Cafeicultor do DF é reconhecido nacional e internacionalmente

Economista aposentado começou a cultivar cafeeiros quase que por acaso e, hoje, acumula prêmios, chamando a atenção de apreciadores e distribuidores da bebida estimulante. Em outubro, vai a NY concorrer a concurso internacional

 

Ele é o primeiro representante do Centro-Oeste a figurar entre os três primeiros da seleção nacional. “Costumam dizer que, no Brasil, esse é um prêmio de paulistas e mineiros. Na edição do ano passado, teve 37 mineiros, dois paulistas e eu do DF entre os finalistas”, observa. “Eu não podia imaginar esse potencial.” O motivo da conquista? Até ele não sabe direito. No entanto, seu Coutinho atribui o sucesso às características do DF, à gestão e à equipe de confiança: um total de cinco trabalhadores rurais que está com ele há mais de 20 anos, fora as mulheres, responsáveis pela cozinha. “Eu pesquiso, leio muito, mas não adianta a teoria sem prática, que é feita pelos empregados”, aponta. “Se o café colhido não é mexido, passa um ou dois dias sem mexer, perde a qualidade. E eu não vou ficar fiscalizando se eles (os funcionários) fizeram isso, não tenho nem tempo. Mas aqui eles abraçam a causa e fazem direito. É uma relação de confiança”, descreve.
Ele também reconhece a importância de contar com um bom agrônomo. “Além disso, estamos numa das melhores regiões para a produção. Todos os cafés top do mundo são produzidos acima de 1 mil metros de altitude. Nós estamos acima de 1 mil metros”, diz. “Temos uma grande vantagem com relação a localidades famosas, como a Colômbia e o sul de Minas: lá chove o ano inteiro. Aqui, chegou maio, não chove mais”, percebe. “E o café, quando está pronto para ser colhido, se pega chuva, fermenta, e a qualidade desaparece.” Por tudo isso, seu Coutinho acredita que o potencial dos produtores do Centro-Oeste precisa ser mais valorizado e difundido. Hoje, os números são expressivos. No Lago Oeste, ele, que mora na Asa Norte, tem uma propriedade de 300 hectares, dos quais 60 são cultiváveis. Em Brazlândia, são mais 40 hectares. No total, entre as duas propriedades, há 300 mil pés. As vendas chegam a render R$ 600 mil por ano.

Carreira

Funcionário do Banco do Brasil desde 1964, ele veio para Brasília em 1983 para continuar trabalhando na instituição. Aqui, acabou passando por outros órgãos. Foi um dos fundadores da Secretaria do Tesouro, em 1986, e, quando se aposentou, estava no Ministério da Fazenda. Depois de se aposentar, atuou ainda na Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e na União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). Ele e a esposa, Laíse Coutinho, 72, comemoraram bodas de ouro recentemente. Os dois foram colegas de escola no ensino médio e têm ainda outras características em comum: ela também é economista e servidora aposentada do Banco do Brasil. Juntos, têm três filhos, servidores públicos, e sete netos. Natural da cidade de Patos, na Paraíba, e o sétimo filho de um produtor rural e comerciante de gado, seu Coutinho tinha afinidade com o campo e adquiriu uma propriedade no Lago Oeste em 1988.
Durante seis anos, experimentou trabalhar com gado leiteiro. No entanto, o negócio só trouxe prejuízos. “Foi um desastre. E gerava até briga em casa: minha mulher dizia que todo dinheiro que eu ganhava eu gastava com as vacas. Comprei vacas caras e puras de origem num leilão em Pindamonhangaba, mas eu não tinha estrutura para isso. Além disso, o preço do leite estava em queda naquela época e quebrou muita gente”, reflete. No fim, ele acabou vendendo o rebanho para abate. Foi então que seu Coutinho começou a pensar em outra atividade e, por sugestão de um empregado, resolveu investir no café. Como não entendia do assunto, procurou um amigo da área para pedir indicação de onde adquirir os pés. “Eu queria plantar umas 300 mudas, e ele pediu o endereço da fazenda”, relata. O paraibano foi surpreendido, então, com um caminhão contendo cerca de 3 mil mudas de café arábica de alta qualidade.
A maior parte dos pés, até hoje, são daqueles recebidos do amigo. “Foi assim que eu me tornei produtor de café”, conta. Seu Coutinho procurou apoio de um agrônomo, da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal) e da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que foram cruciais para auxiliá-lo. Além disso, sempre foi curioso, fazendo pesquisas na internet, participando de cursos e se informando sobre o assunto. Ao longo do tempo, precisou adquirir conhecimento não só sobre o plantio em si, mas também sobre as burocracias envolvidas na comercialização. “Já tive algumas confusões legais. Por exemplo, para mandar café de um estado para o outro, é preciso pagar ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Da primeira vez, não recolhi e tive meu produto recusado”, lembra.

Reconhecimento

Com o passar dos anos, aumentou tanto a quantidade quanto o nível da produção. “Um agrônomo bebeu e chamou de ‘bebida mole’, eles têm essa expressão que eu não sabia o que era. Eu fiquei quieto para não dar atestado de desconhecimento, mas depois acabei perguntando e descobri: quer dizer café excelente, da melhor qualidade.” Foi a partir disso que o agrônomo sugeriu que seu Coutinho enviasse a produção para a empresa italiana de torrefação de café Illy. A companhia é especializada em produção de expresso, paga um bom valor aos produtores, mas é exigente, só aceitando grãos superiores. Na primeira tentativa, o agrônomo não chegou a mandar o lote para a firma italiana por perceber que a umidade estava muito alta.
Alguns pés de café passam dos 3m de altura(foto: Clara Lobo/Esp.CB/D.A Press)
Alguns pés de café passam dos 3m de altura(foto: Clara Lobo)
“O café fica guardado em armazéns, então, se fica úmido, apodrece”, esclarece. A meta passou a ser, assim, reduzir a quantidade de água nos grãos. Seu Coutinho começou a fornecer sacas para a Illy em 2010 — da Itália, o café chega a 140 países. “Quando me ligaram da empresa, disseram que o meu café era um dos melhores que eles já tinham provado. Nunca esqueci isso”, recorda. Em 2013 e em 2014, ele ganhou os prêmios de melhor café do Centro-Oeste do Prêmio Regional Illy de Qualidade Sustentável do Café Expresso. No ano passado, veio uma conquista maior: tornou-se o primeiro produtor de café do Centro-Oeste a ser um dos 40 finalistas do 28º Prêmio Ernesto Illy, uma premiação nacional.
Seu Coutinho pede mais valorização para o café produzido no DF(foto: Clara Lobo/Esp.CB/D.A Press)
Seu Coutinho pede mais valorização para o café produzido no DF(foto: Clara 
Depois de mais uma etapa da seleção, os três finalistas (os outros dois são de Minas Gerais) conhecerão a ordem de classificação entre eles em Nova York, representando o Brasil na competição internacional. O trabalho dele também foi reconhecido várias vezes pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). Com isso, muitos apreciadores e distribuidores de café procuram seu Coutinho para conseguir o pó. No entanto, diferentemente de algumas outras unidades da Federação, no DF, o produtor rural é impossibilitado de torrar e moer o produto para vender. A fim de suprir essa demanda, a esposa e os filhos dele estão montando uma empresa de distribuição, que se chamará Café Minelis. Por enquanto, estão na fase de formalização e não há previsão de lançamento.
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