Profissão influencer : Como se tornar um

Muito além do glamour, a profissão que começou na era dos blogs vem se fortalecendo como empreendimento lucrativo nas redes sociais

 

 

A frase “more than you see” (mais do que você pode ver, em livre tradução) fixada no perfil da influenciadora Luly Mello reflete os perrengues de quem trabalha no meio digital. “As pessoas tendem a pensar que se trata apenas de receber presentes em casa, mas vai muito além disso”, comenta.
Seguida por mais de 280 mil pessoas, Luly representa milhares de jovens e adultos que enxergaram na rede social a oportunidade de transformar o hobby em algo rentável, empreendimento mesmo. Nesse cenário, o perfil se torna um canal de comunicação que dialoga com a audiência fiel.
Levantamento desenvolvido pela Qualibest evidenciou que entre os brasileiros que estão on-line, 71% seguem algum influenciador. Dessa estimativa, 55% afirmam que costumam pesquisar a opinião de produtores de conteúdo antes de efetuarem uma compra importante, 86% já descobriram um produto via influenciador e 73%, de fato, adquiriram algo por indicação desse profissional da internet.
A aura de “gente como a gente” é o ponto-chave para a construção da credibilidade de um digital influencer, de acordo com Daniela Malouf, diretora da Qualibest. Uma vez que o seguidor leva em conta se o produto determinado foi usado e aprovado pelo produtor de conteúdo que segue.
Profissionalização
Luly desmistifica que a profissão é puro glamour. A chave do sucesso está atrelada a uma rotina intensa, que vai além do que mostra no Instagram(foto: Romulo Juracy/Divulgação )
Luly desmistifica que a profissão é puro glamour. A chave do sucesso está atrelada a uma rotina intensa, que vai além do que mostra no Instagram(foto: Romulo Juracy/Divulgação )
A blogosfera foi o pontapé inicial para Luly Mello. Designer de moda por formação, realizou um curso de marketing voltado para o segmento fashion e foi desafiada pelo professor a criar um blog. “Cada aluno era de um local do Brasil, por isso a missão era criar uma página e nos conhecermos por lá”, relembra.
Depois de três anos blogando, os frutos começaram a aparecer. Hoje, oito anos depois, a influencer globetrotter se tornou referência de moda, beleza e lifestyle. Com a agenda cheia, Luly se divide entre a ponte-aérea Brasília-São Paulo. E o conteúdo não pode parar! Até mesmo o aeroporto é spot para produzir conteúdo, como os requeridos aerolooks.
Para aprimorar as habilidades foi necessário estudo. Além do curso de oratória e impostação de voz, fez questão de aprender mais sobre equipamentos fotográficos e técnicas de fotografia. E garante: “Não existe milagre, paciência é a chave do sucesso.”
“Existe sempre uma equipe por trás de tudo aquilo que eu faço, do fotógrafo ao financeiro. É necessário alinhar objetivos e princípios e busco fechar parceria somente com marcas com que eu tenho sinergia. Afinal, se trata da minha autoridade no meio, minha reputação”, conta.
Como em qualquer carreira, é necessário se dedicar muito e esperar a “lei natural” dos acontecimentos. E a sede por conhecimento e melhoria é perceptível para quem acompanha do outro lado da tela. “Gosto do que eu faço, mas tenho a sensação de que preciso fazer mais, me reinventar. Nesses quase oito anos, vi muita coisa mudar e mais mudanças ainda estão por vir. A cada novo formato vem para somar, para integrar o nosso trabalho”, reflete.
Consolidação
(foto: Julia Munhoz/Divulgação )
(foto: Julia Munhoz/Divulgação )
Assim como Luly, Julia Munhoz começou no blog, em 2011. A partir disso, foi estudando e gradualmente aperfeiçoando o conteúdo. Depois vieram as estratégias e mecanismos de conquistar uma audiência, conta a especialista em marketing digital e estratégias para marcas e influenciadores.
Com bagagem no segmento, Julia começou a compartilhar o seu conhecimento em palestras e cursos especializados. Para ela, o segredo do influenciador de sucesso está no combo autenticidade, identidade e conteúdo relevante.
“Diariamente se compete com muitas informações no feed. Quem trabalha — ou pretende trabalhar — com internet, precisa buscar ser original e agregar valor para os seus seguidores. Conhecer quem te acompanha contribui para o direcionamento assertivo”, indica a especialista.
No início da era Instagramer, segmentar era uma máxima. No entanto, a tendência vem se adaptando. A partir do momento que há um público consolidado, o influenciador pode ampliar o leque de oportunidades, fator que tende a fortalecer a marca pessoal. Mas lembre-se: “Criar relacionamentos com a audiência deve ser sua prioridade. Sempre”, afirma Julia.
“Assessoro alguns influenciadores que ainda se veem apenas como ‘blogueirinhos’ e não enxergam o potencial que possuem. É preciso se posicionar, valorizar o seu trabalho, cuidar da sua marca pessoal e entender que as estratégias de marketing adotadas influenciam diretamente o andamento da sua empresa ou perfil”, indica.
Proteção jurídica
Aos que não têm experiência com contratos publicitários, procurar um advogado especializado pode ser uma boa opção. Além de respaldar ambos os lados, garante que tanto o influenciador quanto a empresa estejam cientes de como será o serviço prestado.
Para cada ocasião é preciso um contrato exclusivo, que deve abranger desde quantidade de fotos até a validade do material produzido. “Termos como confidencialidade, repercussão, o que prevê em caso de calúnia ou difamação são indispensáveis”, explica a advogada Bruna Kopp, especialista em direito da moda.
“O mercado ainda está entendendo como funciona a figura do influenciador e como ele pode contribuir para a empresa. No início, algumas influencers acabam fazendo contrato boca a boca, podendo acabar dentro dessa relação sem segurança”, informa.
Ao contrário do que algumas marcas exigem, o influenciador não é vendedor. O trabalho funciona como reforço de marca (ao lado de outras estratégias). “A marca espera um retorno, o que é muito natural. Para assegurar isso, colocamos mecanismos dentro do contrato para comprovar que o investimento não foi em vão. Cupons de desconto, por exemplo, conseguem filtrar que determinada pessoa veio a partir do influenciador.”
Oportunidade
Desde o início do blog, Valéria procurou encarar o blog com profissionalismo.(foto: Valeria Lessa/Divulgação )
Desde o início do blog, Valéria procurou encarar o blog com profissionalismo.(foto: Valeria Lessa/Divulgação )
O tino para os negócios acompanha a influenciadora Valéria Lessa. Fashionista nata, a brasiliense arrebanha hoje mais de 146 mil seguidores no Instagram, iniciando a trajetória no blog, após fechar sua empresa há quatro anos.
O encorajamento para apostar no ramo da moda veio a partir de amigas e da família, que sempre a consultavam na hora de escolher looks. “A moda sempre me acompanhou de alguma forma. Quando montei o blog sabia que queria falar sobre o tema e fui além: decidi focar na cena de Águas Claras, cidade onde moro”.
Para se destacar no meio, o mindset empreendedor foi essencial. “Nunca encarei o trabalho nas redes sociais de forma amadora, sempre busquei profissionalizar. Quando os primeiros convites para parcerias vieram, apresentava notas fiscais e formulava contratos individuais de acordo com cada serviço”, relembra.
Fora os números, foi necessário crescer em confiança e verdade. O conteúdo exclusivo de moda, aos poucos, foi agregando temas do cotidiano de Lessa, como maternidade, autoestima e estilo de vida saudável. Vez ou outra, os pequenos Maria Cecília e Miguel abrilhantam os stories da fashion mom — que já entrou na onda dos desafios do Tik Tok, febre entre as crianças e adolescentes.
Atualmente a influencer conta com um assessor para filtrar os convites para eventos e publicidade. No entanto, gosta de selecionar a dedo as marcas com que trabalha. “Têm empresas que estão comigo há anos e as pessoas até relacionam o produto a mim. Credibilidade está nisso, sabe? Mostrar aquilo em que você acredita e consome”, reflete.
Sobre as expectativas para os próximos anos, Valéria não hesita: “É preciso se reinventar”. Sejam cursos, sejam marcas, os influenciadores precisam maximizar o negócio e englobar esferas além da rede social. “Mexemos com contratos de curta temporada e para ter mais estabilidade é preciso ter um plano b, c, d. Por isso mantenho meu blog ativo, por exemplo”.
Entrevista/Amber Venz Box
Amber, juntamente com o seu marido, enxergou a possibilidade de bloggers alcançarem a independência financeira trabalhando com as redes sociais(foto: Amber Venz Box/Divulgação )
Amber, juntamente com o seu marido, enxergou a possibilidade de bloggers alcançarem a independência financeira trabalhando com as redes sociais(foto: Amber Venz Box/Divulgação )
Destaque da Forbes 30 under 30, empresária, influenciadora e idealizadora de duas plataformas que movimentam bilhões na indústria da moda: os rótulos que acompanham a americana Amber Venz Box, 33, indicam que a ruiva é uma verdadeira girl boss.
Ao lado do marido e sócio Baxter Box, Amber lançou a RewardStyle, em 2011, e o aplicativo LIKEtoKNOW.it, em 2014, onde influenciadoras de todo o mundo são capazes de monetizar suas contas de Instagram.
Em sua passagem pelo Brasil, a Revista bateu um papo sobre carreira, mercado de moda e futuro dos influenciadores.
Como você iniciou no mundo da moda? 
Sempre amei blogar, mas precisava encontrar uma maneira de me sustentar, né? (risos). Por isso, paralelamente ao meu blog, trabalhava como personal shopper para lojas em Dallas, Texas, onde moro até hoje. Eu sabia que queria fazer compras pessoais, que tradicionalmente era um negócio off-line, e colocá-las on-line, mantendo a mesma estrutura de remuneração.
Criar uma plataforma não acontece de um dia para o outro. Como o projeto foi tomando forma? 
Desde o começo fui impulsionada por uma missão: empoderar mulheres, fazer com que elas conseguissem ser bem-sucedidas fazendo o que amam. Por intermédio da Reward, nós conectamos influencers de todos os segmentos imagináveis às marcas que desejam ampliar a sua notoriedade no mercado digital e nas redes sociais. De vinhos a livros, de pets a moda.”
E com a LIKEtoKNOW.it, como aconteceu?
Novamente nosso foco foram as influenciadoras. O aplicativo permite monetizar postagens nas mídias sociais e os clientes compram o produto que deseja via screenshots (ação de registrar, por meio de uma “fotografia instantânea”, uma imagem presente na tela). Os varejistas geram e acompanham as vendas em todos os canais globalmente. Essa relação se mostra vantajosa para ambos os lados e consegue conectar os produtos ao seu público de interesse.
 
Fora as duas empresas, você ainda participa de palestras, produz conteúdo para o Instagram e é mãe de duas crianças. Como conciliar todos esses pilares da sua vida?
Às vezes, a rotina pode ser bem puxada, por conta das viagens e tudo mais. E quem me apoia muito é a minha família, principalmente a minha mãe, que cuida dos meus filhos quando preciso me ausentar numa semana de moda, por exemplo. Mas tenho o lema de não desperdiçar nenhum momento e fazer o tempo em família — e com as minhas amigas — ser de qualidade. Porque apesar de ser difícil e cansativo deixar a minha casa, é necessário estar no mercado, em contato com pessoas e marcas.
Por último, como você enxerga o futuro dos influencers?
Bom… é meio difícil prever o que vai acontecer, mas tenho certeza de que a tendência é expandir e ser ainda mais valorizado. Não sei se no Instagram ou em outra plataforma, o que hoje entendemos como influenciador só vai crescer e as marcas já estão percebendo que trabalhar com alguém que possui uma audiência segmentada e fiel pode fazer toda a diferença para a construção da reputação.
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