Covid-19 migra da região central do DF para áreas periféricas

Com o crescimento acelerado do novo coronavírus no Distrito Federal, especialistas alertam que, caso a capacidade de resposta do sistema de saúde seja comprometida, a volta do isolamento social será necessária. No total, são 330 mortes na capital

 

Em meio ao aumento dos casos do novo coronavírus, o Distrito Federal passou pela retomada de uma série de atividades suspensas devido à pandemia. Uma das consequências dessa medida é o crescimento diário de diagnósticos, o que pode impactar na resposta do serviço de saúde — as UTIs das redes pública e privada, por exemplo, chegaram a 70% da capacidade. Além disso, a doença migrou da região central e passou a ter maior incidência nas cidades consideradas de periferia (veja mapa). Especialistas alertam que o relaxamento no isolamento social pode atrapalhar a melhora do quadro. Hoje, a capital tem 27.140 infectados e 330 mortos pela doença.

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No início da pandemia, Lago Sul, Plano Piloto e Águas Claras lideravam o ranking da covid-19 no DF. Mas o perfil mudou. Atualmente, Ceilândia, a cidade mais populosa da capital, tem a maior quantidade de pessoas com coronavírus. Apenas a região contabiliza 3.455 casos confirmados. Em seguida, aparecem Plano Piloto (2.036), Taguatinga (1.898), Samambaia (1.709), Gama (1.339) e Guará (985).

Pesquisa divulgada na terça-feira pela Companhia de Planejamento (Codeplan) reforça a mudança no perfil das vítimas da covid-19. De acordo com o estudo, as regiões mais pobres passaram a concentrar o maior número de óbitos. Por exemplo, Ceilândia tem 81 moradores mortos pelo coronavírus, seguido por Samambaia, onde 37 pessoas faleceram.

Em dados proporcionais, à exceção do Lago Sul, regiões fora da área central da capital também estão na frente no número de infectados. Em primeiro lugar está o Riacho Fundo 1, com 1.330 diagnosticados a cada 100 mil habitantes. O Lago Sul, com 1.260, ocupa a segunda posição. Em seguida, estão Estrutural (1.212), Sobradinho (1.184) e Paranoá (1.130).

O diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José David Urbaez, explica que essa mudança do quadro de diagnosticados, além da quantidade populacional de cada localidade, também se deve à falha do isolamento social estabelecido na capital. “Podemos interpretar esse contexto como uma falta de planejamento nacional. O país está abrindo as atividades econômicas enquanto há aumento de casos. Em outros países, como na Europa, China e Nova Zelândia, isso só aconteceu quando houve queda franca de diagnósticos”, frisou.

De acordo com o especialista, o vírus passou a atingir os segmentos mais vulneráveis, que são as periferias, pelas ausências de isolamento adequado, de acesso aos serviços de saúde e de sustento socioeconômico. “A União não ofereceu dispositivos para garantir que essas pessoas ficassem em casa”, explicou. Urbaez reforçou que promover a circulação de pessoas enquanto retoma-se as atividades econômicas impacta na propagação do vírus de forma irreversível.

O infectologista reconhece que o DF, na saúde, tem capacidade superior às demais unidades federativas. Porém, com o avanço, o sistema sofre sobrecarga. “O distanciamento, o uso correto de máscaras e ficar atento aos sintomas são pressupostos que a gente tem certeza de que a população vulnerável não consegue cumprir. Portanto, Brasília deve seguir os passos de Curitiba, onde abriram tudo e, depois, correram para fechar”, alertou.
Capacidade
Em nota, a Secretaria de Saúde justificou o aumento de casos nas regiões distantes do centro pela densidade populacional. “Como o coronavírus tem alta transmissibilidade, em áreas com maior número de pessoas, a transmissão também é mais rápida. As regiões periféricas registram significativa aglomeração de pessoas nos espaços urbanos e em ambientes domiciliares”, alegou.

Questionada sobre medidas de enfrentamento à disseminação da doença, a pasta informou que a primeira ação tomada foi o início da testagem em massa. Segundo a Secretaria de Saúde, todo caso notificado como coronavírus passa por investigação epidemiológica. Além disso, os diagnósticos feitos no modelo drive-thru são orientados a permanecer em quarentena, e as equipes das unidades básicas de saúde fazem o acompanhamento dos pacientes e monitoram a evolução da doença.
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De acordo com o órgão, a orientação é de que a população siga as normas sanitárias a fim de evitar a disseminação da doença. “No momento, especialistas apontam como principais medidas para evitar o contágio o uso de máscara, a higienização frequente das mãos e manter o distanciamento social, evitando aglomerações”, ressaltou.

Creches tentam retomar atividades
Fechadas há mais de três meses em decorrência da pandemia causada pelo novo coronavírus, as escolas particulares destinadas à educação infantil (até 5 anos) preparam um protocolo de reabertura para submeter ao governador Ibaneis Rocha (MDB). A previsão é de que, até sexta-feira, a proposta seja entregue ao chefe do Executivo local. O documento, ao qual o Correio teve acesso, detalha regras de higiene, pedagógicas e jurídicas. Em reunião promovida ontem por um grupo de gestores de ensino infantil, mais de 120 diretores de creches e escolas privadas dessa faixa etária mostraram-se favoráveis à reabertura. “Tivemos uma conversa inicial, e todos ficaram contentes. É importante o governo saber que estamos buscando alternativas para voltarmos às atividades. Existe uma boa parte dos pais que precisa trabalhar e não tem com quem deixar os filhos. Ou contrata alguém, ou perde o emprego”, ressaltou Laessa França, uma das organizadoras do encontro. Em nota, o GDF esclareceu que as decisões sobre flexibilização de funcionamento dos diversos setores do DF, quando tomadas, serão informadas por meio de decretos do governador Ibaneis Rocha, publicados no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF).

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