O CINEMA QUE O SOL NÃO APAGA

 

Show de lançamento do novo álbum de Thiago Amud, na CAIXA Cultural de Brasília, conta com participação de Guinga

          Um dos mais talentosos artistas de sua geração, o cantor, compositor, arranjador e violonista Thiago Amud traz a Brasília o show do lançamento de seu novo trabalho: o álbum “O cinema que o sol não apaga”. A apresentação intimista, no formato voz e violão, contará com a participação especial de Guinga, um dos maiores violonistas brasileiros em atividade. Ao longo de mais de uma hora de show, um passeio por quase todo repertório do álbum, além da revelação de composições inéditas. Com direção de Paulo Almeida, a performance, que já foi aplaudida por plateias de Salvador, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, acontecerá na CAIXA Cultural em 26 e 27 de outubro.

          Thiago e Guinga, ambos cariocas, têm uma longa trajetória de colaboração mútua. “Guinga é meu maestro soberano“, diz Thiago que já participou inúmeras vezes de shows do mestre.  “Agora chegou a vez de retribuir. Pela primeira vez Guinga é meu convidado no palco“, completa avisando que os shows na CAIXA Cultural em Brasília reservam surpresas ao público.

          Disponível nas principais plataformas de streaming, em CD e, em 2020, em vinil, “O cinema que o sol não apaga” é um trabalho longamente maturado, onde ressurgem diversas questões que permeiam a obra de Amud há mais de uma década. O artista assina arranjos e direção musical das 16 faixas, sendo 14 letras e músicas suas e duas parcerias: uma com Edu Kneip e outra com Guinga, que o acompanha ao show em Brasília.

 

 

Thiago Amud

Músico desde sempre, Thiago Amud, aos 39 anos, tem uma carreira relativamente curta, considerando que o seu primeiro álbum foi gravado em 2010. Neste trabalho, “Sacradança”, lançado pela Delira Música, ele assina todas as letras, músicas e arranjos. O CD foi considerado um dos melhores do ano pela Gazeta do Paraná e suscitou comentários como os do renomado crítico Tárik de Souza (“Thiago Amud já debuta com personalidade autoral formada”) e do cantor Aquiles, do MPB-4 (“Surpreendente é a sua música. Admirável é o seu desprendimento”).

Também chama a atenção seu talento para trabalhar em parceria, vide os trabalhos assinados com artistas como Guinga, Francis Hime, Sergio Assad, Edu Kneip, Zé Paulo Becker, Pedro Sá Moraes, Thiago Thiago de Mello, Thomas Saboga, Marcelo Fedrá, Mauro Aguiar, Renato Frazão, Vinícius Castro e Antônio Loureiro e suas composições gravadas por Milton Nascimento, Alcione, Simone Guimarães, Guinga, Francis Hime, Sergio Mendes, Ana Carolina, Marcus Tardelli, Mariana Baltar, Cristina Renzetti, Garganta Profunda e Izabel Padovani, entre outros.

Em novembro de 2013, ele lançou seu segundo disco solo “De ponta a ponta tudo é praia-palma”, também pela Delira Música, dessa vez com produção do guitarrista JR Tostoi. Composto por 12 novas composições, pode-se definir esse trabalho como uma visão vertiginosa e onírica sobre a formação do Brasil, a crise de identidade nacional e o tão propalado “fim da canção”. O trabalho rendeu matéria de capa do Segundo Caderno de O Globo, que também o listou entre os 10 melhores discos de 2013.

Foi um dos participantes do Som Brasil Festivais, na Rede Globo. Interpretou Domingo no Parque (Gilberto Gil), Eu quero é botar meu bloco na rua (Sergio Sampaio) e Filho Maravilha (Jorge Ben), esta última em dueto com Maria Alcina. Amud assinou os arranjos.

Dividiu com Ivo Senra a direção musical e os arranjos de “Todo mundo é bom”, disco manifesto do Coletivo Chama, e também do espetáculo “Coletivo Chama Canta Mário de Andrade”, especialmente preparado a partir de um convite da Funarte para a XXI Bienal de Música Brasileira Contemporânea (na Sala Cecília Meirelles). Pela primeira vez na história, um grupo de música popular foi convidado a se apresentar na tradicional Bienal.

Thiago Amud também foi vencedor do Prêmio Profissionais da Música, em 2016, na categoria Melhor Autor.

O disco

Em quase uma hora, Thiago Amud empresta sua voz e, eventualmente, seu violão, a uma jornada por uma vasta gama de símbolos brasileiros e os desvãos de seu próprio psiquismo. O artista parece acreditar que, embora sob escombros, há ainda aqui um país por inventar, a exigir desvelo e singularidade. É assim que sua “arqueologia” de uma simbólica brasileira vai coincidir com a descida vertiginosa até as raízes de sua memória e de seus afetos pessoais, até o advento de um novo canto que reinaugure o sentido e a alegria da vida. Crítica, sarcasmo e desilusão coexistem com bom humor, esperança e comunhão. Sons e silêncios conduzem o ouvinte por um vasto temário: política e amor, mística e mass media, identidade nacional e mundo onírico.

 “O cinema que o sol não apaga” integra a seleção inaugural da nascente gravadora Rocinante, ao lado dos novos discos de Bernardo Ramos, Ilessi, Guinga, Letieres Leite, Nelson Angelo, Rafael Macedo e Sylvio Fraga. O álbum traz, ainda, Sylvio Fraga como produtor associado e Paulo Almeida como produtor executivo.

Gravado entre novembro de 2017 e abril de 2018, o trabalho reuniu 73 músicos em cerca de 350 horas de estúdio. A produção musical é de Ivo Senra.

O cinema que o sol não apaga” é dedicado a Nelson Angelo e pode ser escutado em várias plataformas: http://ouca.la/o-cinema-que-o-sol-nao-apaga

O álbum faixa a faixa, por Thiago Amud

A MAIS BELA CENA nasceu da comoção diante do filme “Rio Zona Norte” de Nelson Pereira dos Santos. Trata-se de um quase-samba exaltação com final trágico que pressupõe uma identificação misteriosa entre a criatividade espontânea dos velhos sambistas (entre eles o personagem de Grande Otelo no filme), o ímpeto dos velhos cineastas (entre eles Nelson Pereira) e o destino original do Brasil. A palavra “jeito” sugere tanto “solução” quanto “modo próprio de ser”. O tratamento grandiloquente da percussão deve muito à trilha sonora da célebre cena do filme de Glauber Rocha “Terra em Transe”, em que o poeta cala o sindicalista em pleno comício populista.

CALUNGA E SEBASTIÃO é um ijexá-maracatu-macumba. Como já ocorrera na canção anterior, as referências ao crime ecológico que exterminou o Rio Doce fazem com que esta segunda faixa ressoe em clave de amargura e revolta. Calunga (a rainha morta dos cortejos de maracatu) e Dom Sebastião (o rei português cuja desaparição originou um dos mais fecundos e controversos mitos messiânicos modernos) são, aqui, a Grande Mãe Africana e o Grande Pai Português.

DO POLÍTICO, baião quase xaxado calcado em guitarras pesadas e assimetricamente interrompido por rajadas de baixo sintetizado e bateria, é diatribe piedosa voltada contra toda idolatria ao dinheiro e ao poder – tanto a dos políticos quanto a nossa própria.

PLANO DE CARREIRA, frevo, com sua trama rigorosa de madeiras e metais, revela (ingênua ou cinicamente?) a mecânica de construção de um ídolo pop. Se em A MAIS BELA CENA o artista criativo era protótipo do brasileiro e em DO POLÍTICO o personagem título era protótipo do homem de caráter fraco, em PLANO DE CARREIRA surge a figura do artista-político, carente e narcisista.

AUTORRETRETE tem “arranjo-Zelig”, mutante como as palavras que tentam dar conta da personalidade carente e narcisista do autor que – vejam só! – na canção anterior satirizava os carentes e narcisistas.

DESAMANHECIDO é bossa nova com prato e faca de samba de roda, para lembrar que João Gilberto nasceu na Bahia. Sofrer a ausência de alguém ao amanhecer é desamanhecer. Os pensamentos incessantes sobre uma felicidade que se perdeu são certo tipo de “cinema que o sol não apaga”.

O TEU CORAÇÃO: SUPERFÍCIE DE MARTE, prelúdio/moda de viola de caráter soturno e versos desolados. Seu tratamento timbrístico é em parte tributário de certas invenções da música de vanguarda do século XX (piano preparado, Theremin, sintetizadores), em parte devedor das invenções harmônicas de Tavinho Moura e das curvas melódicas de Elomar. A voz buscou inspiração no canto popular napolitano e nos cantadores nordestinos – ambos de matrizes mouriscas.

TÊNIAS E FALENAS, canção tão ou mais sombria que a anterior, não consegue fechar, com seus versos amargos, a ferida aberta de algum amor impossível – e é no descompasso entre melodia apaixonada e uma poética agressiva (que remete a Augusto dos Anjos) que está o sentido desse blues.

CATIRINA DESEJOSA, letra de Amud para melodia de Edu Kneip, é um xote em que se reconta uma história tradicional do Boi Bumbá nordestino, com direito a trombone-baixo no papel de Pai Francisco, guitarra no papel de Catirina e trio de jazz no papel de Povo que Sobe nas Tamancas.

BRASILEIA, outro xote, dessa vez em parceria com Guinga, já foi gravado pelo MPB-4. Nele, as tramas e personagens da literatura brasileira se emaranham e formam, com outras imagens, o mesmo quadro de insânia geral que caracteriza estes tempos brasileiros. A orquestração remete à do Hino Nacional Brasileiro.

2022, rapsódica e alucinada, investe-se de ares proféticos para refletir sobre o eterno retorno do mito messiânico sebastianista (ver CALUNGA E SEBASTIÃO). Conjuga ópera, funk, rock experimental, guarânia e samba em mirada supertropicalista.

O MUNDO IMAGINAL foi inspirada no clássico filme de Fritz Lang “Dr. Mabuse”. Sua rítmica já aponta para o universo da congada mineira que surge soberano na última canção do disco. Trata-se de um livre delírio multi-imagético sobre a origem das imagens – a imaginação – e sobre a cegueira.

QUANDO A ESQUINA BIFURCA, choro-canção de amor ao bairro da Urca, gravado anteriormente por Garganta Profunda e por Mariana Baltar, foi composto por Amud em 2002, mas ainda não tinha sido gravado pelo autor. Autobiográfica, nela Amud se refere à morte de sua avó, que foi aluna de Villa-Lobos. Por isso o grupo de violoncelos – formação para a qual Villa tanto escrevia – alicerça a canção.

CINEMA RUSSO, inspirada na atmosfera dos filmes de Andrei Tarkovsky, é a tentativa de apreensão da pura fluência do tempo, no vazio entre seus acordes e no caráter lacunar de seus versos.

CANTILENA ALADA, toada arranjada exuberantemente para um coro todo gravado pela prodigiosa Clarice Assad, celebra a continuidade do amor e da criatividade dentro dos ciclos da vida. A permanência do passo da toada entre ecos björkianos e a citação do tema principal do Concerto para Violino nº 2 de Béla Bartók confirma a frase de Guimarães Rosa: “O sertão está em toda parte”.

NASCENÇA resulta do amor de Amud pelas Minas Gerais: a marcha grave da congada marca seu passo e uma cena do “Grande Sertão: Veredas” foi seu mote. (Guimarães Rosa norteia as veredas de Thiago Amud desde seus primeiros discos). Na gravação, NASCENÇA foi repetida cinco vezes, mas por pouco não foi repetida doze. Em seu coro estão presentes diversos artistas da cena da canção contemporânea de Belo Horizonte.

SERVIÇO:

Show de lançamento do álbum “O cinema que o sol não apaga”

Local: CAIXA Cultural Brasília– Sbs Lotes 3/4, SBS Q. 4 – Asa Sul

Horário: 26/10, às 20h e 27/10, às 19h

Preços: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada).

Têm direito a meia-entrada: estudantes, empregados CAIXA, funcionários da FUNCEF, pessoas acima de 60 anos e doadores de alimentos não perecíveis ou agasalhos*.

* Realização de campanha de doação para a ONG Moradia e Cidadania

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