Secretaria quer aprovar Lei do SIG sem estudo de impacto de trânsito

Especialistas temem que o já caótico setor fique ainda pior com a intenção do GDF em permitir construções mais altas na região

 

As alterações no Setor de Indústrias Gráficas (SIG) propostas pelo Governo do Distrito Federal (GDF) que chegam à Câmara Legislativa (CLDF) nesta semana convidam a uma reflexão. De especialistas a usuários, todos querem saber: com o adensamento após a extensão das atividades permitidas e o aumento do potencial construtivo, onde caberão tantos carros?

O próprio secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Mateus de Oliveira, admite que o estudo sobre impacto na mobilidade do setor nem sequer foi apresentado até agora, mesmo após aprovação do Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal (Conplan). O problema é que o projeto de lei complementar está na iminência de tramitar na CLDF e, se for aprovado, será o último passo para que as modificações sejam implementadas.

Além de margear o Eixo Monumental, o SIG fica a poucos metros do Parque da Cidade, símbolo da escala bucólica de Brasília. Conceito usado pela arquitetura e pelo urbanismo, as escalas de Brasília – bucólica, monumental, residencial e gregária – definem a identidade da capital reconhecida mundialmente como Patrimônio Cultural da Humanidade.

Temerário

O governo prevê o aumento do potencial construtivo do setor ao permitir que as edificações passem dos atuais 12 metros de altura para 15 metros. Na prática, a medida significa a criação de um pavimento a mais. Assim, um empreendimento que abriga, por exemplo, 200 funcionários por andar e tem hoje quatro níveis, poderia, com as novas regras, ampliar seu corpo de pessoal em 25%.

Além disso, o GDF quer aumentar para até 200 as atividades econômicas permitidas na região. Originalmente, o setor foi idealizado para abrigar gráficas, mas ali são autorizadas também atividades bancárias, de serviços financeiros e de radiodifusão, além de pequenos comércios e serviços que apoiam esses segmentos.

Para o especialista em transporte da Universidade de Brasília (UnB) Flávio Dias, é temerário o governo apresentar projeto de tal envergadura deixando em segundo plano a mobilidade urbana. “Como o Executivo encaminha uma proposta tão importante sem a conclusão de estudos básicos do plano viário? O SIG já funciona de forma estapafúrdia e ainda querem expandir ainda mais o local? Quais são os planos para a falta de estacionamentos? Quais são os projetos para revitalização das calçadas? Essas questões elementares precisam ser respondidas”, critica o docente.

Mas a situação no quesito mobilidade não é ruim apenas para quem está de carro. Um levantamento de 2018 do servidor público e criador do blog Brasília para Pessoas – que se dedica à defesa de um trânsito com menos veículos –, Uirá Felipe Lourenço, revela as dificuldades enfrentadas pelos pedestres. “No Setor de Indústrias Gráficas, faltam calçadas e sobra lama no caminho dos pedestres”, escreve.

Problema de uns, lucro de outros

Cansada de se estressar por não encontrar vaga na região onde trabalha, a empresária Sirleide Alves, 50 anos, inova com uma placa fixada no para-brisa na qual avisa: “Boa tarde! Deixei meu carro atrás do seu. Caso precise sair, estou aqui do lado”. À reportagem, ela desabafa: “É insuportável estacionar aqui”.

O autônomo Romário Gomes, 33, faz uma previsão negativa sobre o trânsito caso a mudança de gabarito seja aprovada na CLDF. “Tem que regularizar os estacionamentos. Se não, a bagunça será maior ainda”, assinala.

Hoje motorista de aplicativo, o ex-taxista Paulo Germano, 45, conta que é cada vez mais comum transportar passageiros para o SIG, porque as dificuldades de estacionar o automóvel são conhecidas. “Aqui constroem os prédios, mas não se preocupam com os carros dos funcionários. Não tem garagem para esse povo todo”, pontua.

Achar um lugar público e gratuito para deixar o carro é demorado e estressante. Enxergando a dificuldade dos motoristas que passam pelo SIG, atores da iniciativa privada exploram o negócio de aluguel de espaços para veículos. Na mesma rua da CLDF e do TRE-DF, por exemplo, um edifício nobre oferece vagas ao custo de R$ 150 a R$ 200 por mês. Modelo semelhante existe ao lado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT).

O outro lado

Em nota, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) reconhece que não há levantamento concluído sobre as consequências no trânsito. Segundo a pasta, há um projeto de renovação urbana em andamento.

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