Médica choca o mundo com informações falsas sobre a covid-19

Vídeo diz que imunizante altera o DNA, cria quimeras e instala chips rastreáveis; infectologistas afirmam que informações são infundadas

 

Um vídeo que está circulando pelo Whatsapp com uma série de notícias falsas em relação à vacina da covid-19, mais especialmente à feita a partir de RNA mensageiro, uma tecnologia considerada inovadora utilizada nos imunizantes da Pfizer e da Moderna, tem chocado o mundo.

Em 4 minutos, a ginecologista e obstetra norte-americana Chistiane Northrup destila teorias infundadas que desqualificam a vacina que vão desde que ela seria capaz de alterar o DNA, criando quimeras (figura mitológica resultado da combinação de diferentes animais), até a instalação de um microship capaz de permitir que as pessoas sejam rastreadas.

Três infectologistas entrevistados afirmam que todas as informações divulgadas no vídeo são falsas e não contêm nenhum embasamento científico. “Fazem parte de um movimento antivacina e de teorias da conspiração”, afirma a infectologista Lina Paola Rodrigues, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Vale lembrar que existe uma expectativa de que a vacina da Pfizer comece a ser aplicada nos Estados Unidos nos dias 11 e 12 deste mês, após a análise do FDA (Food and Drug Administration), agência de regulação de medicamentos dos EUA, prevista para o dia 10.

DNA alterado

O vídeo com fake news afirma que o RNA mensageiro utilizado como base em algumas vacinas da covid-19 seria capaz de alterar o DNA. O infectologista Carlos Lazar, professor da disciplina de moléstias infecciosas na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), explica que isso é impossível. “A vacina contra a covid-19 não altera o DNA humano. O RNA mensageiro é um fragmento do material genético do novo coronavírus que não altera em nada o DNA da célula humana”, afirma.

Lina ressalta que o RNA mensageiro não tem contato com o DNA humano. Ele é uma molécula produzida em laboratório que simula o material genético do SARS-CoV-2, mas é incapaz de causar doença, apenas ativa o sistema imunológico ao ser inserida e o faz produzir anticorpos contra esse vírus específico.

“Ele é reconhecido por uma célula que, como se fosse o zelador de um predio, pega a informação e leva para uma célula mais especializada, que cria uma resposta imune complexa”, explica.

Metais pesados fazem pessoa virar “antena”

Outra afirmação considerada absurda pelos infectologistas divulgada no vídeo é que “metais tóxicos contidos na vacina transformam a pessoa em uma antena de 5G”. Lazar explica as vacinas não contêm metais pesados ou tóxicos. “Anteriormente, havia metais como mercúrio, mas em quantidades mínimas para conservar a vacina, para proteger o produto vacinal. Hoje não há necessidade porque são mais purificadas”, afirma.

DNA não humano transforma pessoas em quimera

A informação falsa de que o uso de DNA não humano transformaria pessoas em quimeras é totalmente fantasiosa. A infectologista explica que não existe essa tecnologia de juntar DNA humano com o DNA de um animal, gerando uma terceira criatura. “O que existe é a clonagem de um mesmo animal. A ciência ainda não conseguiu fazer uma quimera”, diz.

Tinta injetada que sob a luz permite ver quem foi vacina

Lina questiona para que serviria essa suposta tinta injetada para distinguir quem foi vacinado ou não. Ela ressalta que não existe a possibilidade de isso acontecer por meio de uma vacina. “Isso é uma teoria da conspiração, não tem fundamento”.

Roubo de dados biométricos

Outro argumento da médica norte-americana que está espalhando fake news é que a vacina roubaria dados biométricos ao ser injetada. Dados biométricos são características como peso, altura, cor dos olhos, explica a infectologista. “Esses dados servem para fabricante de roupas não fabricante de vacina”, frisa. Não há como uma vacina “roubar” dados ao ser injetada nem introduzir microchip com esse fim.

A fake news ainda afirma que a pandemia é uma cortina de fumaça para um plano de implante de microchips usados para rastrear as pessoas criado por Bill Gates, cofundador da Microsoft, Bill Gates, que já afirmou à imprensa que a teoria é falsa.

Conectar pessoas à criptomoeda

Os dados roubados, segundo a médica das fake news, seriam usados para conectar as pessoas à criptomoeda. “Não faz sentido. Vai fazer o que com isso?” questiona Lina. “Trata-se de uma ideia sem pé nem cabeça, uma teoria da conspiração que faz parte de um movimento antivacina para boicotar o uso da vacina contra a covid-19 de forma massiva”, afirma.

“É um anticientificismo total. A quantidade de bobagens ditas é criminosa. Acho que isso não é inofensivo, é danoso, traz desconfiança das vacinas, as pessoas deixam de se vacinar, isso repercute na saúde pública, na saúde global. Não é só um desserviço, é um crime contra a saúde pública”, enfatiza o infectologista Renato Kfouri, primeiro-secretário da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).

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