PCC monitorou secretário de segurança e delegados do Distrito Federal

Polícia Civil e Ministério Público investigam ações que estariam relacionadas ao surgimento de uma célula da facção no DF. Informações obtidas pelo Correio dão conta de que o secretário de Segurança do DF seria alvo do grupo criminoso

 

Relatórios de inteligência identificaram que autoridades do Distrito Federal poderiam ser vítimas do Primeiro Comando da Capital (PCC). Entre os alvos monitorados pela facção, estava o secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres. Além do chefe da pasta, delegados tiveram informações pessoais difundidas entre criminosos, e uma juíza da Vara de Execuções Penais (VEP) sofreu ameaças em um bilhete encontrado na Penitenciária Federal em Brasília.
A movimentação da organização criminosa acendeu o alerta dos investigadores. Na manhã desta terça-feira (7/1), a Polícia Civil do DF deflagrou a Operação Guardiã 61 para desarticular uma célula do PCC em Brasília. Oito alvos da ação estavam presos preventivamente no Complexo Penitenciário da Papuda por tráfico de drogas, roubo e receptação. No total, a Justiça emitiu 14 mandados de prisão preventiva. Os investigadores cumpriram, ainda, cinco mandados de busca e apreensão, em Taguatinga e no Jardins Mangueiral, inclusive contra advogados que dariam suporte à facção na capital federal.
Até agora, a polícia desconfia que existam 30 integrantes da célula do PCC no DF. O surgimento de um braço da organização criminosa em Brasília é monitorado pelas forças de segurança desde a transferência de integrantes da cúpula do grupo para Brasília, em 2018 e 2019, incluindo Marcos Willians Herbas Camacho — o Marcola. Dos 14 mandados de prisão, seis seguem em aberto. A polícia deve cumprir três deles nos próximos dias, em uma nova fase da operação.
As investigações que culminaram na operação especial desta terça-feira (7/1) ocorreram em 2019 e começaram após o caso da juíza da VEP. A polícia identificou a origem do recado e descobriu o envolvimento de integrantes do PCC. Durante a apuração, as equipes constataram que advogados do DF ofereciam suporte jurídico e pessoal à facção. Uma das formas de apoio se dava por meio da busca de bases. Os locais serviriam a integrantes do grupo como residência para parentes dos líderes, além de depósito para armazenamento de drogas e armas. Os agentes apreenderam o contrato do aluguel de um imóvel em Taguatinga no nome de um advogado. Há evidências de que esses profissionais também sondavam casas no Jardim Botânico e nos lagos Sul e Norte a mando dos criminosos.
O delegado Guilherme Melo, da Divisão de Repressão a Facções Criminosas (Difac), informou que a polícia encontrou uma ficha de cadastro da organização com detalhamento de cada integrante. O documento estava na casa de um dos advogados sob suspeita. “A investigação mostra que as ameaças comprovam a existência de atividades da facção criminosa (o PCC) no DF. E com um detalhe muito importante: a participação de ‘gravatas’, advogados. Isso a gente observava em outras unidades da Federação. Mas, com a vinda da cúpula para cá, o setor que atende a esse núcleo passou a atuar aqui”, detalhou.

Limites

O presidente da seccional brasiliense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF), Délio Lins e Silva Júnior, destacou que, se comprovada a participação desses profissionais, o caso será analisado pelo tribunal de ética da entidade. Após a avaliação, é possível haver advertências, suspensão provisória ou expulsão dos envolvidos. “O advogado de um criminoso não pode ultrapassar o limite da advocacia e se tornar um. As penas vão depender da gravidade da conduta”, comentou.
No Twitter, o secretário Anderson Torres parabenizou a Polícia Civil pela operação. Ele escreveu que a ação resultou do “total comprometimento do DF em fazer um trabalho de prevenção à criminalidade”. “Facções criminosas não terão descanso e muito menos espaço na capital”, completou. Consultada, a Secretaria de Segurança Pública informou que a pasta tem monitorado grupos e confirmou que deverão haver desdobramentos da operação.
O governador Ibaneis Rocha também elogiou a Polícia Civil do DF. “Eles (criminosos) andam em bando e, se tiverem espaço, tomam conta. Parabéns à nossa polícia e que fiquem todos de alerta. Afinal, somos a capital da República”, disse.

Memória

Facções na capital federal
A transferência de líderes do PCC para o Distrito Federal começou em outubro de 2018, com a inauguração da Penitenciária Federal em Brasília. À época, três chefes da facção criminosa vieram para a prisão, localizada no Complexo Penitenciário da Papuda. Em fevereiro, três líderes do grupo deixaram São Paulo e tornaram-se internos no DF. A mudança atendeu a uma determinação da Justiça, a pedido do Ministério Público de São Paulo.

Em março, foi a vez de Marcola, líder do PCC, ser alocado na Penitenciária Federal (foto). No mês passado, no entanto, suspeitas sobre um plano para resgatá-lo mobilizaram equipes do Exército Brasileiro, do Comando Militar do Planalto e da Força Nacional. Além dos integrantes da organização criminosa, há outros detentos com suspeita de associação ao Comando Vermelho e à Família do Norte (FDN).

A chegada desses presos ao DF gerou mal-estar no Executivo. Em diferentes ocasiões, o governador Ibaneis Rocha (MDB) reuniu-se com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, para tratar do assunto. Além do chefe do Palácio do Buriti, a Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB/DF) se manifestou contra a instalação de uma penitenciária federal em Brasília.
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