Localizada a poucos quilômetros da Esplanada dos Ministérios, a região guarda edificações históricas da época da construção de Brasília. Memória é resgatada em mais uma matéria da série Brasília sexagenária
Igreja pioneira
Para saber mais
Na madrugada de 5 de março de 2000, por volta da 1h45, um incêndio destruiu a Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas, quando chegou, não era mais possível conter as chamas. Dias depois, foi instaurado um inquérito para apurar o caso, na 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte). À época, havia denúncias de que o incêndio teria sido criminoso. Resquícios de gasolina foram encontrados próximo ao local, reforçando as suspeitas. No entanto, sem conclusão, o inquérito foi arquivado no ano seguinte.
Memória
O episódio conhecido como o Massacre da Pacheco Fernandes gera dúvidas até hoje. Em 1959, houve uma confusão no canteiro da construtora, onde hoje fica a Vila Planalto. Alguns informam apenas uma morte, enquanto supostas testemunhas denunciam um massacre. O inquérito policial aponta que 27 soldados da antiga Guarda Especial de Brasília (GEB) atiraram contra os operários, após uma revolta. Oficialmente, a ação teria deixado um morto e alguns feridos.
Carta para José Sarney
Entre 1980 e 1987, houve pressão do governo para derrubar a Vila Planalto, segundo o arquiteto Frederico de Holanda. Esse movimento ficou na memória da escritora e moradora Leiliane Rebouças, 44 anos. “Os fiscais ficavam circulando pela vila. A gente vivia com medo. Eles entregavam cartas com um bilhete pedindo para deixar a casa em 24 horas”, relata. Aos 10 anos, Leiliane acompanhava a mãe nas reuniões da comunidade pela manutenção dos lotes. “Eu dei a ideia de a gente conversar com o presidente (José Sarney) e todo mundo me achou louca. A gente não conseguia falar nem com o governador, imagina com o presidente”, comenta.
Com o apoio de amigos, convenceu a mãe a levá-la a uma cerimônia na Praça dos Três Poderes. “No dia, fiquei sentada no pé da minha mãe. Combinamos que, quando o presidente estivesse no meio da rampa, ela me daria um empurrãozinho. Na hora, eu passei por baixo das pernas de um segurança e saí correndo. Quando cheguei ao carro, fui interceptada. Depois, o Sarney mandou me chamar, e eu entreguei uma carta para ele”, revela.
A carta foi respondida cerca de 15 dias depois, segundo Leiliane. O assunto foi encaminhado ao governador, e Leiliane chegou a ser chamada ao Palácio do Buriti, onde recebeu a informação de que havia um projeto para o tombamento da cidade. Em 1987, Brasília recebeu o título, e a Vila ficou dentro do perímetro.
Abandono
Enquanto algumas casas encantam pelo colorido e pelo resgate da memória da construção da capital brasileira, outras estão abandonadas. No Conjunto Fazendinha, onde as residências têm até hoje os formatos originais, muitos imóveis estão esquecidos. A Secretaria de Cultura e Economia Criativa informou que o Acampamento Pacheco, onde está o Conjunto Fazendinha, tem um importante acervo, que deve ser cuidado e preservado. De acordo com a pasta, foram iniciadas conversas com a Secretaria de Cidades para a realização de intervenções no local, como limpeza, urbanização e sinalização. Após a conclusão dos trabalhos, a equipe técnica da pasta iniciará a avaliação do processo de tombamento da área.