Primeiro caso no país de reinfecção de Covid-19 com nova variante é identificado em Salvador

Pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) identificaram a nova linhagem em exames clínicos de uma mulher de 45 anos, que teve duas infecções distintas pelo coronavírus

 

 

Um caso de reinfecção de Covid-19 relacionado à nova variante do coronavírus Sars-CoV-2 e com uma mutação que supostamente dificulta a ação dos anticorpos neutralizantes foi identificado em Salvador.

Pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) identificaram a nova linhagem em exames clínicos de uma mulher de 45 anos, que teve duas infecções distintas pelo coronavírus: uma em 20 de maio e outra em 26 de outubro, com sintomas mais severos.

Para confirmar a reinfecção, é preciso fazer uma análise do genoma dos dois vírus e comparar a sequência do RNA -molécula “prima” do DNA, com uma única fita- para ver se são de fato duas linhagens diferentes.

A variante identificada, chamada B.1.1.248, possui a mutação E484K, identificada inicialmente na África do Sul e que tem sido associada a um chamado “escape imunológico”, ou uma maior dificuldade de ação dos anticorpos neutralizantes contra o vírus.

No caso da reinfecção encontrada no Brasil, a linhagem é diferente da sul-africana, derivada de uma nova linhagem identificada recentemente no Rio de Janeiro e que já estaria circulante no país. “Esta mutação foi recentemente identificada no Rio de Janeiro, mas é a primeira vez, em todo o mundo, em que é associada a uma reinfecção por Sars-CoV-2”, disse Bruno Solano, pesquisador do instituto.

Os cientistas ainda não têm informações suficientes para saber até que ponto a variante consegue “escapar” do sistema imune, mas, se isso for comprovado, é possível que essa variante possa afetar as vacinas em estudo e já em uso contra a Covid-19.

Além dessa mutação, a nova variante parece carregar também a mutação encontrada na linhagem B.1.1.7 identificada no Reino Unido, no gene N501Y, que pode estar associada a uma taxa de contágio maior.

Mutações no coronavírus são esperadas em grandes quantidades, mas algumas delas podem mudar as características do patógeno. A variante identificada no Reino Unido parece ser mais transmissível que as anteriores.

No Brasil, um grupo de pesquisadores já identificou pelo menos cinco variantes do coronavírus em circulação no país, duas das quais possuem características como a da variante encontrada em Salvador. A mais recente delas, batizada B.1.1.28, possui cinco SNVs (sigla em inglês para variantes de um único nucleotídeo), que se referem a mudanças nas “letrinhas” que compõe o material genético do vírus e podem estar associadas a novas características do parasita.

Para identificar a nova linhagem, os pesquisadores analisaram 180 amostras do teste PCR do estado do Rio de Janeiro coletadas de março a novembro e fizeram uma análise filogenética delas. A árvore evolutiva encontrou quatro principais clados, sendo a nova variante a mais frequente. Os outros três grupos incluem uma linhagem chamada ancestral, a B.1.1.33, que hoje possui menor frequência na população, segundo os autores. A linhagem B.1.1.33 foi, também, a responsável pela primeira infecção da paciente em Salvador.

“Essa nova linhagem já aparecia em março no Brasil, mas sem essa mutação [E484K]. O sequenciamento das amostras mais recentes do estado do Rio de Janeiro, coletadas até meados de novembro, permitiu identificar essa mutação, além de outras mutações também presentes”, diz Ana Tereza Vasconcelos, pesquisadora do Laboratório Nacional de Computação Científica.

Em 36 das 38 amostras da nova linhagem, a mutação E484K foi identificada. “É a mesma mutação relacionada ao escape imunológico em outras regiões do mundo, mas não temos como afirmar, no momento, se ela está associada a qualquer tipo de característica de maior infectividade ou transmissibilidade e, nem mesmo, de reinfecção. Mas, como já estamos vendo que ela é mais preponderante, podem surgir novos eventos, sim”, explica.

Por isso, Vasconcelos destaca a importância de seguir as medidas de proteção contra o vírus, como usar máscaras, manter distanciamento social e evitar aglomerações. “Enquanto não tivermos uma diminuição da circulação do vírus no país, e isso só vai acontecer efetivamente quando tivermos a vacina, todas as medidas de prevenção precisam ser seguidas à risca. O vírus está evoluindo, isso é natural, e por isso essas e outras linhagens vão surgir.”

A mesma variante, informa a pesquisadora, foi encontrada também em São Paulo e no Rio Grande do Sul. “A caracterização dessas variáveis no país demonstra a importância de uma vigilância genômica do vírus, para monitorar essas e outras linhagens e saber o que é que está acontecendo aqui em termos de evolução do vírus”, completa.

Em nota, a Secretária da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) confirmou o primeiro caso de reinfecção e diz que a notificação oficial do Hospital São Rafael (grupo D’Or) do caso suspeito ocorreu no dia 22 de dezembro.

“A partir das análises das amostras sequenciadas pelo Núcleo de Vigilância Genômica em tempo real do Sars-CoV-2 no Brasil, do qual o Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia faz parte, foram obtidas as seguintes conclusões: as duas amostras agrupam-se em lados distintos e pertencem a duas sublinhagens diferentes, B.1.1.33 a amostra da primeira coleta e B.1.1.248 a amostra da segunda; elas apresentam perfil de mutações diferentes; a identificação na amostra referente à segunda coleta (caso de reinfecção) da mutação encontrada na nova variante da África do Sul, a E484K, na proteína S do Spike.”

A Sesab informa ainda que outros 118 casos suspeitos de reinfecção estão sendo investigados na Bahia.

As informações são da Folhapress

 

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