Tocador de pife, brasiliense lança rádio voltada para a cultura popular

Jovem de Brasília, tocador de pife, que percorreu diversos estados nordestinos de bicicleta, lança rádio voltada para a cultura popular

 

 

Com uma população formada por pessoas vindas de todo o país, Brasília traz um pouquinho de cada estado. Uma grande parcela dos brasilienses é filha ou neta dos primeiros nordestinos que ocuparam o Planalto Central em busca do sonho da nova capital. Para os apaixonados pela cultura nordestina, uma rádio web, inaugurada no aniversário da cidade, em 21 de abril, é uma opção a mais para conhecer a boa música daquela região. É a Rádio Pife. E por trás dela, um jovem mineiro! Isso mesmo: Gabriel Matos Raposo, 27 anos.
A rádio é um fruto a mais da paixão de Gabriel pela cultura popular. A relação dele com a música mudou nos corredores da Universidade de Brasília (UnB), onde se dedicou ao curso de antropologia. Entre uma aula e outra, Gabriel conheceu Zé do Pife, figura famosa na universidade por ensinar e tocar na instituição de ensino. “Desde os 10 anos eu toco vários instrumentos. Estudei música por muito tempo, mas quando eu entrei na UnB, e conheci o Zé do Pife, aprendi a parte da transmissão oral. Eu ficava do lado do mestre, aprendendo canção por canção. Isso mudou totalmente a minha relação com a música”, conta. Gabriel destaca que passou a se interessar mais pela cultura popular, principalmente a nordestina. “Não tem esse negócio de certo ou errado, de tocar bem ou mal. A música voltou a ter centralidade na minha vida”, conta.
Influenciado por Zé do Pife, Gabriel também começou a se apresentar nos espaços comuns da cidade. “A gente vai muito em Planaltina e os alunos que chegam na UnB para aprender, ele (Zé do Pife) convida a pessoa a ir à cidade. Nas feiras, por exemplo, você faz uma imersão, toca para diferentes classes sociais e econômicas, você toca no meio do povo e isso acaba deixando os alunos apaixonados”, diz.
Ciclo
Gabriel intercalava a paixão pela música com os estudos do curso de antropologia. Não demorou muito para unir os dois. “Ao mesmo tempo que eu entrava nos estudos da antropologia, eu viajava, tocava, conhecia os mestres do pife. No final, eu juntei os dois e fiz a pesquisa da antropologia relacionada ao instrumento musical”, comenta.
Com a paixão pela música e a curiosidade em relação à cultura do Nordeste, Gabriel embarcou em uma longa aventura Brasil afora. Ele e o parceiro no projeto, Fernando Carvalho, conhecido como Cheflera, encararam 3 mil quilômetros de bicicleta. O objetivo: desbravar o pife na zona rural.
“Percorremos de bicicleta sete estados para ensinar pife, encontrar os mestres e pessoas ligadas a reprodução do instrumento”, conta. Os jovens saíram de Brasília em dezembro de 2016 e começaram a jornada pela Paraíba. “A gente gravou um CD e vendíamos para nos manter, além de tocar em feiras”, relata. “Muitas pessoas nos acolhiam também nas cidades, dormíamos na casa delas”, completa. A viagem durou um ano e meio, e passou por estados, como Pernambuco, Ceará, Sergipe e Alagoas. O pé na estrada rendeu muitas histórias e enriqueceu o conhecimento dos jovens.
“Acabamos conhecendo muitos pesquisadores e pessoas comprometidas com a preservação do pife. A partir de pesquisas e conversas com mestres, descobri que o pife também é forte em Minas Gerais, onde nasci, principalmente na região do Vale Jequitinhonha”, ressalta. A ideia, agora, é expandir o projeto. O próximo passo é fazer uma fase dois, percorrendo a região Sudeste do país.
Rádio
O projeto da viagem de bicicleta inspirou Gabriel a reunir toda a riqueza da música popular em uma rádio, a Rádio pife. “Ela tem tanto música da pesquisa, quanto álbuns recentes de artistas independentes, que tenham alguma ligação com a cultura popular. A rádio une o tradicional com os alguns artistas contemporâneos do Brasil inteiro”, garante. O pai de Gabriel era radialista e o músico o ajudava, um motivo a mais para querer colocar a rádio no ar.
Além de música, o site traz informações sobre a origem das canções, da banda e sobre o compositor da canção. “Antigamente, os músicos ficavam famosos entrando em contato com as gravadoras e lançando CDs. Hoje em dia, tem muitas plataformas digitais e o rádio ficou obsoleto como uma forma de mostrar revelações. Espero que a rádio seja um corredor entre os artistas e as pessoas. Mesmo estando longe, elas possam se conhecer e se ouvir”, destaca.
Saiba mais
O pife, também conhecido como pífano, é uma adaptação brasileira, com influência indígena, das flautas transversais populares na Europa. Feita de taboca como as flautas indígenas, o pife é utilizado em regiões do interior nordestino para acompanhar festas e cerimônias religiosas.
Serviço
Ouça a rádio em radiopife.webradiosite.com/
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