Suicídios de agentes de segurança no Brasil crescem 140%, aponta estudo

Em novembro do ano passado, a PM de São Paulo recebeu uma ligação de uma mulher que estava desesperada porque seu marido havia acabado de atirar contra a própria cabeça, dentro de casa, em Potim, cidade próxima ao santuário nacional de Nossa Senhora Aparecida. Quando os PMs e ambulância chegaram ao local, identificaram a vítima como sendo um primeiro-sargento da PM paulista. Sua mulher afirmou que ele passou o dia inteiro ingerindo bebida alcoólica em uma roça. Chegou em casa e, com problemas pessoais, decidiu se matar.

O primeiro-sargento que se suicidou faz parte de uma estatística alarmante. Pesquisa divulgada hoje pelo Gepesp (Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção) aponta que, entre 2017 e 2018, mais que dobrou o número de agentes de segurança pública que se mataram no Brasil. Em 2017, foram registrados 28 casos contra 67 em 2018 (alta de 140%). O número inclui suicídios e homicídios seguidos de suicídios (quando a pessoa assassinou alguém antes de se matar). O levantamento, coordenado por Dayse Miranda, doutora em Ciência Política, inclui profissionais da Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros Militar, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal.

Além dos suicídios consumados, também houve aumento na tentativa de suicídios. Em 2017, houve seis registros. Em 2018, 14. Embora o Gepesp monitore esses números desde 2013, os dados só podem ser comparados entre 2017 e 2018.

Para os casos de suicídio consumado e tentativa de suicídio, os problemas de saúde mental foram os mais citados como motivadores. Já para os casos de homicídio seguido de suicídio, os conflitos conjugais e o término de relacionamentos amorosos predominam. Quanto ao perfil das vítimas, o levantamento aponta que a maioria é do sexo masculino, com a idade média de 39 anos e que exerce funções operacionais distintas. Entre policiais militares, 80% das vítimas são praças, ou seja, com os cargos mais baixos dentro da corporação. Já na Polícia Civil, os cargos mais vulneráveis ao comportamento suicida são os inspetores de polícia.

A arma de fogo é o principal meio utilizado pelas vítimas nas quatro categorias de análise do estudo: suicídio consumado, tentativa de suicídio, homicídios seguidos de suicídio e morte por causa indeterminada. “Esse dado evidencia que toda ação preventiva ao suicídio entre profissionais de segurança pública deve considerar o fácil acesso à arma de fogo como fator de risco”, diz o levantamento.

Das 53 mortes por suicídio, metade aconteceu dentro da casa da vítima. Os casos de tentativa de suicídio seguiram o mesmo padrão. Mas 15% do total de mortes por suicídio informadas em 2018 ocorreram no ambiente de trabalho. “O comportamento suicida entre profissionais de segurança pública não é reconhecido como um tema de agenda pública no Brasil. Esse fato compromete não somente a produção de conhecimento científico sobre o tema, como também a formulação de políticas públicas e institucionais de saúde mental a partir de dados empíricos confiáveis”, aponta o estudo.

https://tv.uol/17nKi

 

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