“Informação ajuda no combate à pandemia”, diz diretora da Fiocruz Brasília

Em entrevista ao Metrópoles, Fabiana Damásio fala sobre esforços da instituição para aumentar o acesso ao conhecimento científico

 

O aumento significativo no volume de informações – sejam elas corretas ou não – durante a pandemia do novo coronavírus está sendo chamado de infodemia. Especialistas dizem que o fenômeno pode aumentar estados de depressão e ansiedade e induzir atitudes prejudiciais à saúde como, por exemplo, a adoção de tratamentos sem a necessária comprovação científica.

As informações, entretanto, quando confiáveis e acessíveis, são essenciais para combater a disseminação de uma doença contagiosa, como a Covid-19. Em entrevista, a diretora da Fundação Oswaldo Cruz de Brasília, Fabiana Damásio, fala sobre o desafio de aproximar o conhecimento científico das comunidades e reforça que esse é um dos compromissos da entidade. “O nosso papel é reiterar a importância do conhecimento científico: ele subsidia a formulação de políticas públicas e o desenvolvimento da sociedade. Ou seja, trabalhamos para a melhoria das condições de vida e de saúde das pessoas”, afirma.

Como combater as fake news em um momento de pandemia?
Reconhecer as fake news como algo que pode gerar prejuízos e impactar a saúde das pessoas. Eu vejo a necessidade de exercer a ciência cidadã permanentemente, que tenha essa conexão com a realidade. No início da pandemia, surgiram muitas fake news e o nosso papel foi o de identificá-las e refutá-las com base no conhecimento científico. O nosso esforço tem sido atuar com vigilância para perceber o surgimento delas e providenciar respostas rápidas. Se elas estão circulando na sociedade, nós precisamos dizer: “o conhecimento científico respalda ou refuta essa ideia”.

O excesso de informação mais ajuda ou atrapalha a população?
A informação é sempre boa. A gente precisa ter acesso a informações qualificadas e fazer uma reflexão crítica sobre o que é publicado. Essa leitura atenta, focada nas instituições referência para o enfrentamento da Covid-19, é necessária. Esse exercício de análise deve ser permanente.

Como a população pode distinguir informações reais de fake news?
O principal parâmetro é a identificação de fontes confiáveis. Uma sugestão é se vincular às instituições que podem fornecer dados com qualidade. É importante que, cada vez mais, a gente sinalize onde estão as referências para que a população possa buscá-las.

O interesse pela ciência aumentou durante a pandemia?
A Fiocruz tem recebido um retorno muito positivo dos próprios comunicadores populares de que as informações disponibilizadas nos nossos canais têm bastante clareza e, de algum modo, acabam funcionando como uma âncora de busca pela informação.

A população está sim procurando a informação correta, nas fontes de referência. Com as medidas de distanciamento social, uma das principais estratégias da Fiocruz foi o fortalecimento de suas redes, criando debates on-line, que sejam acessíveis e abrangentes.

Todas as redes da Fiocruz Brasília e da Una-SUS tiveram crescimento do número de seguidores. Nós começamos a pandemia com 12 mil seguidores no Facebook e chegamos a 613 mil. O mesmo aconteceu com o Instagram, lançado no início da pandemia, que hoje tem 14,2 mil seguidores.

Nós lançamos também um curso de saúde mental com estratégias de enfrentamento à pandemia, por reconhecermos os desafios do momento, e tivemos a inscrição de 68.550 profissionais de saúde. Esses números representam a busca da população por informação baseada em conhecimento científico de qualidade.

Como levar informação especializada para um público que é bastante diverso?
Temos trabalhado com uma diversidade de instrumentos – YouTube, podcast, atividades on-line e reuniões. Sabemos que ainda precisamos nos aprimorar, mas isso vai ocorrer a partir da aproximação cada vez mais frequente e permanente com os comunicadores populares, eles nos trazem as suas experiências e fazem um mapeamento bastante apurado da realidade.

O que a gente tem recebido de feedback é, principalmente, a necessidade de manter essa articulação de forma contínua com as pessoas das comunidades, porque nós podemos subsidiar e colaborar nas ações de comunicação que eles desenvolvem em suas localidades.

Quais são as principais ações da Fiocruz para levar informação científica para a população?
A ação Conexão Fiocruz Brasília e o podcast Viralizados têm sido formas de fazer com que o conhecimento chegue de forma mais acessível à população. Uma é direcionada ao YouTube e a outra está disponível no site da fundação. Nós temos avaliado o podcast como uma importante ferramenta que tem acesso rápido e tem funcionado bastante.

Em nível nacional, nós estabelecemos os eixos estruturantes de enfrentamento à atuação e enfrentamento à Covid-19 desde o início da pandemia. Um dos eixos colocados como prioritários foram ações voltadas para populações vulneráveis. Foi lançada uma chamada de ações emergenciais que contou com a participação de 837 projetos do Brasil inteiro e com a aprovação de 145 projetos, sendo três deles do Distrito Federal.

Entre eles, o MoLEC “Não me COVID” Cultura Solidária, do Movimento Lazer Esporte e Cultura, de Brazilândia; o COMunidade CONsciência, da Associação Novo Encanto de Desenvolvimento Ecológico; e a ação construção de capacidades sociais para o enfrentamento da pandemia e suas consequências, do grupo de estudantes do Instituto Federal de Brasília (IFB), do campus da Estrutural.

Qual é a relação da Fiocruz com o desenvolvimento de vacinas?
A Fiocruz vem historicamente, ao longo dos seus 120 anos, assumindo o compromisso com a sociedade brasileira. Uma das suas ações prioritárias é a produção de vacinas por meio da sua unidade de BioManguinhos (Rio de Janeiro). Neste momento de pandemia, em que começa a se discutir a existência de uma vacina, a Fiocruz reitera seu compromisso.

A unidade da presidência, no Distrito Federal, não se encaixa na produção de vacinas. Ela cumpre o papel no desenvolvimento de políticas públicas, sociais e de saúde.

 

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