“O céu é o limite”, diz brasileiro artista de circo com nanismo

Acrobata com nanismo lembra preconceito na infância, diz que enfrentou a morte quatro vezes e hoje trabalha em um dos maiores circos do mundo

 

 

“O céu é o limite.” São essas as palavras de Alan Silva, 37 anos, artista de circo que enfrentou preconceito desde criança, aprendeu sua arte sozinho, encarou a morte quatro vezes e venceu. Alan tem nanismo, um transtorno que se caracteriza por uma deficiência no crescimento, e conseguiu se tornar um artista reconhecido em um programa de televisão dos Estados Unidos.

A mãe de Alan lembra que durante a infância de Alan ela nunca consegui reconhecer a deficiência do garoto. “Fiz pré-natal tudo certinho, nunca soube nada que tivesse algum tipo de problema, e quando ele nasceu, falaram pra mim que tinha problema. Tirei toda a roupa dele, olhava, não via nada, ele era todo perfeito”, disse Mariliza de Souza.

Alan nasceu com nanismo, uma alteração genética que afeta o crescimento dos ossos. “Eu nunca me vi como uma criança diferente, eu sempre me achei uma criança normal. Eu sempre fui criado de uma maneira normal.”

A mãe conta que desde a infância incentivava ele a fazer as coisas sozinho. “Ele queria as coisas, eu falava ‘vai lá, sobe no banco e pega.’ Minha amiga dizia, ‘ah coitadinho, vou pegar’ e eu falava ‘não vai não, ele tem que se virar’, porque ele é tão grande quanto eu e você’. E foi assim que eu criei o Alan.”

Mas, nem sempre foi simples enfrentar as dificuldades e preconceitos. “Naquela época, era violento mesmo, o pessoal tacava pedra na gente, comida na escola”, diz Alfredo Silva, irmão de Alan. “Eu sofri de depressão, mas ninguém sabia. Eu escondi muito isso. Escondi pq minha família tinha muito orgulho de mim e eu não queria deixar eles desapontados, porque ela sempre falou pra mim: ‘você pode tudo o que quiser na vida, você é igual a uma pessoa normal.”

O início

Alan se interessou por acrobacias em tecido e começou a praticar sozinho. “Para mim já seria difícil subir, ele com a mãozinha pequena, teve que se adaptar”, disse o irmão, Alfredo.

Alan se mudou para os EUA há 17 anos e logo se inscreveu para um teste no circo mais famoso do mundo, o Cirque de Soleil. Escolhido entre 300 candidatos, ele foi contratado para trabalhar em Las Vegas. Hoje, ele mora com a mulher Béttany e dois filhos, Lúken, de 5 anos e Giânia, de um ano e meio.

O casal se conheceu nos bastidores do circo, ela cuidava do figurino de Alan. Ela conta que cobra o marido de atividades como lavar louça. “Falo que não tenho tempo para limpar tudo, tenho dois filhos.”

Acrobata venceu preconceito e trabalha em um dos maiores circos do mundo

Acrobata venceu preconceito e trabalha em um dos maiores circos do mundo

Reprodução/Instagram/@alanjonessilva

“Antes não queria ter filho porque tinha medo que, se tivessem ananismo iam sofrer. Mas acabei casando tendo dois filhos e nenhum deles tem ananismo”, afirma Alan. “Meu filho já entende que eu não sou igual aos outros papais. Ele pergunta e eu falo ‘papai não cresceu, sou um adulto que é pequenininho.’ Para criança, se explicar, não tem diferença.”

Superando obstáculos 

Além dos obstáculos impostos pela condição física, Alan escapou da morte quatro vezes, depois de sofrer acidentes de acrobacia. No último, ele fraturou a vértebra e quase ficou paraplégico.

“Fiquei mto feliz em saber que poderia voltar a trabalhar, poderia fazer o que eu faço e estar de novo no ar, voando… Felizmente a gente tem acidentes mas aprendeu no circo, que bate a poeira, levanta e faz de novo.”

Mas, Alan ainda tinha um sonho a ser realizado. “Quero ser a voz para as pessoas que não têm. O mundo perfeito seria se as pessoas amassem mais as outras, não julgassem o livro pela capa, todo mundo tem direito de viver uma vida digna, uma vida feliz.”

Alan se inscreveu em um show de talentos de uma televisão americana. Durante conversa com os jurados, ele lembrou: “Vim de uma família de circo. Eu adoro me apresentar, mas as pessoas sempre me dizem que deveria ser apenas um palhaço por causa do meu tamanho. Sofri bullying a minha vida inteira e as pessoas me julgam pela minha aparência.

“Sabia que meu irmão tinha chance. Eu falava, ‘Alan, vc devia tentar, mostra o seu trabalho. Ele concordou mas disse que queria carregar a bandeira dele em favor das pessoas menos favorecidas, seja fisica, mentalmente e juntou o útil ao agradável”, disse Alfredo.

Em resposta a um jurado da televisão americana, Alan afirmou mais uma vez: “acho que o céu é o limite e os sonhos podem se realizar.” Até pais que têm filhos que têm nanismo me mandaram mensagem dizendo que foi muito motivador me verem na televisão para terem orgulho de ser quem são.”

Com a pandemia, o Show de Talentos foi suspenso. Alan concorre a um milhão de dólares. Mas para ele, o maior prêmio já foi conquistado? Poder levar a mensagem de amor à multidão de fãs que não para de crescer.

“Gostaria de dizer que não importa o que você passou, mas o importante é pensar que dias melhores virão. Vamos ser mais amorosos uns com os outros e tratar com igualdade porque todo mundo merece ser feliz.”

 

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