Inep divulga conceito de cursos e instituições; UnB contesta resultado

Nota da Universidade de Brasília caiu de 5 para 4, e reitoria pretende entrar com recurso. No DF, nenhuma instituição conseguiu a nota máxima

 

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulga, na manhã desta quinta-feira (12/12), dados do Conceito Preliminar de Curso (CPC) e do Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC) de 2018. O primeiro traz resultados sobre as 27 áreas de graduação avaliadas por meio do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) do ano passado e de outros indicadores no ano passado. Já o IGC consiste num “panorama” sobre 2.052 instituições de ensino superior (IES), avaliadas ao longo do triênio 2016-2018, por meio de 23.228 cursos.

Entre as 39 IES do Centro-Oeste consideradas, 69,2% alcançaram o conceito máximo, igual a 5. Outras 15% tiveram nota 3 e mais 15%, nota 4. No rol dos estabelecimentos mais bem conceituados, chama a atenção o fato de a Universidade de Brasília (UnB) não aparecer desta vez. O IGC da UnB caiu de 5 para 4. Com relação aos cursos da universidade avaliados no CPC, nenhum alcançou conceito 5. Dos 17 bacharelados da UnB considerados na amostra, apenas um obteve nota 3 (administração pública), e o restante conquistou média 4.

Confira o desempenho de todas as instituições de ensino superior do DF avaliadas no IGC 2018. 

 

UnB contesta o resultado

A Reitoria da UnB encarou o resultado do IGC como surpresa negativa e contesta os números. “A Universidade de Brasília não reconhece o resultado da avaliação, que rebaixou a instituição por um centésimo. A UnB vai recorrer de forma veemente”, declarou a Administração Superior em nota enviada por e-mail. Durante encontro técnico com jornalistas na quarta-feira (11), Fernanda Marsaro, coordenadora-geral de Controle de Qualidade da Educação Superior do Inep, informou que as instituições de ensino já tiveram acesso aos dados e período para manifestação ou recurso.

A Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs) e o Instituto Federal de Brasília (IFB) tiveram conceito 3. Nenhuma instituição do Distrito Federal conseguiu conceito 5 no IGC, ao mesmo tempo que nenhuma teve a pior nota, 1. Com conceito 2, foram 11 instituições; 23 obtiveram nota 3; e 16 alcançaram a pontuação 4.

Graduações brasilienses

No país, dos 8.520 cursos avaliados no CPC 2018, 149 alcançaram nota 5, representando 1,7%; e 34 cursos ficaram com conceito 1 (0,4%). O DF teve oito cursos com a nota máxima no CPC, sendo quatro da Universidade Católica de Brasília (UCB), três do Centro Universitário Iesb e um da Faculdade Icesp de Brasília (administração). A UCB figurou no topo com dois bacharelados em administração (um presencial e um a distância) e outros dois em ciências econômicas e em ciências contábeis.

 

Já o Iesb se destacou em psicologia e nos cursos tecnológicos em gestão pública (a distância) e em design de interiores. Em parte dessas graduações, o número de estudantes participando no Enade foi bastante baixo: apenas dois em administração a distância da UCB; cinco em ciências econômicas e em ciências contábeis da UCB; e sete em administração da Icesp. Com conceito 2, Brasília figura com 30 cursos.

 

Na capital federal, apenas um curso teve o conceito mais baixo, 1: publicidade e propaganda da Faculdade JK Esamc Brasília. Houve quatro graduações sem conceito, pois não apresentaram o mínimo de dois alunos fazendo o Enade em 2018 para serem consideradas: publicidade e propaganda da Universidade Paulista e da Faculdade Anhanguera de Brasília; tecnologia em marketing da Faculdade de Tecnologia Senac-DF; e tecnologia em design de interiores do Centro Universitário de Brasília (UniCeub).

Veja em detalhes as notas de todos os cursos do DF avaliados no CPC 2018. 

Destaque: faculdades particulares e EAD

Em encontro técnico com jornalistas na quarta-feira (11/12), Camilo Mussi, presidente substituto do Inep, comentou que os resultados divulgados agora são um retrato dos cursos avaliados em 2018 e das instituições considerando o triênio 2016-2018. Ele ressaltou os resultados das regiões Sul e Sudeste, que são as que concentram mais cursos com conceitos 4 e 5. No Sul, quase 40% das instituições ficam nessa faixa; no Sudeste, são quase 33%. Para ele, chama a atenção ainda o desempenho da educação a distância (EAD).

“Um dos destaques que vale a pena mencionar é a EAD. Os alunos que estão concluindo os cursos estão tendo os mesmos resultados que os alunos presenciais. Esse é um destaque que merece ser visto pela sociedade”, afirma. “No conceito 5, estão 2,7% das instituições de EAD (que são 15 cursos muito bem avaliados) e 1,6% das presenciais. Nenhum curso a distância recebeu conceito 1. Todos os 34 com conceito 1 são presenciais”, aponta Fernanda Marsaro.

A gente observa uma crescente no desempenho dos cursos a distância, mesmo esse resultado não sendo tão significativo quando a gente olha para o valor porque, entre os 8.520 cursos avaliados, apenas 563 são oferta a distância”, acrescenta. “Mas, se a gente joga para o percentual, o comportamento deles (com o ensino presencial) é muito parecido.” Outro destaque vai para o setor particular. Fernanda anuncia que todas as 61 faculdades que tiveram cursos conceito 5 são particulares.

Também apareceram nessa faixa 36 universidades e 49 centros universitários. Ela ressaltou ainda a crescente de universidades públicas com bom desempenho, apresentando notas 4 e 5. No entanto, a representatividade é menor, pois há muito mais instituições particulares do que públicas no ensino superior. Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp, entidade que representa mantenedoras de faculdades particulares, comemora o avanço do setor.

“Pelo que dá para observar nos últimos anos, temos tido uma evolução constante em relação a esses indicadores. No começo dele, muitas instituições particulares ainda tinham notas 1 e 2, que eram insatisfatórias. Hoje, são bem poucas”, diz. “Muitas foram para o 3, que passou a ser uma média, uma zona de conforto que congrega a maioria. E ainda tem a evolução de muitas instituições passando para o nível 4”, completa.

“Isso mostra uma evolução constante da rede privada que, à medida que vai investindo nas questões que envolvem esses indicadores, vai melhorando.” Rodrigo também comenta o avanço da modalidade não presencial. “É um bom sinal. A única ressalva é que o ensino a distância é muito novo e tem um crescimento maior nas matrículas que ainda não se reflete nesses indicadores, pois ainda são poucos os concluintes. Então, ainda não dá para tirar conclusão definitiva desse resultado”, pondera.

Para entender os números

Os 27 cursos avaliados na edição 2018 do Enade e que entram no CPC são:

 

Bacharelado: 

 

  • Administração
  • Administração pública
  • Ciências contábeis
  • Ciências econômicas
  • Design
  • Direito
  • Jornalismo
  • Psicologia
  • Publicidade e propaganda
  • Relações internacionais
  • Secretariado executivo
  • Serviço social
  • Teologia
  • Turismo

 

Cursos superiores de tecnologia (tecnólogo):

 

  • Comércio exterior
  • Design de interiores
  • Design de moda
  • Design gráfico
  • Gastronomia
  • Gestão comercial
  • Gestão da qualidade
  • Gestão de recursos humanos
  • Gestão financeira
  • Gestão pública
  • Logística
  • Tecnologia em marketing
  • Processos gerenciais

Cursos reprovados?

Camilo Mussi, do Inep, ressalta a importância de não fazer comparações equivocadas a partir dos números divulgados. A média é 3, e todos os cursos com conceito 1 e 2 estão abaixo da média. No entanto, isso só permite comparações dentro de uma mesma graduação. “Os cursos com nota 1 e 2 estão abaixo da média daquele curso, mas isso não quer dizer que sejam ruins”, alerta. O que acontece com as formações abaixo da média fica a cargo do MEC, informa Camilo.

 

Nesta edição do CPC, foram avaliados 8.520 cursos, sendo 2.398 tecnológicos (28%) e 6.122 bacharelados (72%). Do total, 301 não tiveram conceito divulgado porque não atingiram o mínimo de dois estudantes concluintes participando do Enade 2018. “Não ter conceito divulgado não quer dizer que o curso está ruim, quer dizer que não atingiu esse padrão mínimo. Quando a gente tem só um estudante e a gente divulga essa nota, a gente não preserva a identidade desse estudante”, esclarece Fernanda Marsaro.

Indicadores em risco?

Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, faz ressalvas com relação aos indicadores, mas defende a continuidade deles. Segundo ele, há conversas no sentido de acabar com o CPC e o IGC, no entanto, apesar de eles terem falhas, isso traria mais prejuízos que benefícios. “É preciso ter um debate não no sentido de acabar com esses indicadores, mas de incluir outros”, argumenta. “Se o indicador for só o Enade, há mais chances ainda de distorções. Por isso, é melhor juntar outras variáveis, como quantidade de professores, e ainda outros que poderiam ser acrescentados: iniciação científica, percentual de alunos que conclui o curso, taxa de empregabilidade, entre outros.”

O porta-voz do Semesp analisa que retirar o IGC e o CPC seria problemático para a população e o próprio ensino superior brasileiro, pois tiraria das pessoas uma fonte de informação e consulta sobre as faculdades e os cursos e acabaria com a chance de as próprias instituições de ensino tentarem melhorar a partir dos resultados. “Todos os indicadores têm defeitos. No caso desse, a metodologia de cálculo pode ser um dos problemas: na distribuição normal, a grande parte das notas ficará na média”, observa. Ou seja, a média varia de acordo com o resultado de cada curso. Não há um pré-requisito de pontos para ser aprovado ou para ser considerado acima da média.

O que gera problemas nos dois extremos. “Se numa área, só tenho cursos de altíssima qualidade, com essa metodologia, em torno de 60% deles ficarão com nota 3; 20%, com notas 1 e 2. Mas não quer dizer que nenhum deles seja ruim, mas, pela metodologia, serão visualizados assim”, exemplifica. “Se numa área, todos os cursos forem ruins, os menos ruins ficarão com nota 3. Na beira de cima, ficarão alguns com notas 4 e 5, mas isso não quer dizer que eles sejam excelentes”, continua. “Qualquer indicador sempre vai ter suas imperfeições. Ms como reduz essas imperfeições? Colocando mais indicadores para medir de forma multidimensional.”

Critérios avaliativos

Moaci Alves Carneiro, diretor de Avaliação da Educação Superior do Inep, pondera que o Enade é a culminância de um processo de avaliação que se estende ao longo do ano e não pode ser considerado isoladamente. “Nenhum país do mundo cuida da avaliação simplesmente com foco no rendimento escolar do aluno na sala de aula. Quando isso acontece, a gente perde a visão da educação como processo sistêmico articulado”, afirma. O que decorre do Enade, define Moaci, “nada mais é do que um grande painel, uma grande fotografia, uma radiografia imensa das instituições que a cada ano estão incluídas nessa pauta para que se aprimore cada vez mais o processo de aprendizagem dos alunos”.

É importante observar que, além da nota do Enade, compõem o CPC e o IGC vários outros indicadores, elaborados por técnicos especializados. Assim, 35% do CPC é composto pelo IDD (Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado — feito comparando a média do Enem e do Enade de cada aluno); 30% pelo corpo docente (quantidade de mestres e doutores em regime de trabalho); 20% pelo desempenho dos estudantes no Enade; e 15% pela percepção dos universitários sobre sua formação a partir de questionário do Enade.

“Quase 50% do CPC é composto pelo desempenho do estudante”, aponta Fernanda Marsaro, coordenadora-geral de Controle de Qualidade da Educação Superior do Inep. O conceito do Enade 2018 e o IDD já haviam sido divulgados pelo MEC em 4 de outubro. As notas do Enade 2019 só saem no fim de 2020. O CPC e o IGC são as novidades divulgadas pelo Inep nesta quinta-feira (12/12). O IGC leva em conta não apenas os 27 cursos que entram no CPC deste ano, mas todos os avaliados no triênio 2016-2018.

 

Confira apresentação do Inep sobre o IGC e o CPC 2018. 

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