quarta-feira, março 27, 2024
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“Engordou após bariátrica? Tem que morrer”: o que é gordofobia médica

Após bailarina de Anitta mover processo contra nutricionista, pacientes obesos relatam ofensas que já ouviram de profissionais da saúde

 

No começo da semana, Thais Carla anunciou que resolveu mover uma ação judicial contra uma nutricionista que teria difamado a imagem dela nas redes sociais. Segundo a bailarina plus size da cantora Anitta, a profissional teria dito que ela presta um “desserviço à população” por conta de seu peso.
A discriminação pelo peso feita por profissionais da saúde tem nome: se chama gordofobia médica e é mais comum do que se imagina. O paciente não recebe os pedidos de exame ou tratamento adequado porque o médico assume que o problema está no peso. Foi o que aconteceu com a artesã autônoma Patrícia Oliveira, de 32 anos. Após torcer o tornozelo, ela visitou um ortopedista, que orientou que ela perdesse 10 quilos em uma semana antes de pedir exames:

Expliquei para ele que não sentia dores antes de tropeçar, insisti para que pedisse uma radiografia, mas ele ignorou. Disse que, além de perder 10 quilos, eu teria que fazer uma redução de seios, pois era isso que causava a dor. Nunca mais voltei lá”
Patrícia Oliveira
‘Quem engorda depois de bariátrica merece morrer’

Raquel Guimarães, psicóloga clínica e criadora da página “Meu Querido Corpo”, explica que o receio da paciente em voltar ao consultório médico é bastante comum, e é aí que os verdadeiros problemas de saúde começam: “Quando falamos em gordofobia médica, estamos falando na exclusão do paciente em ter acesso à saúde, o que infringe uma série de direitos assegurados para todos. Já ouvi relatos de mulheres que ficaram 4 anos sem ir ao ginecologista porque não eram escutadas.”

A profissional autônoma Renata Costa quase colocou a saúde em risco por ter sofrido uma situação traumática no consultório. “Procurei uma endocrinologista para iniciar um processo de emagrecimento. Ela mal me deixou falar e já me receitou sibutramina (remédio para ansiedade com efeito de emagrecimento). Voltei depois de um mês com apenas cinco quilos a menos e ela disse: ‘Vou te mandar para a fila da bariátrica, mas já tenho certeza que será reincidência (reganho de peso pós cirurgia), pois você claramente é compulsiva alimentar e vai voltar a ser gorda.” A médica ainda teria finalizado: “Vê se segue tudo à risca, porque odeio atender reincidente, se engorda depois de uma bariátrica, realmente merece morrer.”
‘É pela sua saúde’

A psicóloga Raquel Guimarães explica que saúde e beleza são conceitos deturpados quando o assunto é gordofobia. “A discriminação vem disfarçada de preocupação com a saúde, mas são apenas diversos comportamentos e crenças que servem para excluir as pessoas. Se assumimos que um corpo magro é associado ao controle por alimentação e exercícios, o corpo gordo é um corpo entendido como uma pessoa que não se controla, o que é subversivo para o imaginário social.”

Por ser uma pessoa pública, Bianca recebe todos os tipos de comentários em suas fotos no Instagram, inclusive ofensivos.
“Parem de falar que isso é bonito”, escreveu uma seguidora. “Isso não é bonito. Isso faz mal pra ela.”
Consciente da agressão, a influenciadora explica a agressão da internauta sem rodeios: “Ela usa a desculpa de estar preocupada com a minha saúde para desestimular as pessoas a me elogiarem sobre a minha beleza, como se aumentar minha autoestima fosse me fazer querer cuidar menos do meu corpo. Do meu ponto de vista, é justamente o contrário: quanto mais eu me amo, mais eu quero me cuidar, me sentir bem, cuidar do meu corpo e mente. ”

Veja, abaixo, alguns sinais de que você pode ter sofrido gordofobia médica

  • Quando todo tipo de sintoma que o paciente relatar for automaticamente relacionado ao peso

  • Quando o paciente seja uma recusa do médico a passar exames básicos de rotina

  • Quando o paciente sente que o profissional reluta em examiná-lo ou passar por algum procedimento por conta do seu peso

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