Número de brasileiros que consideram enviar empresas estatais à iniciativa privada é maior do que há 18 anos, no apogeu do apagão federal
“Irmão, tu não tava em casa”, diz o funcionário dos Correios imortalizado em meu favorito meme de WhatsApp. É engraçado porque parece errado, esquisito — algum tipo de “violação” — e, ao mesmo tempo, aceitável, nada de muito importante — ou seja, algo “benigno”. Uma entrega atrasada pelos Correios, empresa estatal, viola nossa expectativa de bom serviço, mas não é um completo desastre. (Esta definição de humor, chamada de “teoria da violação benigna”, é dos pesquisadores Caleb Warren e Peter McGraw.)
Uma pesquisa recente do Datafolha sobre o gosto do cidadão por privatizações mostra que 33% dos brasileiros topam tornar os Correios uma empresa privada. Nossa ex-presidente Dilma Rousseff (PT) conseguiu a proeza de dizer que “querem transformar os Correios em uma grande Amazon”. Quem dera! A Amazon privatizou a entrega de seus livros através de empresas como a Loggi. Nos Estados Unidos, a multinacional sofre severas críticas por não respeitar direitos trabalhistas — mas aqui essa questão parece secundária.
Dezoito anos depois, os brasileiros estão enxergando melhor que, para muitos serviços, as empresas estatais não dão conta do mínimo que consumidores esperam. O carteiro do meme está perdendo a graça.
*Sérgio Praça é professor e pesquisador da Escola de Ciências Sociais do FGV CPDOC. Realizou mestrado e doutorado em Ciência Política pela USP e pós-doutorado pela FGV EAESP. É autor, entre outros, de “Guerra à Corrupção: Lições da Lava Jato” (Ed. Évora, 2017).