PESQUISA SOBRE O MAB CONVIDA O PÚBLICO A SE INTEGRAR

ANTES ARTE DO QUE TARDE:

O MUSEU DE ARTE DE BRASÍLIA DESDE O ANEXO DO BRASÍLIA PALACE HOTEL

 

Projeto convida o brasiliense a se integrar a um trabalho de recuperação da história do edifício do MAB

*Maíra Oliveira Guimarães, doutoranda pela FAU/UnB, desenvolve profunda pesquisa sobre a história do local, desde 1958 até os dias atuais

*Convite para a participação do público será feito através das redes sociais, para o compartilhamento de fotografias, informações, etc

*Resultado da pesquisa será tema de publicação que será lançada esse ano

 

Um edifício com muita história pra contar. Essa poderia ser uma apresentação sucinta do MAB – Museu de Arte de Brasília, uma construção que, ao longo de 60 anos de vida, já foi restaurante, bar, boate, clube, casa de samba e, desde 1985, museu de arte. O local nasceu nos primeiros tempos da construção da capital brasileira, passou por vários períodos de abandono e atualmente está em reforma, com término previsto ainda para 2020. Toda essa história, com detalhes de personagens, acontecimentos e curiosidades está sendo levantada pela pesquisadora em patrimônio Maíra Oliveira Guimarães. Através do projeto ANTES ARTE DO QUE TARDE – O MUSEU DE ARTE DE BRASÍLIA DESDE O ANEXO DO BRASÍLIA PALACE HOTEL, ela tem recuperado a trajetória desse local tão precioso para a cultura de Brasília. Agora, Maíra faz um convite aos brasilienses para que se integrem a este esforço de lançar luz ao esquecimento. A partir do mês de abril, ela estará recebendo, digitalmente, material sobre a história do local. O resultado será publicado em obra a ser lançada em 2020 e com exemplares doados a seis bibliotecas públicas do DF.

A ideia de Maíra Oliveira Guimarães é que as pessoas se sintam estimuladas a dar depoimentos, enviar fotografias, relatar curiosidades que permanecem desconhecidas. As lacunas desta história ainda são muitas. Por exemplo, só recentemente é que a autoria do projeto do edifício foi reconhecida como sendo do alagoano Abel Carnaúba Accioly, arquiteto da Novacap durante a construção de Brasília e assistente pessoal de Oscar Niemeyer nos anos sessenta. Maíra chegou a viajar para Olinda para entrevistar Abel, hoje com 85 anos de idade.

No começo de sua pesquisa, Maíra Guimarães trabalhou na revisão bibliográfica e na coleta de documentos junto aos principais acervos. Foram pesquisados arquivos de órgãos como a Secretaria de Cultura do GDF, o Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, o Arquivo Público do DF, o próprio MAB e o Museu Nacional da República Honestino Guimarães. Em seguida, a doutoranda fez entrevistas com ex-administradores do MAB, como a gravurista Leda Watson e os artistas e curadores Bené Fonteles e Ralph Gehre. Agora, ela quer a participação de quem nunca teve oportunidade ou desejou contar sua parte da história para ajudar na coleta de dados e registros iconográficos, em especial com fotografias e flyers, por exemplo, de exposições e demais eventos realizados no prédio.

As redes sociais do projeto divulgarão semanalmente curiosidades e fotos históricas já coletadas e pedirão ao público o envio digital de registros que o brasiliense possa ter em casa. Será lançada uma campanha para cada uso diferente que o edifício já teve: Restaurante do Anexo do Brasília Palace Hotel (1960-1962), Clube das Forças Armadas (1966-1973), Casarão do Samba (1974-1980) e Museu de Arte de Brasília (a partir de 1985). No caso da campanha sobre o Clube das Forças Armadas, por exemplo, será lançada uma “Caça às debutantes”. Espera-se que as meninas, hoje com cerca de 70 anos de idade,  contribuam com fotografias tiradas no edifício durante os muitos bailes organizados na década de 60 e 70.

A campanha para adesão dos brasilienses será divulgada através dos perfis do projeto no Instagram (@mab.antesartedoquetarde) e na fanpage do facebook “MAB/antes arte do que tarde”. Os materiais coletados poderão ser encaminhados para o email: mab.antesartedoquetarde@gmail.com.

O projeto ANTES ARTE DO QUE TARDE foi aprovado na linha de apoio à Pesquisa, Inventário e Publicação, do edital FAC 2017, o Fundo de Apoio à Cultura da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Distrito Federal. Até o final do ano será lançada a publicação “Antes arte do que tarde: o Museu de Arte de Brasília desde o Anexo do Brasília Palace Hotel“, contendo a cronologia ilustrada dos usos e eventos abrigados pelo prédio, além dos projetos e alterações físicas executadas desde a sua concepção na década de 1960 até a reforma que está em andamento. Por fazer parte de um projeto de doutorado na FAU/UnB, o estudo seguirá por mais dois anos, tendo como conclusão uma segunda edição – ampliada – da publicação.

 

RECUPERAR A HISTÓRIA

A vida do edifício do Museu de Arte de Brasília pode ser considerada uma das mais antigas e conturbadas da história da Capital. Construído em meio aos preparativos da inauguração da cidade para servir como restaurante do Anexo do Brasília Palace Hotel, o edifício foi rapidamente subutilizado, passando a abrigar outros diversos usos, como boate, clube e casa de shows, até que foi convertido na primeira sede do acervo de arte do Governo do Distrito Federal.

RESTAURANTE, BAR E BOATE – Construído entre 1960 e 1961, o edifício fazia parte do esquecido Anexo do Brasília Palace Hotel, que abrigava funcionários e hóspedes de “menor escalão” durante a construção de Brasília. Ficava situado entre quatro pavilhões apartamentos. Com a chegada maciça de servidores transferidos para a nova capital – só entre abril e maio de 1960 foram mais de 4 mil – o local rapidamente se transformou numa das áreas mais vivas e mais ocupadas de Brasília, gerando o surgimento de estabelecimentos comerciais, como a Churrascaria do Lago.

Nos primeiros anos da década de 1960, os principais eventos culturais da cidade ocupavam a Concha Acústica, o Brasília Palace e o Restaurante do Anexo, que além de fornecer comida aos hóspedes e moradores da região, funcionava como bar e boate à noite. Lá, realizou-se o Concurso Miss Brasília 1961 e, um ano depois, a primeira exposição de arte do local (e uma das primeiras de Brasília) com obras do MAM-RJ acompanhadas de jóias desenhadas por Roberto Burle Marx. Mas passados os primeiros anos, o Setor de Hoteis e Turismo Norte foi sendo esvaziado, os blocos de apartamentos desocupados e, em 1966, o prédio se encontrava em estado de abandono.

CLUBE DAS FORÇAS ARMADAS – Após pequenas reformas estruturais e a construção de duas quadras de esporte, o prédio foi inaugurado como Clube das Forças Armadas em maio de 1966. O Círculo Militar organizou uma série de eventos e solenidades no prédio, como um discurso de Castelo Branco em comemoração do Golpe Militar, além de sessões semanais de cinema gratuito e inúmeros bailes de jovens debutantes. O clube funcionou no local até 1973, quando passou à administração da Associação Atlética da Novacap.

CASARÃO DO SAMBA – Através de editais de ocupação, o prédio foi acolhendo festas e shows semanais realizados entre 1975 e 1980, principalmente sob o comando de Pernambuco do Pandeiro, um dos fundadores do Clube do Choro. O sucesso foi tão grande que o local passou a ser conhecido como Casarão do Samba, mas a acústica ruim levou os organizadores a buscarem outras alternativas. Com o incêndio do Brasília Palace, em 1978, e o fim do samba semanal, o prédio foi mais uma vez abandonado em 1980.

MUSEU DE ARTE DE BRASÍLIA – Antes de se tornar Secretaria de Cultura, a Fundação Cultural do Distrito Federal buscava, em 1984, um local para abrigar o tão sonhado Museu de Arte de Brasília. O edifício do Anexo do Brasília Palace Hotel pareceu ideal. A gravurista Leda Watson foi contratada para fazer o levantamento das obras de arte existentes em Brasília e dispersas por diferentes locais. Em março de 1985, era inaugurado do MAB, com exposição de cerca de 200 obras de artistas como Tomie Ohtake, Arcangelo Ianelli, Rubem Valentim e Glênio Bianchetti, entre outros.

De lá para cá, o local viveu momentos de glória e de abandono. Nos primeiros dez anos de vida, não contou com investimentos em obras de reforma, só ações como recuperação da impermeabilização da laje da cobertura. O resultado foi que, na década de 1990, o prédio sofreu interdição devido à insalubridade do subsolo, onde funcionava a reserva técnica do Museu. Em 1983, o Projeto Orla se propôs a transformar o MAB em Escola de Belas Artes, integrando um novo complexo cultural e turístico. Do planejamento inicial, só restaram os edifícios de apart-hotéis, que mudaram a paisagem, o acesso e a vista do MAB.

O Museu seguiu sua trajetória de sobrevivente. Nos anos 2000, vários projetos foram realizados propondo reformas no local e o MAB continuava funcionando, recebendo, esporadicamente, exposições importantes, como as individuais de Escher, Beuys, Le Corbusier e Volpi. Mas em 2008, o local foi oficialmente fechado e as obras de seu acervo levadas para o recém-criado MUB – Museu Nacional da República. Quase uma década depois, em 2017, finalmente foram liberados os recursos para o início da reforma definitiva do prédio, ao custo total de R$ 9 milhões. A ideia inicial era que a reinauguração ocorresse durante as comemorações aos 60 anos de Brasília, mas as obras seguem ainda hoje.

MAÍRA OLIVEIRA GUIMARÃES é M.Sc. em Architettura per il Restauro e la Valorizzazione del Patrimonio, Politecnico di Torino, 2014; Doutoranda na linha de pesquisa em Patrimônio e Preservação, PPGFAU, Universidade de Brasília, sob orientação da Doutora Sylvia Ficher, Professora Emérita da UnB.

 

PROJETO ANTES ARTE DO QUE TARDE

Data: de 10 de abril a 29 de maio de 2020

Campanha: através do instagram (@mab.antesartedoquetarde) e na fanpage do projeto no facebook: “MAB / antes arte do que tarde”

Envio de material e contato: mab.antesartedoquetarde@gmail.com

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