Carnaval com respeito: blocos e festas promovem ações de conscientização

Blocos de rua e festas que animarão o público de Brasília no carnaval promovem ações de conscientização e orientam sobre como se proteger de situações de violência

 

No período da maior manifestação popular brasileira, a sociedade civil se mobiliza e se une para promover campanhas em respeito ao corpo e às liberdades individuais. Contra o assédio ou qualquer tipo de violência e agressão, como o racismo e a LGBTfobia, grupos intensificam, no carnaval, as ações de conscientização, seja nas redes sociais, seja no corpo a corpo em bloquinhos e em festas espalhadas pela capital.
Pelo terceiro ano consecutivo, o Coletivo dos Blocos de Rua de Brasília, formado por fotógrafos, designers, produtores, cineastas e artistas da cidade, promove a campanha Folia com Respeito. “O carnaval de Brasília teve um crescimento fabuloso, mas, com essa quantidade toda de pessoas nas ruas, alguns problemas sociais, que a gente já tem, acabam se acentuando”, justifica Letícia Helena, coordenadora do projeto.
Com bom humor, preocupada com a representatividade de diferentes grupos e em gerar empatia, as ações foram pensadas tanto para a conscientização dos foliões em relação ao respeito às outras pessoas como para incentivar atitudes baseadas no autocuidado e na solidariedade com o próximo, sobretudo os grupos que são alvo de assédios, violência e racismo.  “É melhor se unir no combate à violência, cuidar da gente e de quem estiver à nossa volta. Dizer o que está errado e incentivar que o público seja a heroína ou o herói dos outros foliões, que se importem, que reajam”, comenta Letícia.
Dando um passo além da conscientização, o objetivo da Folia com Respeito é empoderar o público-alvo da campanha. Além dos vídeos e das publicações em redes sociais, este ano, o coletivo conseguiu um posto móvel para prestar o atendimento à vítima no local. “Temos uma equipe de oito pessoas, formada por homens e mulheres trans, que vai passear pelos blocos assinantes da campanha distribuindo adesivos, camisinhas, lubrificantes e observando para ver se podemos interferir de forma positiva”, descreve a coordenadora. Na internet, o grupo também realiza um monitoramento em posts e mensagens, caso alguma vítima se sinta mais segura em usar o ambiente virtual para fazer a denúncia.
Também como parte da iniciativa, pelo segundo ano consecutivo, o coletivo assina com os blocos uma carta compromisso. “Só recebe o selo da campanha o bloco que assinar a carta e se comprometer a se colocar à disposição para dar esse apoio às vítimas”, explica Letícia. Assim, como uma espécie de corrente, os blocos somam ações e multiplicam a potência do discurso. A fim de garantir uma comunicação clara, bem direcionada, de caráter informativo e sem ofensas, a equipe do coletivo é composta por gays, lésbicas, bissexuais e homens e mulheres trans. “É um trabalho em processo, ainda mais no período social e político que estamos enfrentando.”
Para além da conscientização, o Instituto Amizade, organização não governamental do público LGBT, atua na frente de prevenção. “As pessoas não falam mais sobre a importância de se cuidar, das DSTs, da gravidez”, analisa Baby Brasil, drag queen presidente do instituto. Assim, o grupo, além de aderir à campanha Folia Com Respeito, leva, há quatro anos, para os blocos o personagem Camisinha. “É um personagem alusivo, que no primeiro momento surpreende, mas atrai. As pessoas pedem para tirar fotos e, com isso, conseguimos ampliar a campanha”, conta Baby Brasil.

Contra o assédio

O carnaval de 2020 será o segundo após a sanção da Lei Federal nº 13.718, de 2018, que tipifica como crime a importunação sexual. Pela lei, são consideradas assédio atitudes libidinosas sem consentimento como puxão no braço, beijo forçado, xingamentos, toques íntimos, entre outros. A pena pode variar entre um e cinco anos de detenção. Criado em 2017, no Rio de Janeiro, por um grupo de amigas após um episódio de assédio sofrido por uma delas, o coletivo Não é Não! chega este ano a 16 estados e ao Distrito Federal. A principal ação do grupo é a distribuição de tatuagens temporárias escritas Não é não.
“Hoje, vemos mais mulheres se posicionando, nas fantasias, com as tatuagens e até tomando posições na vida prática, defendendo uma amiga. Mas, ainda estamos bem distante do mundo justo, ideal e seguro para as mulheres. Da mesma forma que a nossa estratégia melhora, a dos homens também, é algo que está naturalizado”, comenta Mariana Venturim, uma das embaixadoras do coletivo no DF.
Ao todo, depois de uma bem-sucedida campanha de financiamento coletivo, serão distribuídas cerca de 300 mil tatuagens em todo o Brasil e mais de nove mil no DF — em 2019, foram quase quatro mil pelos blocos da capital. “Não distribuímos para os homens, só para as mulheres, porque entendemos que o nosso corpo é o outdoor da nossa luta”, explica a embaixadora. Ao lado de Mila Ferreira, a outra embaixadora da região, as meninas promovem hoje uma reunião para reunir as voluntárias e convidar mais participantes. De acordo com a agenda das festas, elas se dividem em grupos de quatro voluntárias para distribuir as tatuagens.
Para o quarto ano de folia, o Carnaval no Parque se uniu ao coletivo brasiliense #bsbrespeitaasmina para traçar as estratégias contra violência, assédio, racismo e LGBTfobia. “Primeiro, formamos um grupo focal, com mulheres da cidade, de 18 a 34 anos, para entender do que elas sentem faltam, como o evento poderia ser mais seguro”, detalha Nath Rezende, gerente de projeto da R2 Produções. A partir das demandas apresentadas e da experiência do grupo, cartazes com frases de conscientização serão colocados em áreas comuns e nos banheiros, tanto nos femininos quanto nos masculinos.
Toda a equipe de gestores de operação, bem como os servidores terceirizados, serão treinados em comunicação não violenta e não agressiva; haverá uma central de acolhimento e uma ‘mana’ — mulher com estudos em psicologia — circulando pela festa para observar e ajudar em qualquer situação necessária. Também haverá uma central de informações com informativos e explicações sobre as campanhas, um código que pode ser dito para qualquer pessoa da produção do evento em caso de assédio e uma ação de segurança na saída para encaminhar o público feminino ao carro ou aplicativo móvel. Ao final do carnaval, a ideia é reunir novamente o grupo focal para analisar o que foi feito.

Autocuidado

O bloco Essa Boquinha Eu Já Beijei lançou, este ano, o manual do folião. Nas redes sociais, o bloco fala sobre a importância do autocuidado e da redução de danos, como se hidratar, evitar se isolar de amigos, guardar celular em local seguro e gritar a palavra de ordem “agressor” para facilitar que o bloco tenha conhecimento de qualquer conflito que possa ocorrer durante a folia. Instagram: @essaboquinha.

Respeite e proteja-se

Folia com Respeito
Por meio de vídeos e apoio nos dias de folia, pretende conscientizar sobre o respeito às outras pessoas e incentivar atitudes baseadas no autocuidado e na solidariedade
Facebook: /foliacomrespeito
YouTube: bit.ly/39dKnNl
Instagram: @foliacomrespeito
 
Não é Não
Para combater o assédio, distribui, para mulheres, tatuagens temporárias com os dizeres Não é não. Quem quiser ter as tatuagens distribuídas no seu bloco ou tiver interesse em ser voluntário pode escrever para naoenaodf@gmail.com.
O primeiro encontro regional no DF ocorre hoje, às 19h, no Espaço Co-Piloto (CLS 306 — Subsolo da Endossa).
Instagram: @naoenao_
Facebook: /tatuagensnaoenao
#bsbrespeitaasmina
Facebook e Instagram: @bsbrespeitaasmina
» Para todos os tipos de violência, é possível:
» Ligar no 197
» Enviar as informações da ocorrência para 98626-1197 (WhatsApp)
» Fazer a ocorrência pelo site da Polícia Civil
» Enviar um e-mail para denuncia197@pcdf.df.gov.br
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