Com recorde de mortes, UFRJ e Fiocruz recomendam o lockdown no Rio

No dia em que o Brasil bate novo recorde de mortes por dia, foram 751 óbitos em 24 horas, a Universidade Federal do Rio de Janeiro se junta à Fiocruz e recomenda o bloqueio total no estado fluminense. Brasil chega a 145 mil casos de covid-19

 

O Brasil caminha para uma nova temporada de endurecimento das medidas de distanciamento social, única solução considerada possível frente ao crescimento desenfreado de mortos. Ontem o país bateu um novo recorde, com o registro de 751 óbitos em um único dia. O total de brasileiros que perderam a vida contra o vírus chegou a 9.897. Apenas ontem o Ministério da Saúde anunciou a confirmação de 10.222 novos diagnósticos. O total de casos no país está em 145.328 casos da doença. Mesmo assim, projeções apontam que o surto da doença se encontra apenas no começo. Cinco estados já decretaram lockdown e outros são pressionados na Justiça. Depois de bater São Paulo no número de óbitos diários e ser cobrado pelo Ministério Público, o Rio de Janeiro elaborou um estudo para adotar medidas de lockdown em nível estadual, com previsão de bloqueios em estrada e proibição expressa da circulação, mantidas as atividades essenciais.

 

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Na resposta ao Ministério Público, Witzel afirmou que “o número de casos ainda não atingiu seu auge” e “a experiência de outros países mostrou que o aprofundamento das medidas restritivas foi fundamental para redução do número de casos e de óbitos”. O chefe do Palácio das Laranjeiras escreveu, ainda, que enviará forças de segurança para apoiar municípios em situação mas crítica. Niterói e bairros da capital já decretaram as medidas de confinamento. Witzel decidiu estender as medidas restritivas no estado até 31 de maio.

Após um relatório da Fiocruz alertar sobre a necessidade de se adotar medidas mais rígidas para evitar o colapso do sistema de saúde ainda este mês, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) enviou um ofício ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ). A instituição recomenda o lockdown. No documento, assinado pela reitoria, a medida é sugerida pois, segundo análises preliminares, a redução de mobilidade urbana nos transportes públicos da região metropolitana nem sequer atingiu 50% — patamar considerado insuficiente para o controle da curva de crescimento. “A baixa adesão às medidas de restrição da mobilidade, juntamente com as aglomerações observadas em diversas localidades, tem se mostrado um obstáculo para a redução da transmissão da covid-19 no Rio de Janeiro”, alerta o ofício da UFRJ.

Outros estados
São Paulo adiou, por ora, a adoção de um lockdown no estado. Em contrapartida, o governador João Doria (PSDB) prorrogou até 31 de maio a quarentena. “Gostaria de dar uma notícia diferente, mas o cenário é desolador”, justificou Doria, com a voz embargada.

A capital paulista, além de aderir à extensão, passará por restrição de carros nas ruas a partir de segunda-feira. Somente metade dos veículos poderá circular diariamente na cidade. A medida valerá não só para o centro, mas em toda a capital. Além disso, ocorrerá por 24 horas, incluindo fins de semana. Nos dias pares, os veículos com as placas pares estarão autorizados a circular. O restante só poderá sair às ruas nos dias ímpares.

As medidas de lockdown começaram a valer na quinta-feira em Belém e outros nove municípios do Pará. Só na capital, são 30 pontos de parada onde autoridades de segurança fazem a abordagem das pessoas e orientam sobre as restrições. Aglomeração e serviços não essenciais em funcionamento foram observados, mas, por enquanto, os fiscais deram instruções de caráter educativo. A partir de hoje, a desobediência poderá acarretar multas de R$ 150 para cidadãos e R$ 50 mil para empresas.

No Maranhão, após quatro dias sob lockdown, a movimentação em São Luís foi intensa. Houve aglomerações em bairros mais periféricos da cidade e abertura de comércios não essenciais. Em compensação, ficaram vazias as regiões nobres que concentram um maior número de escolas, universidades e prédios comerciais.
Nas redes sociais, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse que não faria um “encarceramento em massa de pessoas”, e afirmou que há equipes das prefeituras nos bairros, mas que as punições serão aplicadas “com ponderação e bom senso”. Segundo ele, é considerado normal esse grau de movimentação, em razão dos serviços essenciais e das condições sociais no Brasil.

Punições mais severas por parte das autoridades da segurança são previstas para quem desobedecer as contenções no Ceará. O lockdown começou ontem em Fortaleza e, por conta das barreiras de fiscalização, trouxe engarrafamento aos motoristas. O secretário de segurança do estado, André Costa, esclareceu que, para se deslocar, as pessoas devem andar com comprovante de residência e documentos que indiquem a necessidade de sair de casa. No caso de resistência de populares, os policiais podem fazer a condução até a delegacia.

Hoje será a vez de a Bahia testar as primeiras medidas de confinamento. Em Salvador, o prefeito, ACM Neto, afirmou que irá adotar o que chamou de “lockdown setorializado”, não fechando a cidade por completo. “Se não funcionar, o próximo passo é o lockdown, fechamento de tudo”, adiantou, em coletiva de ontem. Ele não especificou, ainda, quais serão os pontos bloqueados.

Mesmo tendo uma das maiores incidências nacionais de casos e mortes por 1 milhão de habitantes, o Amazonas não adotou as medidas de bloqueio. O Ministério Público do estado chegou a acionar a Justiça, mas teve o pedido negado em primeira instância. “É necessário que todas as decisões sejam debatidas e tomadas com a máxima brevidade possível, isso é um fato. Mas não podemos deixar de ter responsabilidade com o coletivo. Por isso, para uma medida mais extrema, devemos esgotar as possibilidades, porque mesmo sob isolamento social forçado, precisaremos cuidar dos acometidos pela covid-19, e isso envolve continuar ampliando nossa capacidade de atendimento na rede hospitalar”, justificou o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), pelas redes sociais. Ontem, o Amazonas ultrapassou 10,7 mil confirmações da covid-19.

 

Perto de 10 mil mortes

O Brasil fechou a semana com mais um triste recorde do combate ao novo coronavírus. Ontem, o país confirmou mais 751 mortes pela covid-19 e se aproximou de 10 mil casos fatais. No total, a doença já fez 9.897 vítimas no Brasil. Os números divulgados pelo Ministério da Saúde também mostram um acréscimo de 10.222 casos da doença, totalizando 145.328 brasileiros infectados.

O diretor de análise em Saúde e Vigilância, Eduardo Macário, explicou que o número não reflete, literalmente, as mortes que aconteceram de um dia para outro, mas, sim, as que foram confirmadas. Ao exibir um gráfico de óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por covid-19, o secretário indicou que foi em 23 de abril que o país registrou o maior número de mortes: 290. “Esse até o momento é o dia em que ocorreram mais óbitos confirmados pelo novo coronavírus no Brasil”, disse.

O Ministério da Saúde analisou o perfil de 8.233 vítimas. A maioria das mortes, 3.862, está concentrada na faixa etária de 60 a 79 anos. Grande parte dos doentes apresentava algum fator de risco: 65%. As mais comuns são cardiopatia, diabetes e doença renal. A análise feita pela pasta ainda mostra que 46,5% das vítimas são brancas, 43,9%, pardas; 7,4%, pretas; 1,9%, amarela; e 0,4%, indígena.

Além de São Paulo, 12 estados registram ao menos 100 fatalidades. São eles: Rio de Janeiro (1.503), Ceará (966), Pernambuco (927), Amazonas (874), Pará (515), Maranhão (330), Bahia (183), Espírito Santo (165), Paraíba (114), Minas Gerais (111), Alagoas (108) e Paraná (106). Juntos, esses estados somam 9.318 mortes, ou seja, 94% dos óbitos do Brasil.

Outro dado apresentado  foi o aumento de internações. De acordo com o Sistema de Vigilância Epidemiológica que registra todas as internações por SRAG, o Brasil tem desde o início do ano 107.895 hospitalizações, o que representa cerca de 606% a mais do que o registrado no mesmo período em 2019.

 

Brasil é ineficaz nas restrições

Macário acredita que o número reflete a situação atual frente à pandemia. “Os hospitais estão bastante forçados em termos de capacidade de dar uma resposta para os inúmeros casos que vêm adentrando. Todos esses casos são considerados graves”, detalhou. (BL e MEC)

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