Análise do (M)Dados mostra queda na venda de títulos de Tesouro Direto. Especialistas fazem alerta sobre mudança de investimentos
A forte queda nas bolsas de valores causada pela pandemia do coronavírus e a crise da “guerra de preços” do petróleo fizeram os brasileiros repensarem suas aplicações. Enquanto os grandes investidores trabalham para reverter a situação, o cidadão comum tenta identificar a melhor forma de não perder dinheiro, ou mesmo apostar na saída para garantir um bom rendimento. Uma dessas opções é a renda fixa.
O coordenador do MBA de gestão financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, explica que a queda nas vendas e os saques antecipados no Tesouro Direto aconteceram devido a uma expectativa das pessoas, nos últimos meses, de ter melhor rentabilidade nos fundos de renda variáveis. “No momento que a gente está vivendo, nada é garantido, mas não há motivo para se preocupar, porque o Tesouro Direto é sempre honrado pelo governo federal”, destaca.
Na última segunda-feira (09/03), após a bolsa cair 12,17%, o pior índice desde 1998, e o dólar chegar a R$ 4,72, houve aumento nas taxas do Tesouro Direto. Por outro lado, na quarta-feira (11/03), o governo reduziu a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,4% para 2,1% em 2020, o que fez os títulos públicos recuarem novamente.
“Hoje, as pessoas estão com muito medo da renda variável pelo que aconteceu com a bolsa. Ninguém tem a resposta sobre o que vai acontecer, mas é prudente ser mais cauteloso e privilegiar o que é menos volátil”, ressalta Ricardo Teixeira.
Atenção aos tipos de títulos
Analista de renda fixa da casa de análises Spiti, Guilherme Cadonhoto explica que é preciso estudar as opções do Tesouro Direto para saber se o melhor é investir ou vender neste momento. “Uma parte dos títulos está atrelada à Selic, às taxas pós-fixadas, que não tem risco de mercado e não sofre com essa crise toda.”
Por outro lado, diz o especialista, os títulos pré-fixados e indexados ao Índice de Inflação do Brasil (IPCA) possuem maior risco hoje. “Com o atual cenário, eles devem ficar alternando muito daqui para a frente e vão perdendo valor de mercado”, pontua. Diante desse quadro, os investidores tendem a fugir dessas modalidades e a se desfazer desses papéis.
No entanto, mesmo entre os pré-fixados, há possibilidades de ganho a curto prazo. Guilherme Cadonhoto frisa que há uma expectativa de inflação no Brasil de 3% para este ano e de 3,5% em 2021. “Esperam um índice muito baixo, mas deve haver surpresa.” Segundo o analista, caso a inflação seja maior no período, o investidor será beneficiado com esse crescimento. Por isso, aqueles com prazo curto, de um ou dois anos, podem ser boas apostas.
Por fim, Cadonhoto diz que não é possível prever melhora no quadro econômico atual. “Enquanto não houver solução mundial sincronizada e eficaz para os riscos, no caso do coronavírus e do problema do petróleo, os títulos vão continuar voláteis e com riscos muito altos”, avalia.