Dia do professor: estudantes e docentes vivem rotina de superação

Em celebração ao Dia do Professor, alunos do CED 2 de Taguatinga homenageiam docentes que lecionam em turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Profissionais contam os desafios na luta pelo reconhecimento do trabalho

 

 

Respeito e admiração. É assim que os alunos do terceiro ano do Centro Educacional 2 de Taguatinga (CED 2, conhecido como Centrão) definem a relação com os professores. Tanto que resolveram antecipar a comemoração do Dia do Professor e organizar uma grande homenagem a eles. Às vésperas do recesso da “semana do saco cheio”, o pátio da instituição foi todo enfeitado para receber os docentes, com direito a faixa, balões e até tapete vermelho. Emocionados, os

Edson Silva, 35 anos, organizou os festejos junto a outros colegas. O aluno da Educação de Jovens e Adultos (EJA) conta que a preparação começou no início de setembro. “Metade (dos alunos) ficou responsável pela ornamentação e a outra, pelo lanche.”
A professora Andreia Costa Cardoso, 49, saiu emocionada. Manifestações como essa fazem com que ela, com três décadas de docência, continue em frente. “Já recebi diversas demonstrações de alunos em relação ao meu trabalho, mas nunca numa dimensão como essa. São em momentos como esses que minha paixão por ensinar é revigorada”, afirma.
Para o professor de português Marcos Paulo, 34, os desafios da docência são diversos, mas começam pelo respeito das outras áreas da sociedade. “Muitos setores não valorizam a nossa profissão, o que é contraditório, pois todos esses que criticam já passaram pela mão de algum professor. Há muita pressão para te desmotivar, mas eu vejo isso como um desafio para remar ao contrário.”
Considerado aluno destaque por diversos professores, Edson não teve uma trajetória de vida fácil. Aos 16 anos, ele partiu, sozinho, do Maranhão para o DF, buscando uma possibilidade de melhoria de vida. A chegada a Brasília, porém, não correspondeu às expectativas. “Morei na rua durante um período da minha vida, em virtude de problemas com a minha tia. Aí fui me virar sozinho, tive depressão e tentei suicídio nesse tempo”, lembra.
A trajetória escolar teve que ser interrompida precocemente: Edson ficou 10 anos sem estudar. Porém, há um ano e meio, quando os problemas começaram a ser superados, ele resolveu que era hora de voltar aos livros. “Senti esse desejo de retornar para buscar algo melhor para a minha vida”, conta.
Na retomada, o acolhimento dos professores do Centrão foi fundamental. “Eu os enxergo como algo muito importante, mas, antes, eu não tinha essa visão. Achava que eles só precisavam de um salário bom. Porém, hoje percebo que eles precisam de muito mais, como o meu respeito”.

Paixão por ensinar

Andreia Costa Cardoso, 49, é professora da Secretaria de Educação há três décadas e está há 18 anos no Centrão. Ela conta que, desde pequena, sempre quis ser professora. A primeira “turma de alunos” ela encontrou na vizinhança. “Comecei a dar aula particular aos 11 anos, na rua em que morava, para os vizinhos”, conta.
Após o ensino profissionalizante, ela começou a trabalhar com crianças em fase de alfabetização. A professora passou a lecionar à noite depois que foi aprovada em um concurso do BRB. Não demorou muito para a docência falar mais alto na vida de Andreia. “Fui bancária e professora por sete anos. Depois que saí do banco, fui dar aula em escola particular durante o dia”, afirma.
Para ela, as dificuldades em ser professora são muitas. “Depende da realidade, porque já ministrei aula para todas as faixas etárias, desde criancinha, adolescentes e, agora, adultos. Cada um possui uma particularidade própria. Tive a felicidade de ir aprendendo a dar aula para qualquer faixa etária.”
Andreia acredita que a diferença do EJA para o ensino regular é o perfil do aluno. “A gente tem que entender as dificuldades que eles possuem, que vão desde problemas de aprendizagem, locomoção para ir e voltar, e o cansaço pelo trabalho”, diz.

De volta à escola

No ano passado, o EJA registrou quedas nas matrículas. Segundo dados do último Censo Escolar, feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2018 o número de matriculados foi 1,5% menor do que no ano anterior, totalizando, atualmente, 3,5 milhões de estudantes. O professor Marcos Paulo de Oliveira, 34, aponta que o problema de evasão é gravíssimo. “O público do EJA tem essa dificuldade, porque como eles trabalham em lugares distantes, chegam cansados; tem o problema de locomoção, muitos moram longe, são vários fatores que fazem muitos desistirem”.
Marcos Paulo concluiu o ensino médio no CED 2 e retornou à instituição para lecionar. Formado em letras e educação física, ele iniciou a carreira como professor substituto de português. Ele identifica, no EJA, muitos desafios, dos quais elege dois como os mais complicados. “A bagagem de aprendizagem é muito deficitária, pois eles estão correndo atrás de um prejuízo. Ainda tem o cansaço, porque a maioria dos alunos é composta por trabalhadores.”
Ele conta que sempre foi bem recebido pelos alunos e a diferença de idade nunca pesou. “A convivência é bastante transparente, de respeito. Eles sabem os limites deles e eu sei o meu”, diz. “É uma relação de confiança”, sintetiza.
Marcos Paulo enxerga o dia dos professores como um momento de reflexão: “É uma data para se sonhar com possibilidades melhores e entender que as mudanças não serão para nós e, sim, para os nossos filhos e netos”.

Jornada tripla

Aluna do primeiro ano do ensino médio, Thatiane Sousa, 27, voltou a estudar depois de dez anos parada. Aos 15 anos, descobriu que estava grávida. Ao se ver nessa situação, sentiu-se na obrigação de escolher entre família e estudo. A pressão social também pesou na decisão, que foi de abandonar as aulas. “Tinha muita vergonha, não queria ir para escola. Então, resolvi ficar em casa cuidando do bebê.”
Hoje, ela procura recuperar o tempo perdido e, para isso, o trabalho dos docentes do Centrão foi decisivo. “Quero conseguir um emprego melhor e, para isso, tem que ter estudo. Quando eu terminar o ensino médio, quero fazer um curso técnico de enfermagem”, comenta.
No entanto, não foi fácil voltar a estudar, pois Thatiane possui uma rotina bastante puxada. “Tenho que me intercalar, pois trabalho como diarista durante o dia, aí vou para casa por volta das 17h, faço a comida do meu filho, para depois vir correndo pra escola”, explica.
Às vezes, ela se sente desestimulada por ser ver em um horário apertado, porque não pode pedir para sair mais cedo do trabalho e tem as responsabilidades como mãe. “Tenho uma jornada tripla.”
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