Na Vila Planalto existem muitas pessoas inspiradoras , e entre todas de uma lista enorme , duas são muito especiais pra mim: Ana Lúcia e Donizete .
Os dois me ensinaram o que é ser um líder de verdade, com eles aprendi – na infância ainda – os princípios básicos de democracia e direitos humanos, em uma época em que nossas reuniões pró-fixação dos moradores da Vila Planalto eram monitoradas pelo SNI ( Serviço Nacional de Inteligência) no final da ditadura militar.
Foi em 1985, eu então com 8 anos de idade que comecei a participar das reuniões do Grupo de Oração e Reflexão da Vila, um movimento inspirado nas CEBs Comunidades Eclesiais de Base e Teoria da Libertação. Ali aprendemos o sentido verdadeiro de cidadania e que direitos não são favores!
Desde muito cedo fui uma cidadã consciente que em vez de brincar com as outras crianças prestava atenção nas reuniões e no que os adultos falavam. Na minha casa tive o exemplo de uma mãe maravilhosa que me alfabetizou aos 4 anos de idade, que era atuante no movimento comunitário, que era cheia de ideias e muito inteligente. Meu avô materno quando morou conosco ia diariamente à rodoviária de Brasília comprar o jornal porque na Vila Planalto não tinha banca de revista , e mesmo sendo idoso andava 6 km de ida e volta por causa das notícias e ainda discutia política com a vizinhança e eu ficava observando.
A minha casa era uma casa humilde de pessoas muito pobres mas que gostavam de ler e isso que forjou a minha personalidade e gosto pelo conhecimento. E por isso, aos 10 anos eu escrevi uma carta com a ajuda da minha mãe e burlei a segurança do Presidente da República pedindo a fixação da Vila Planalto e desde criança defendo a minha comunidade.
No passado sofri muito com o bulling por ser criança envolvida com movimento comunitário pois, as pessoas da minha idade não se interessavam por política ! Eu também sofri muito com o preconceito social devido ao estigma que a Vila Planalto tinha de ser comparada a uma favela e eu estar com as lideranças na linha de frente mostrando o nosso valor como acampamento histórico da construção de Brasília. Devido a essas pressões que nenhuma criança e adolescente deveria passar desenvolvi uma compulsão alimentar, a anorexia, que graças a Deus e um árduo tratamento consegui vencer.
Nunca poderia imaginar que em 2020, pessoas de dentro da Vila ainda tentariam (em vão) diminuir minha história mentindo que eu não fiz a carta ao Sarney e dizendo que qualquer criança poderia ter feito o que eu fiz. Como se todas elas tivessem as mesmas influências que eu tive e as altas habilidades e QI igual. Como é cansativo ter que lidar com a cretinice de gente maldosa ainda hoje quando graças ao meu esforço intelectual a História da Vila está sendo apresentada em um evento importante dos 60 anos de Brasília, na XVI Semana da Europa onde apresentarei o capítulo publicado em um livro em inglês e português sobre a Arquitetura de Brasília, na qual figuro na lista de autores nacionais e estrangeiros.
Mas, os cretinos tentam diminuir a nossa luta de mais de 35 anos a um evento ocorrido em 1986, como se a minha história com Vila Planalto se resumisse apenas àquela carta que entreguei ao Sarney pedindo a fixação da Vila e relatando a situação precária que viviam os nossos pioneiros! ( ainda que eu tivesse feito apenas isso, já foi muito porque foi um divisor de águas na História da luta pela fixação quando as autoridades queriam nos expulsar para implantar aqui um proheto de Superquadras do Lucio Costa!). Eles esquecem dos jornais da Vila que eu fazia com o José Roberto e das centenas de manifestações que participei ao longo desses anos. Além das cobranças na imprensa por cada reivindicação da vila ao longo desses anos! Porém, para o azar desses cretinos, a nossa luta pela preservação do patrimônio vai muito além da Vila Planalto e tem reconhecimento.
Essa gente sem caráter e sem escrúpulos é militante política partidária pagatravestida de pseudoliderança. Gente que lucra com a Vila seja com cargos em governos ou com dinheiro em campanhas eleitorais. Essas pessoas se sentem ameaçados pela nossa história porque não contam com o apoio político de quem tem credibilidade e numa postura machista , eles tem inveja do protagonismo feminino do grupo das 10 mulheres que lutaram pela fixação da Vila Planalto. E não conseguem suportar que alguém trabalhe a seu modo em prol da comunidade sem atrelamento político partidário, sem puxar saco de governos, com senso crítico. Ainda mais sendo mulher. Aliás, os covardes não atentam contra a honra dos homens, só fazem isso com mulheres porque somos vulneráveis e eles não correrão risco de sofrer violência! Eles sentem raiva de pessoas que sabem que dinheiro de emenda parlamentar é dinheiro público, dos nossos impostos não é dinheiro privado do bolso de politico que tá fazendo favor em gastar em benfeitorias urbanas e por isso não devemos endeusar os políticos porque eles são apenas servidores públicos! ( embora eles se esqueçam disso com seus privilégios e vaidades).
Se a Vila permaneceu aqui foi graças a luta de quem veio antes de nós da primeira diretoria da AMVP, que tinha como presidente Dr . Carlos Sobrinho e a fabulosa e maravilhosa Dra. Cecília Robatini, que deixaram a diretoria da Associação devido a golpes baixos de pessoas que tentaram ferir suas honras como os baba ovos de políticos tentam fazer comigo.
E graças a luta das mulheres do Grupo das 10 que com a Ana e o Doni e o apoio do GT Brasília e da Concília e Sussu formaram uma frente implacável em prol dos nossos direitos. Toda a honra a quem ne ensinou e a quem veio antes de mim nessa luta da Vila Planalto.
E quanto aos mentirosos que não honram quem veio antes deles ( pioneiros na luta como Ana e Donizete, eu, as mulheres do grupo das Dez e outros que não se deixaram cooptar por políticos picaretas) só digo uma coisa:
Nossa História não será apagada e já está registrada nos livros! Façam a história de vocês sem tentar destruir a honra e a história alheia, talkey? Senão vocês irão experimentar ser réus em processos em crime contra a honra e isso dói no bolso.
