Polícia Civil de Goiás investiga desmatamento em sítio histórico

Autoridades de Goiás investigam a destruição de uma área com a extensão de mil campos de futebol, no Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, na Chapada dos Veadeiros

 

A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente da Polícia Civil de Goiás com a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad-GO) realizam operação para conter e punir os responsáveis pelo desmatamento ilegal de mais de mil hectares (equivalente a mil campos de futebol) no Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, na região da Chapada dos Veadeiros, em Cavalcante (GO).

A destruição chegou ao conhecimento da Semad na terça-feira, por meio de denúncia da comunidade quilombola kalunga. De acordo com a delegada-adjunta da Dema Lara Melo Oliveira, ainda não foram identificados os criminosos. “A equipe está há dois dias no local fazendo imagens e verificação da área”, conta. Na área, foi comprovado que houve limpeza de pastagem e desmatamento do Cerrado com a utilização de caminhões, tratores e correntes. “As ações foram realizadas para instalação de atividade agropecuária”, adianta Lara.

Ontem, a pedido do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, a secretária Andréa Vulcanis foi até o local para acompanhar as investigações. “Foram imagens bastante chocantes. Vi tudo pessoalmente. É inacreditavel que, às vesperas do Dia Mundial do Meio Ambiente, nós precisemos atuar coibindo desmatamento ilegal”, disse a titular da Semad.

Por meio de imagens de satélite, as autoridades constataram que mais de 500 hectares foram degradados nos últimos 15 dias em duas fazendas do local, próximo ao complexo de cachoeiras do Rio Prata. O início da devastação teria sido na Fazenda Alagoas, mas alcançou as terras da Fazenda Pequi. Apesar de estar dentro do sítio histórico, as duas fazendas são de propriedade privada, não tendo sido desapropriadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Para qualquer atividade econômica dentro do território kalunga é necessário consulta públicas e consentimento. No entanto, não há licença expedida para realizar o desmatamento, conforme informou a Semad.

Para a titular da pasta, Andréa Vulcanis, os desmatadores aproveitam-se do período da pandemia para cometer o crime. “São vegetações nativas mais ralas e baixas, cujo desmatamento requer um alto nível de monitoramento pelos satélites e que não são detectados com facilidade. Por isso, as denúncias são essenciais, para que as equipes possam se deslocar até os locais”, ressalta.

Abaixo-assinado

O Conselho Municipal de Turismo (Comtur) do estado de Goiás elaborou um abaixo-assinado virtual para pressionar representantes para conservação ambiental no local. “Não estamos abertos a fazer concessões! Atravessamos, no momento, a maior crise sanitária do Brasil, estamos à beira da maior recessão econômica de nossa história e assistindo ao saque de nossas riquezas. Aqui, não deixaremos a ‘boiada passar’ sem antes lutar pelos nossos direitos e, sobretudo, pelo que consideramos justo, correto e legítimo”, informa o texto. Imagens aéreas do desmatamento circulam nas redes sociais, acompanhadas pela hashtag #salveoprata. Mais de cem compartilhamentos foram registrados em apoio à preservação do local.

De acordo com o presidente da Associação Quilombola Kalunga (AQK), Jorge Moreira de Oliveira, a devastação aconteceu “escondida”. “Quando a gente veio a saber, já estava grave”, disse. Jorge acredita que o desmatamento do Cerrado teria acontecido para dar lugar ao plantio de soja. “Está dentro do nosso território, que a gente preserva há mais de 300 anos”, protestou. Para ele, uma das principais atividades econômicas na região está ameaçada. “Ali tem lindas cachoeiras que é de onde muitos kalungas tiram renda com o turismo”, explicou. Os kalungas são a maior comunidade de remanescentes de quilombolas do Brasil — descendentes de escravos que fugiram e formaram comunidades. O Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga fica nos municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre, ao todo, compreende uma área de 272 mil hectares.

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