A cada 2,5 dias, um motorista de app é vítima de sequestro relâmpago no DF

Os assaltos que resultaram na morte de dois motoristas de transporte por aplicativo no último fim de semana reforçaram o medo e a insegurança desses profissionais no Distrito Federal. Henrique Fabiano Dias, 25 anos, e Tiego Cavalcante, 28, foram vítimas de latrocínio enquanto trabalhavam — nesta segunda-feira (14/10), Henrique foi enterrado no Cemitério de Taguatinga. Dados da Polícia Civil, divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), mostram o aumento no número de roubos com restrição à liberdade que têm como vítima condutores do sistema de transporte por aplicativo. Segundo a pasta, entre janeiro e junho deste ano, ocorreram 71 casos desse tipo, uma média de um a cada dois dias e meio. No mesmo período do ano passado, houve 14 registros, ou seja, 57 a menos.
A SSP estuda o fenômeno e busca diálogo com a Uber e as demais empresas especializadas em transporte por aplicativos. A avaliação do governo é de que é preciso relativizar os dados antes de entender o que vem ocorrendo na capital federal. O número de motoristas e de passageiros tem crescido; por isso, a comparação crua do crescimento desse tipo de crime com outros anos pode levar a conclusões equivocadas.
A partir dos dados da Polícia Civil, identificou-se, ainda, os locais mais visados pelos bandidos. Samambaia aparece em primeiro lugar entre as regiões com maior incidência dos roubos com restrição à liberdade dos motoristas de aplicativos, com 32 ocorrências nos seis primeiros meses do ano. Em seguida, vêm Ceilândia, com 8; Taguatinga, com 6; e Gama, com 5.
André Luiz Ferreira, 36 anos, decidiu dirigir para uma empresa de transporte por aplicativo há oito meses, depois que o trabalho como administrador de pousada não deu certo. Ele toma algumas precauções para evitar ser assaltado. “Não atendo clientes que preferem pagar com dinheiro. Quando me aproximo do passageiro e vejo que ele vai efetuar o pagamento em cédulas, cancelo a corrida”, explicou. Para ele, esse é um método capaz de combater possíveis ataques de criminosos. “Uma vez, recebi a mensagem de um cliente perguntando se eu tinha troco para R$ 100. Na minha cabeça, ele queria saber se eu estava com dinheiro em mãos para me assaltar”, relatou.
O motorista não tem preferência de regiões para transportar os passageiros. “Instalei no carro um rastreador. O meu irmão monitora pelo celular dele. É uma medida de segurança a mais”, ressaltou. Ele sugere que, para melhorar a segurança nesse tipo de trabalho, as empresas dos aplicativos deem a opção para os condutores aceitarem ou não a forma de pagamento escolhida pelos clientes.
Karina Luasses, 30, é motorista de transporte por aplicativo há um ano e meio. Ela também administra um grupo de WhatsApp de condutores da Uber e da 99 Pop. “Criei na intenção de ajudar o próximo. A ideia é nos comunicarmos em tempo real uns com os outros para, caso alguém esteja em apuros, ajudarmos”, avaliou. Karina trabalha até as 3h. Segundo ela, uma das queixas em relação à segurança dos condutores é a falta de policiamento. “Geralmente, busco clientes em eventos e festas, mas noto que a ronda policial não é tão ostensiva. É algo que me preocupa, até pelo fato de ser mulher”, argumentou.
Para se prevenir, a condutora circula em um Mobi branco, todo enfeitado. No interior do veículo, há luzes coloridas e enfeites, como se fosse uma balada. “É um meio que tenho para chamar a atenção. Então, onde passo todos reparam, e não fico despercebida”, contou.

Situações de risco

Em nota oficial, a 99 Pop informou que acompanha os casos e lamenta o aumento da violência cometida contras os motoristas vinculados à empresa. Em relação ao caso de Tiego, uma equipe foi mobilizada para conferir a ocorrência, além de buscar contato com familiares para prestar o apoio necessário. A 99 acrescentou que a morte do motorista Henrique não ocorreu durante uma corrida da plataforma.
A 99 Pop esclareceu que, durante as corridas, o motorista pode acionar o kit de segurança, que compartilha a rota em tempo real. “Para depois das viagens, a empresa tem uma central telefônica de emergência 24h, sete dias por semana, que responde prontamente em caso de necessidade. Antes das chamadas, os motoristas também recebem informações sobre o destino, a nota do cliente e se ele é frequente, além de o app pedir ao passageiro que inclua CPF ou cartão de crédito antes da primeira corrida”, informou a nota.
A Uber também lamentou os latrocínios e permanece à disposição para colaborar com as investigações. A empresa acrescentou que passou a adotar no Brasil o recurso de machine learning, que usa a tecnologia para bloquear viagens arriscadas. “Lançamos também outro recurso de segurança para os motoristas parceiros, inclusive um botão para ligar para a polícia em situações de risco ou emergência diretamente do app”, detalhou, em nota.
Colaboraram Thaís Umbelino* e Bruna Lima
*Estagiárias sob supervisão de Guilherme Goulart

Cuidados

Confira as medidas de segurança oferecidas aos motoristas de transporte por aplicativo:
  • Ao receber chamadas, confira informações básicas, como destino, nota do passageiro e frequência
  • Os motoristas têm a opção de aceitar ou não pagamentos em dinheiro
  • É possível se inscrever em cursos presenciais com orientações sobre segurança
  • O sistema bloqueia chamadas de risco e mapeia zonas perigosas, alertando o condutor
  • É possível acionar um kit de segurança que compartilha a rota em tempo real
Fonte: 99 Pop
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