Autossabotagem: entenda como pensamentos gordos atrapalham a dieta

A forma de pensar sobre o próprio corpo pode ser aliada ou inimiga para manter metas. Autoconhecimento é essencial, dizem especialistas

 

Já ouviu falar de “pensamento de gordo” ou “pensamento de magro”? Muitas vezes, a forma como encaramos a rotina alimentar pode atrapalhar nossos objetivos, seja a meta de perder, manter ou ganhar peso.

Especialistas afirmam que frases como “vou comer porque eu mereço”, “segunda-feira começo a dieta” ou “já exagerei no almoço, vou comer o que quiser no jantar” são raciocínios associados ao controle que a pessoa tem sobre o impulso de comer — ou seja, como essa pessoa se comportará diante do alimento. E mais: isso não tem nada a ver com o peso ou com a forma corporal que se tenha.

A primeira explicação para tais pensamentos é biológica. Áreas cerebrais pertencentes ao sistema límbico são responsáveis pela recompensa. Caso exista um estímulo com uma recompensa imediata — como uma panela de brigadeiro, por exemplo — a pessoa com o “pensamento gordo” escolherá comer todo o conteúdo da panela. Quem explica é Renata Figueiredo, médica psiquiatra associada da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). “Já a pessoa com o ‘pensamento magro’ sabe que a recompensa a longo prazo é maior, e consegue se controlar diante do estímulo comida.”

O ato de comer compulsivamente ou simplesmente ser incapaz de resistir a um docinho pode ser sinal de refúgio de ansiedades e angústias, segundo Renata Figueiredo. É muito comum, especialmente em pessoas ansiosas ou deprimidas, descontar frustrações em alimentos calóricos. “Mesmo com todo o esforço para perder peso e conseguir uma nova silhueta, essa pessoa pode manter essa sensação de recompensa quando come”, detalha. “Por isso a importância de buscar prazer em atividades saudáveis.”

Outra explicação para tais pensamentos é comportamental, e envolve o histórico de vida e familiar da pessoa. Fábio Aurélio Costa Leite, psiquiatra do Hospital Santa Lúcia Norte, explica que a autoimagem e o peso corporal estão intimamente ligados. “Todas as questões relacionadas ao corpo, como se a pessoa é muito alta, baixa, magra ou gorda, passam a ser formas de identificá-la no grupo”, justifica. “A pessoa perde a identidade do nome e começa a ser vista pelo peso corporal. Tanto o pensamento de ‘ser magro’ quando o de ‘ser gordo’ começa a ser impresso na cabeça do indivíduo.”

Isso explica, por exemplo, porque pacientes bariátricos podem voltar a ganhar peso com o tempo. A obesidade, nesses casos, não é uma doença que compromete só o corpo, mas também a mente, “gerando os mesmos pensamentos de quando o paciente estava acima do peso”, frisa Fábio Leite. Quando o indivíduo é considerado magro demais para os padrões da sociedade, acontece o mesmo: mesmo ao atingir o peso considerado ideal, a pessoa continua a ter as mesmas inseguranças de quando era “muito magro.”

Isso porque o cérebro guarda informações que permaneceram por mais tempo na nossa vida, explica o psiquiatra Fábio Leite. “Embora o paciente bariátrico, por exemplo, se veja magro depois da cirurgia, o pensamento que vigorou em sua cabeça por mais tempo foi o de que ele é uma pessoa gorda”, completa o médico. “O corpo muda primeiro, mas o pensamento demora mais.”

O ambiente familiar é outro fator que influencia na ocorrência dos tais pensamentos de gordo ou de magro. O histórico alimentar da família, as regras de alimentação à mesa, restrições e até mesmo piadinhas envolvendo a imagem corporal influenciam nos pensamentos futuros — consequentemente, na autoimagem.

O importante, segundo a psicóloga Larissa Alves Pereira, é descobrir qual a raiz dos pensamentos obsessivos e/ou compulsivos. “Claro que existem disfunções ou distúrbios, como obesidadeanorexia e bulimia, mas, em geral, o fator principal é como a pessoa está se sentindo naquele momento. Por que eu como? O que estou tentando saciar? É importante responder a essas perguntas”, pondera.

Praticar o autocontrole, portanto, só é possível após o entendimento do que está causando a compulsão. A comida, alerta Larissa Pereira, pode transformar-se em um vício tão complicado quanto a bebida alcoólica e as drogas. Depois de identificar a causa, a dica é pensar em estratégias para acabar de vez com pensamentos desanimadores e de autossabotagem. “Que tipo de recompensa posso ter no lugar da comida?” e “o que me faz comer?” são ótimos questionamentos para começar a investigação, segundo a psicóloga.

Descobrir outros prazeres além da comida é outro passo importante para não transformar a alimentação ou a imagem corporal em algo opressivo. “Essa percepção de engordar ou emagrecer é uma questão de estética. Hoje em dia, a beleza estética considerada correta é a magra, mas seu corpo é a sua percepção de mundo e de você mesmo, independentemente disso”, diz Larissa Pereira. “O importante é estar bem consigo mesmo.”

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