Em Brasília as escolas particulares se preparam para aulas presenciais a partir de segunda-feira

Retomada das atividades presenciais começa na próxima segunda-feira e escolas particulares preparam-se para receber os alunos com segurança, organizando datas e protocolos. Donos de colégios terão de pagar testes de funcionários

 

Após uma série de audiências, debates, decisões e recursos judiciais, as escolas particulares do Distrito Federal preparam-se para o retorno das aulas presenciais, na próxima segunda-feira. Um dos últimos detalhes em aberto foi definido no domingo, quando o Tribunal Regional do Trabalho da 10º Região (TRT-10) decidiu que os trabalhadores infectados ou com sintomas da covid-19 sejam submetidos ao teste RT-PCR, custeado pelo empregador. A menos de uma semana da volta, instituições estruturam as testagens, e professores e pais acompanham como será esse momento de transição do ambiente virtual para o da sala de aula. A retomada será escalonada — começando com a educação infantil e o ensino fundamental I —, no entanto, não há consenso nem entre pais nem entre escolas sobre a melhor forma de prosseguir com o ano letivo em meio à pandemia. O ensino híbrido, com opção remota e presencial, deve se tornar uma realidade no DF.

Uma série de reestruturações foi elaborada para que as instituições possam receber os estudantes com segurança e consigam garantir a mesma qualidade de ensino para quem ficar em casa. Essas são as principais preocupações da Associação de Pais de Alunos do Distrito Federal (Aspa). “Vamos acompanhar essa retomada, dando espaço para que os pais estejam comunicando o cumprimento de tudo que foi ajustado e acordado na Justiça do Trabalho, de maneira que haja segurança e tranquilidade para as famílias que optarem a retornar neste momento às atividades presenciais”, pontua o presidente da associação, Alexandre Veloso.

Ele lembra que, mesmo com a proximidade do prazo de retorno, há instituições que não deixaram claras as metodologias que vão aplicar. “Estamos preocupados que a qualidade das aulas que não sejam presenciais possam ter uma queda. Muitas escolas ainda não esclareceram como será esse modelo híbrido, se serão aulas gravadas, assíncronas, ou se serão aulas produzidas com exclusividade para esse público que continua de maneira remota”, diz.

Escolas de grandes redes destacam-se entre as que apresentaram mais transparência e diálogo para a estruturação do retorno. É o caso do colégio Marista João Paulo II, que tem protocolos prontos desde os primeiros debates sobre volta às aulas e decidiu aguardar um pouco mais para começar a receber alunos. “Voltaremos dia 23 com os anos iniciais (do ensino fundamental) e dia 28 com a educação infantil. Temos realizado reuniões com os pais dos alunos que vão retornar neste mês e apresentamos protocolos específicos para cada segmento. Este é um momento de nova realidade, que não temos previsão de quando vai acabar, então precisamos ouvir os pais, tranquilizá-los. Vimos que muitos precisam desse retorno”, avalia Marcos Scussel, diretor-geral do colégio.

Uma pesquisa interna do Marista João Paulo II mostrou que cerca de 30% dos responsáveis pelos alunos têm interesse na volta presencial. “É um público que conseguimos atender com tranquilidade, respeitando o distanciamento, os cuidados. Os estudantes vão ter que trocar de calçado, deixar a mochila do lado de fora da sala, teremos higienização em cada momento de atividade e muito mais”, afirma. Marcos defende que o caminho para o retorno sem intercorrências passa pela aplicação de ações que vão além daquelas obrigatórias. “A escola está conseguindo preparar bem os espaços e passar segurança aos pais. A desinfecção geral, por exemplo, que é orientada a ser feita só no retorno, nós faremos diariamente. A testagem de professores vamos fazer a cada 15 dias”, garante.

Um dos pontos de relevância citado em audiências entre associações, sindicatos e Ministério Público do Trabalho (MPT) foi a aplicação de testes de detecção do novo coronavírus nos pedagogos. Representantes dos colégios argumentaram que a testagem de todos os profissionais custeada pelas escolas seria inviável financeiramente. Para o Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinproep), o ideal seria a realização de exames de PCR, como detalhou Rodrigo de Paula, diretor jurídico do Sinproep. “O juiz nomeou um profissional técnico para avaliar essa divergência sobre o tipo de testagem e ele teve a decisão. Mas, antes disso, nós já produzimos e distribuímos uma cartilha com orientações gerais aos professores para também auxiliar nesse combate”, diz.

Rodrigo ressalta que nem todos os colégios voltam daqui a uma semana, mas que o Sinproep procura conscientizar e orientar ao máximo possível, neste momento. “A expectativa nossa é de que a maioria das escolas vai aguardar um pouco para retornar, elas ainda estão consultando os pais. Fizemos uma cartilha orientando os protocolos para professores e todos envolvidos e vamos monitorar esse retorno, pedindo que quem encontrar irregularidades denuncie”. As instituições de ensino menores e que atuam na educação infantil devem retomar as atividades presenciais na próxima segunda-feira, segundo Rodrigo.

Reação dos pais

Mãe de Filipe Galvão, 2 anos, a psicóloga Denise Falcão, 33, está em regime de home office desde o início da pandemia. Para ela, tem sido desafiador trabalhar com o filho em casa. “Percebo o tédio dele sem os estímulos da escolinha. Faz falta, faz diferença na vida. Ele tem estado ansioso. Para nos ajudar, o colégio mandou uma caixa com com materiais pedagógicos. Estão enviando vídeos com ideias de atividades também”, lembra. Ela pretende levar o filho de volta às atividades no colégio, na próxima semana. “Acho que tudo depende da escola que a criança estuda. A gente avaliou o que está sendo feito e nos sentimos seguros”, afirma.

Rafael Mariano, 35, mora em Taguatinga e vê com bons olhos a retomada. “O Pedro, meu filho, tem 4 anos, está na educação infantil e vai retornar semana que vem. Vejo que tudo voltou, só faltam as escolas. Sem contar que tem muito pai que precisa deixar o filho no colégio e ir trabalhar. Então, sou muito a favor”, diz o comerciante.

Mas Fernanda Simões, 46, defende que é necessário preservar vidas, lembrando de pessoas do grupo de risco que moram com os pequenos. “Minha visão é de que o ano letivo não deveria retornar de forma presencial em 2020, pensando no contágio das crianças, professores, profissionais e familiares. O aprendizado, a gente consegue recuperar depois, mas tem muita gente que mora com esses alunos e tem doenças que agravariam o quadro, como eu, que sou hipertensa e tenho filho com anemia falciforme”, protesta a pedagoga. Ela, mãe de Rafael, 7, considera que a escola se comunicou bem com os pais informando sobre como seria o retorno presencial, mas ainda não se sente segura.“Temos que esperar baixar mais a curva e aguardar uma vacina”, considera. As escolas públicas seguem sem data definida para retorno.

Datas do retorno autorizadas pela Justiça

» 21 de setembro – Educação infantil e ensino fundamental I
» 19 de outubro – Ensino fundamental II
» 26 de outubro – Ensino médio e profissionalizante

Três perguntas para Álvaro Domingues, presidente do Sinepe

Qual a expectativa do Sinepe para o retorno na semana que vem?

Com certeza vai ser um retorno gradual, com as etapas iniciais voltando mais intensamente. Talvez, aproximadamente 70 ou 80 escolas retomem as aulas presenciais, de um total de 580. É um número pouco significativo, mas vai aumentando com o passar do tempo, já que é um retorno opcional, que cabe à escola decidir. Em outubro, esse número deve ser maior, superando a marca de 150 escolas. Pensamos que não deve ficar muito além de 150, pelo menos no levantamento preliminar que fizemos. Então, teremos um retorno progressivo, com etapas voltando aos poucos, muito parcelado e de acordo com a realidade de cada comunidade, mas seguro e lento.

Qual foi a realidade financeira enfrentada por essas escolas devido à suspensão das aulas presenciais?

Houve um prejuízo importante de imediato. Entre março e abril, a evasão foi grande, principalmente no ensino infantil e ensino fundamental, somando até 40%. A inadimplência também foi significativa, cerca de 30%, dependendo de cada região administrativa. Houve redução de receita na ordem de até 70%. Se não houvesse linha de crédito, o socorro do governo para pagar funcionários e outros gastos, teríamos o colapso no setor. Espero que o governo tenha sensibilidade nessa questão.

Na visão do Sinepe, por que voltar às atividades presenciais agora?

Desde antes do decreto do governo de julho, nossa proposta sempre foi esse retorno opcional para o estudante, em que a família que precisasse de um local seguro para deixar os alunos, pudesse ter essa escolha. A escola com condições de reabrir, observando sua infraestrutura e pessoal, com essa liberdade de decisão, de forma segura, parcelada e gradativa, divulgando a nova ética de convivência, para se precaver contra a doença. É uma contradição ter instituições comerciais abrindo e escolas, não. Não há explicação plausível para isso. Também temos que lembrar que as escolas são as melhores instituições para divulgar a conscientização sobre o tema da pandemia, com orientações adequadas, e que houve um prejuízo pedagógico imenso.

Testes em professores

A metodologia para testagem de professores era o último ponto em aberto no debate sobre o retorno às aulas presenciais de escolas particulares. Sindicatos das instituições e dos professores divergiam, principalmente, se a melhor opção seria o exame sorológico ou o RT-PCR e em quais casos realizar o exame.

O TRT-10 acionou um técnico para avaliar o caso e, no último domingo, o juiz Antonio Umberto, da 6ª Vara do Trabalho de Brasília, definiu que a testagem para profissionais da rede será feita pelo RT-PCR, em casos de confirmação ou suspeita do novo coronavírus. “Os trabalhadores comprovadamente infectados ou com sintomas compatíveis com a covid-19 não poderão retornar (quarentena), devendo ser submetidos ao teste RT-PCR, se ainda não o fizeram, às expensas do empregador, e, após avaliação clínica por médico, serão mantidos afastados até a plena recuperação ou liberados para o trabalho, sendo a contaminação descartada pelo médico do trabalho da empresa ou médico por ela custeado”, destaca a decisão.

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