Santinhos e adesivos: campanhas do Entorno ainda apostam em material impresso

Candidatos a prefeito das cinco maiores cidades do Entorno gastaram, até o momento, R$ 3,1 milhões. Campanhas esbarram nas dificuldades de acesso à internet e a saída é divulgar material impresso

Mesmo com as restrições provocadas pela covid-19 e a variedade de ferramentas virtuais disponíveis, os 35 candidatos a prefeito das cinco cidades mais populosas do Entorno continuam a investir em formas tradicionais para tentar conquistar votos. Em um mês de campanha, eles gastaram R$ 3,1 milhões, sendo a maior parte desse valor destinada à publicidade por material impresso: R$ 730 mil, o que corresponde a 24% do total investido. Os dados estão publicados no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e foram consultados  na última semana.

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(foto: Editoria de ilustração)

Em seguida, aparecem as despesas com produção de programas de rádio, televisão ou vídeo, que chegam a R$ 430,7 mil (14%). Os serviços advocatícios ficam em terceiro lugar, com um total de R$ 263,3 mil (9%). Completam a lista de principais despesas: publicidade por adesivos, atividades de militância e mobilização de rua e os serviços contábeis (confira o gráfico). O levantamento levou em consideração as informações prestadas pelos candidatos de Águas Lindas, Luziânia, Valparaíso, Formosa e Novo Gama.

Para explicar como eles investiram as receitas até o momento, o cientista político Alexandre Bandeira recorre às características da própria Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride). Segundo o especialista, apesar da proximidade com Brasília, as cidades que compõem esse território ainda não têm uma conexão à internet de qualidade. Por isso, os políticos preferem continuar a aplicar os recursos em materiais como santinhos, bandeiras e adesivos.

“À medida que nos afastamos do centro de Brasília, em direção às cidades do Entorno, o índice de exclusão digital cresce. Mesmo em grandes centros, como é o caso da Ride, uma em cada quatro famílias tem dificuldade de acesso à internet. Campanhas que se sustentam só por via digitais criam um complicador e podem não conseguir conversar com os eleitores. As pessoas que compram um pacote de dados para acessar a internet não fazem isso para ver políticos, elas têm outras prioridades. É um risco sustentar uma campanha baseada somente em conteúdo digital”, diz.

Além das dificuldades de conexão, Bandeira afirma que a proibição dos comícios nesta eleição incentiva os candidatos a procurarem os materiais impressos, que facilitam o corpo a corpo. “As estratégias de campanha estão apostando na questão do corpo a corpo. Temos observado que os índices de isolamento social têm caído bastante. O comércio está todo reaberto, tudo funcionando. A livre circulação das pessoas está quase natural. Isso leva as campanhas a investirem numa estratégia de olho no olho”, justifica.

Sobre o investimento com propaganda na televisão e no rádio, o cientista político David Fleischer acredita que esses gastos vão predominar nas campanhas enquanto existir o horário eleitoral gratuito, já que os partidos não podem abrir mão desse direito.

Em relação aos gastos com advogados, Fleischer diz que eles são justificáveis, pois a legislação eleitoral tem se tornado cada vez mais rígida. “Muitos candidatos estão sendo ameaçados de terem suas candidaturas caçadas. O processo eleitoral começa sem sabermos quem pode ou não ser candidato. Então, sim, um advogado é necessário. Mas a Justiça Eleitoral precisa estar atenta para que esses gastos não sejam um disfarce de caixa 2”.

Candidatos

O candidato com a campanha mais cara é Diego Sorgatto (DEM), que disputa a prefeitura em Luziânia. Até a última quarta-feira, ele informou ter gasto R$ 596,3 mil com propaganda em rádio e tevê (R$ 223 mil), publicidade por material impresso (R$ 147 mil) e publicidade por adesivos (R$ 109 mil). Conforme mostrou reportagem publicada pelo Correio, Diego também é um dos campeões no recebimento de recursos, com mais de R$ 410 mil em doações.

Concorrente do democrata na cidade, Edna Alves (Podemos) é a segunda com mais despesas: R$ 565,3 mil. Professora e atual prefeita, ela declarou R$ 250 mil como despesas “diversas a especificar”. A publicidade por material impresso (R$ 148,3 mil) e os serviços contábeis (R$ 116 mil) são os outros dois maiores gastos da candidata.

Um dos assistentes jurídicos da campanha da prefeita, o advogado Júlio Rocha afirmou que a prestação de contas detalhada será feita após a eleição e atribuiu o fato de a candidata ser uma das que mais gastam os altos custos da propaganda eleitoral no rádio e na tevê. “Luziânia tem canal de televisão. A contratação de serviços para produzir esse conteúdo eleva muito os gastos da campanha. Além disso, trata-se do quinto maior município do estado, é uma eleição disputada. Os gastos são relativamente altos, mas estão dentro do limite”, reconhece. O teto imposto pelo TSE em Luziânia para candidatos a prefeito é de R$ 1,8 milhão.

Em Valparaíso, as despesas de Pábio Mossoró (MDB) chegam a R$ 351 mil. O emedebista investiu a maior parte dos recursos na publicidade por adesivos (R$ 94,5 mil), em serviços prestados por terceiros (R$ 85 mil) e em serviços contábeis (R$ 80 mil). Na cidade, os concorrentes à prefeitura podem gastar até R$ 1,9 milhão. O Correio entrou em contato com a assessoria de Pábio e de Diego Sorgatto, mas não obteve retorno até o fechamento da edição.

Nos próximos 15 dias, o cientista político Alexandre Bandeira aposta na ampliação dos gastos com militância nas ruas. Segundo ele, essa é uma forma de as candidaturas mostrarem que estão na frente. Por enquanto, essas despesas estão em sexto lugar, com R$ 223,4 mil investidos. “A tendência é de que haja um aumento dos gastos com pessoal, que é colocar militância na rua, bandeira na rua, fazer uma ocupação permanente. É o ápice da campanha. Os candidatos precisam fazer um movimento de crescimento”, diz.

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