Homem que matou menina de 5 anos, em MG, queria cortar a cabeça dela

Veja detalhes do assassinato bárbaro sob investigação em Betim. Família afirma que agressor estava em surto. Polícia questiona versão

 

Está marcado para as 10h desta quinta-feira (31/10) o sepultamento da menina de 5 anos assassinada a facadas a caminho da escola, na manhã dessa quarta-feira (30/10), na Rua Perdões, Bairro Vila Cristina, em Betim, na Grande BH. A cerimônia será realizada no Cemitério Parque Jardim das Cachoeiras, onde o corpo é velado desde a noite passada.

“Ele não queria adultos. Ele queria só crianças.” Foi o que uma testemunha, que preferiu não se identificar, contou depois de presenciar o crime. A criança estava acompanhada do irmão, de 7 anos, e uma cuidadora quando foi atacada pelo homem, que, segundo a família dele, estaria em surto esquizofrênico. M.E.P.N.S, de 25, quase foi linchado por moradores e acabou preso em flagrante pela Polícia Militar. Delegado põe versão em questão. Na tarde de ontem, ele foi transferido para o Ceresp de Contagem. Na saída da delegacia, o homem apresentava lesões no rosto, devido a agressões de populares que o impediram de fugir após o crime.

Segundo a PM, a cuidadora disse que estava levando as crianças à escola, de mãos dadas. Quando passavam pela Rua Perdões, ela viu a menina cair. A criança havia acabado de levar uma facada. O agressor atacou a menina pelas costas e começou a desferir outros golpes. Ainda segundo o registro, a cuidadora mandou a outra criança sair correndo enquanto tentava proteger a menina, colocando-a no colo. Mas não conseguiu. Ela chegou a se colocar entre o agressor e a vítima, mas ele dava a volta e continuava esfaqueando a criança.  O corpo da criança foi levado ao Instituto Médico-Legal (IML) de Betim. Ao todo, de acordo com a perícia, a vítima levou quatro golpes, um nas costas e outros três no tórax.

O delegado Otávio de Carvalho, responsável pelas investigações do caso, disse, em coletiva de imprensa, que o rapaz estava tranquilo durante o interrogatório, mas apresentava comportamento estranho, falando pausadamente e sem manter contato visual. “Ele disse ter ouvido vozes de ‘patrões’ mandando-o cometer o crime”, contou o delegado. “Ele revelou que já tinha pensado em matar e, inclusive, tentou sair com faca de casa, mas a família não deixou”, disse o delegado.

O homem ainda teria tentado voltar ao local do crime, mas foi contido por populares. Segundo Carvalho, após desferir as facadas na criança ele correu para a Rua Pirapetinga, mas voltou ainda com a faca nas mãos. “Dez minutos depois, ele ainda tentou voltar até a criança, porque teria ouvido vozes ordenando que decepasse a cabeça dela”, revela.

Segundo a família, o jovem faz tratamento psiquiátrico para esquizofrenia e toma medicação controlada. Na delegacia, parentes apresentaram receituário médico e disseram que o rapaz teve um surto, mas a polícia tem outra visão. “Ainda é cedo, porque ele acaba de ser preso em flagrante, mas para a polícia, ele agiu de forma consciente e sabia o que estava fazendo, tanto que foi encaminhado para o presídio em Contagem,onde ficará à disposição da Justiça”, afirma Carvalho.

Testemunha ouvida pelo Estado de Minas contou que, antes do crime, o homem comprou pães em uma padaria e agia normalmente. “Na hora que a moça subiu com a criança, ele chegou e começou com os golpes de faca. Achamos que era uma briga de casal e ninguém foi lá para socorrer. Vimos que ela não ia viver mais e eu já comecei a gritar”, contou.  Segundo a testemunha, não houve tempo para reagir.

Ainda segundo a pessoa ouvida pela reportagem, o criminoso teria “comemorado” pela rua após matar a criança. “Ele subiu com a faca na mão batendo palma, batendo palma, falando assim: ‘Eu consegui, eu consegui, consegui almas’”, afirma. Chorando, a testemunha lamentou a morte da menina. “Ele matou um bebê na nossa rua, que nem conhecia. Não tinha vínculo com ela. Por que ele matou esse neném?”, questionou.

“A cuidadora contou que, ao dar os golpes, ele ria compulsivamente”, disse o major Paulo Roberto, da PM de Betim, em entrevista ao Estado de Minas. “Acredita-se que a risada seja a forma que ele tem de se expressar diante de algum conflito. A mãe contou que os companheiros de cela não entendiam esse comportamento e o agrediam. Ela conta que ele sofreu agressões de todos os tipos, entre uma delas, foi excluído da alimentação”, contou o major, referindo-se a prisões anteriores do suspeito.

Liberdade provisória

De acordo com o major, o agressor foi preso no ano passado por tráfico e uso de drogas, cumpriu pena de 11 meses e, desde a saída, usava tornozeleira eletrônica. A Polícia Civil confirmou, em coletiva de imprensa na tarde de ontem, que o homem recebeu liberdade provisória em agosto. À polícia, o agressor assume ser usuário de drogas, mas, de acordo com o delegado, a família nega que ele estivesse sob efeito de entorpecentes. “Ele diz ser usuário de maconha, cocaína, e fala que usou crack nesta manhã (ontem). A família, porém, nega e diz que ele não tem dinheiro para comprar drogas e que está desempregado”, detalha o delegado.

Ainda segundo o major, a mãe do agressor ficou desolada ao saber do crime e desmaiou duas vezes antes que os policiais chegassem. Ela contou que o filho já tinha tido outros surtos dentro de casa.  “A faca usada no crime tem cerca de 20 centímetros e foi recolhida pela polícia. A mãe contou aos policiais que, por medo, já havia escondido todos os objetos perfurantes da casa. Mas, possivelmente, hoje o homem descobriu”, disse o major. Ainda de acordo com ele, o jovem se disse arrependido no momento da prisão e afirmou que passara a noite em claro fazendo uso de drogas, sem tomar o medicamento controlado receitado por médico.

Medicação

Uma testemunha, que é conhecida do suspeito, também contou que ele passava por tratamento para esquizofrenia. Ele mora com a mãe e três irmãos duas ruas abaixo de onde ocorreu o crime. Anteontem, segundo ela, a mãe percebeu um comportamento estranho do filho e o levou ao médico, que teria dobrado a dosagem de medicação.

 

Segundo o psiquiatra forense, Paulo Roberto Repsold, é comum que pacientes com esquizofrenia tenham delírios e ouçam vozes. “A doença faz com que o paciente tenha o que chamamos de delírios, além de ouvir vozes, que conversam com ele, dão conselhos ou até ordens “, explica. Casos como esse, segundo Repsold, ocorrem quando o paciente não está bem medicado. “Pessoas em surtos agudos de esquizofrenia podem tornar-se violentas, seja por uma maior impulsividade, seja por responderem a ordens de suas alucinações ou reagirem violentamente por se acharem perseguidas”, complementa.

 

Ainda de acordo com o médico, mesmo que a pessoa esteja sendo medicada, os surtos podem acontecer, mas os remédios reduzem significativamente o risco . “É uma minoria que tem surtos mais graves. A maioria dos pacientes tratados, consegue viver sem necessidade de internação”, comenta. Ele aponta ainda que o uso de drogas tende a ser um gatilho para os surtos. “As pessoas precisam entender que a maioria dos esquizofrênicos não é perigosa para si nem para a sociedade. Nesse caso, em específico, há informações de que houve relação com drogas”.

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