de Saúde do município polo do Norte mineiro, Dulce Pimenta, fez um apelo dramático para que a população respeite o isolamento social. “Os hospitais da cidade esgotaram sua capacidade. Não existem mais leitos disponíveis para pacientes da COVID-19 em Montes Claros”, afirmou.

Em Itajubá, o prefeito Christian Gonçlalves conversou com o governador Romeu Zema (Novo) e pediu recursos para abrir mais leitos, após o municíipio teer registrado 100% de coupação de equipamentos usados por pacientes infectados pelo vírus.. “Com muita atenção e com muito respeito ele [Romeu Zema] recebeu as nossas demandas, entre elas principalmente a importância do credenciamento de novos leitos na cidade de Itajubá, a qual ele se prontificou a analisar e trabalhar para que a gente consiga no futuro”, disse o prefeito em vídeo divulgado nas redes sociais. Pouso Alegre, na mesma região, quer ampliar leitos, mas não tem profissionais para trabalhar.

Desde quinta-feira da semana passada, Montes Claros vive sob o toque de recolher , com a proibição da circulação de pessoas e veículos nas vias públicas entre as 22h30 e as 5h. Supermercados, lojas de conveniência, bares, restaurantes e similares só podem funcionar das 6h às 21h30. Há a expectativa de um outro decreto municipal ainda mais restritivo ao funcionamento dos estabelecimentos comerciais.

“Se não tivermos uma mudança comportamental da população, vamos ter um caos do sistema (de saúde) igual estamos vendo em outros municípios e outros estados”, afirmou a secretária Dulce Pimenta, ao considerar o pior momento para o município no enfrentamento da doença. Um agravante é o aumento, na cidade, de óbitos e internações de pacientes graves, que, até então, estavam fora do grupo de risco da doença, com idades entre 20 e 59 anos e que não apresentam comorbidades.

Os quatro hospitais conveniados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) anunciaram ter atingido a máxima capacidade de leitos destinados a pacientes com o coronavírus e suspenderam o atendimento a pessoas com suspeita ou confirmação da doença respiratória. São eles a Santa Casa de Misericórdia, hospitais Aroldo Tourinho, Mário Ribeiro e Hospital Universitário Clemente de Faria. Segundo dados da tarde desta terça-feira, Montes Claros tem 19.304 casos confirmados de COVID-19 e 300 mortes provocadas pela doença.

O universo de casos de contaminação em Itajubá teve alta de 103 registros em 24 horas, passando de 3.758 no domingo para 3.861 na segunda-feira. A taxa de letalidade no município está em 3,18. Isso significa que, a cada 100 contaminados, três não resistem aos sintomas da COVID. A cidade tem 30 leitos de UTI para atendimento de pacientes com a doença e todos estão ocupados. Os leitos clínicos estão com 94% de ocupação.

Na mesma região, Pouso Alegre registrou taxa de 96% ocupação de UTI’s destinadas a pacientes com COVID-19. Dos 32 leitos disponibilizadas, apenas um estava ontem vago. A ocupação de leitos clínicos está em 83%. A prefeitura afirma que a falta de profissionais qualificados impede a ampliação de equipamentos. “Para abrir um leito de UTI não basta ter uma cama, ter respiradores, como ter outros equipamentos. O que falta pra nós, em Pouso Alegre, e para todas as cidades do Brasil, chama-se profissional qualificado para trabalhar nas UTIs”, afirma o prefeito Rafael Simões. A cidade registra 102 óbitos provocados pela doença e 7.156 casos de contaminação.

Triângulo pede socorro

Diante da falta de leitos para atender pacientes contaminados pelo coronavírus e que necessitam de tratamento contra outros enfermidades, o prefeito de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, Odelmo Leão (PP), admitiu, ontem, que a cidade entrou em colapso na Saúde. “A rede de saúde de Uberlândia colapsou. Friso: colapsou. A situação é caótica. A gente pediu, a gente apelou para que todos compreendessem o momento que vivíamos, para que não chegássemos a essa situação. Infelizmente, muitos não ouviram e duvidaram desta doença. Hoje a nossa situação é a pior de todas as que vivemos”, disse.

A vizinha Uberaba começou a transferir pacientes que estavam em hospitais privados para unidades de saúde de Franca e Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. A taxa de ocupação dos leitos particulares de UTI/COVID-19 chegou a 100% no município e voltou na segunda-feira aos 94%. Na rede pública, 64% desses equipamentos estão em uso. De acordo com Diego Amad, diretor do Hospital Regional José Alencar, da rede pública, disse à Rádio JM que, no momento, o paciente da rede privada somente será incluído na regulação de leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) após o esgotamento total das opções de internação.

Em Patrocínio, na mesma região do Alto Paranaíba, novo decreto municipal de enfrentamento à COVID-19, com validade de sete dias, foi publicado na segunda-feira, proibindo o uso de transporte urbano por maiores de 65 anos. A lotação máxima dos veículos ficou limitada em 50% da capacidade total.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que na Santa Casa a taxa de ocupação de leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) destinados a pacientes com COVID-19 alcançou 100%. No hospital Med Center, atingiu 80%. No Pronto-Socorro Municipal, o setor de emergência está com 100% das vagas ocupadas, o de urgência com 75% e a enfermaria, 55%. Desde o início da pandemia, Patrocínio totalizou 4.501 casos positivos da doença, sendo que desses 85 pessoas morreram e 4.270 se recuperaram.

Também localizado no Triângulo, o município de Frutal adotou toque de recolher todos os dias da semana, das 23h às 5h, e multa de R$ 514,50 para quem for flagrado sem máscara de proteção. Foi suspensa a abertura de bares, restaurantes, comércio de rua, academias, lojas de conveniência, entre outros estabelecimentos, aos finais de semana. Os segmentos alimentícios podem fazer entregas, tanto no sábado como no domingo, até as 22h. Foram confirmados 29 novos casos da doença rm 24 horas – desde o início da pandemia, 3.600 pessoas se infectaram com o vírus na cidade. Desse total, 92 morreram e 3.346 se recuperaram. (RM e VL)

Pressão de vizinhos sobe no Vale do Aço

A taxa de ocupação de leitos de terapia intensa (UTIs) dedicados ao atendimeneto de pacientes com a doença respiratória está à beira do colapso em Ipatinga, no Vale do aço mineiro, tendo atingido a marca de 98%. Na Região Central de Minas, Mariana já enfrenta lotação completa no Hospital Monsenhor Horta, e entrou em alerta com a taxa de 90% de uso de equipamentos na Santa Casa de Misericórdia de Ouro Preto, hospital que atende os casos mais graves de COV ID-19.

No boletim epidemiológico emitido em Mariana na segunda-feira, foi registrada mais uma morte provocada pela doença, o que leva ao total de 39 óbitos desde o início da pandemia. Só em janeiro e fevereiro morreram 12 pessoas que se contaminaram com o vírus. Os casos de contaminação somam 5.153 registros, dos quais 1.715 verificados neste ano.

Ainda em Ipatinga, O percentual alarmante de ocupaçã de leitos de UTI destinados ao tratamento de pacientes com COVID-19 correspondia, ontem, ao uso de 44 dos 45 equipamentos da rede do Sistema Único de Saúde (SUS) disponíveis no município. A conta considera a demanda da cidade e de municípios do entorno.

Do total de leitos ocupados, 21 pacientes são de Ipatinga e outros 23 saíram de outras cidades do Vale do Aço. Na enfermaria da rede pública, a taxa de ocupação é menor e chegou aos 67% ontem. São, ao todo, 75 equipamentos de enfermaria para tratamento de doentes contaminados pelo vírus. (TF e NM)

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